PEDRO ROCHA |
Hoje em dia torna-se cada vez mais recorrente ouvir falar de destruição de património. Entre as várias causas para a destruição de património estão demolições, negligência, catástrofes naturais e hoje mais do que nunca atos terroristas que destroem património. Como exemplo posso referir o incidente ocorrido na estação do Rossio em Lisboa com a estátua de D. Sebastião que ficou completamente destruída quando um jovem decidiu subir a esta para tirar uma selfie. Um incidente deste tipo é totalmente imprevisível e causa perda de um património que é comum a todos. A sensação que fica é que aquilo que foi perdido jamais pode ser restaurado, reconstruído de tal forma que não existe forma de voltar a reaver o objeto perdido. Existem sempre os restauros, mas muitas vezes estes podem adquirir também um carácter subjetivo.
Recorrendo a novas tecnologias, um dado objeto pode no entanto ser totalmente preservado quer a nível geométrico quer a nível de cor. Uma das tecnologias mais conhecidas que se tem revelado de extrema importância para reconstrução virtual de património é a fotogrametria. Esta técnica revela-se de extrema importância no que diz respeito a digitalização de património que foi perdido. O tipo de objetos que podem ser considerados com esta técnica vão desde estátuas e relevos até edifícios. A fotogrametria encontra-se, no entanto, dependente da existência de todo um conjunto de fotografias em torno do objeto considerado e pode é disponibilizada por vários tipos de software sendo alguns deles até disponíveis para smartphones. O princípio básico da fotogrametria é bastante simples de se entender e pode ser explicado com 4 passos:
· Inicialmente são tiradas várias fotos de vários ângulos em torno do objeto;
· As imagens são processadas por um software específico para criar uma nuvem de pontos;
· A partir d nuvem de pontos o software cria uma superfície virtual;
· São criadas as texturas para um modelo 3D do objeto considerado;
Reconstrução virtual da estátua de D. Sebastião |
O processo de fotogrametria que a partida poderá parecer complexo é bastante simples de utilizar e pode ser utilizado para diversos fins práticos. Um modelo virtual de um objeto que se encontra destruído pode até ser impresso recorrendo a uma impressora 3D, recuperando a sua forma geométrica existente da destruição. Vários são os casos em que uma reconstrução virtual pode ser feita. A imagem anexa exibe a reconstrução virtual da estátua de D. Sebastião em Lisboa que se encontra a ser realizada por um grupo MESH e que será brevemente publicada no site https://mesheritage.wordpress.com/. O objetivo deste trabalho é o de recolher a maior quantidade possível de fotos com recurso a várias fontes incluindo fotos de turistas para que seja possível a preservação tridimensional da geometria existente antes da destruição da estátua. Um maior número de fotos vai corresponder sempre a uma melhor aplicação da fotogrametria e consequentemente melhor qualidade final na reconstrução virtual.
Os mais conservadores podem sempre alegar que o objeto físico será aquele que tem real importância, e nalguma extensão até têm razão uma vez que nada poderá jamais substituir o objeto verdadeiro, aquele que tem uma determinada historia e que como tal é considerado o “verdadeiro”. No entanto acho que num caso como o ocorrido em Lisboa em que existe um património que foi perdido mais vale sempre ter uma cópia do que ficar a com um nicho vazio de uma estátua que já não existe e que facilmente cai no esquecimento de gerações futuras.
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