ELISABETE SALRETA |
A Blue veio cá para casa com um mês e 4 dias. Muito pequena mas já com o seu feitio muito especial.
Adormecia no meio das brincadeiras e nas posições mais engraçadas. Por vezes púnhamos almofadas e peluches à sua volta para que ficasse mais confortável. E segura.
O tempo passou, ela cresceu e hoje é uma gata de uma beleza admirável.
Mas existe uma coisa que recordo com muito carinho e procuro sempre que existe um momento entre nós. O seu cheiro característico. Sim, como todos os bebés ela tinha um cheirinho especial . Ainda tem um aroma doce, próprio da sua pele. Procuro-o no pescoço como o fazia à minha filha e faço ao Óscar.
Para as mães, sentir aquele aroma é um momento de apego e ternura. Uma conecção nunca cortada.
É. Eles são nossos filhos. Afinal, de uma forma ou de outra nós fomos busca-los à mãe deles. Então, temos de cumprir o seu papel. Se os educamos, algumas vezes com um enxota moscas de alerta, se nos parte o coração quando estão doentes, também guardamos amorosamente momentos e ternuras.
Da Blue guardo muitas ternuras. Muitas diabruras. È uma menina muito inteligênte e isso deve-se ao facto de ter sido estimulada. Tal como a um bebé.
Guardo a recordação de ver a minha filha deitada no sofá com ela a dormir em cima dela, durante duas horas, porque sua excelência adormecera a morder-lhe uma narina, e a Helena não se queria levantar para não a acordar. Lembro-me das vezes que nos usurpou os cobertores, e tivemos de ir buscar uma manta. Lembro-me dela a saltar para o cimo do armário da sala do meu irmão e deambular por entre as garrafas de coleção e a minha mãe de mãos na cabeça a jurar-lhe pela pele. Juro que ela tinha uma expressão de riso, plena satisfação pelo controle de uma situação que fazia desconforto aos seus tutores. Facto é que nenhuma garrafa foi ao chão. E só deixou de o fazer quando a minha mãe deixou de ralhar. Já não tinha tanta piada. Lembro-me das vezes que me foi chamar porque esqueci-me de uma panela ao lume. Lembrome do tão vulnerável que estava quando esteve doente e teve de ser operada. Estreve 13 dias sem se levantar da cama. Dormia entre o cobertor e o endredão e antes de eu sair de casa, deixava-lhe um saco de agua quente, dentro da cama, nas suas costas. Levavamos a comida à cama e ajudava-mos nas suas necessidades. A minha filha começou a dizer que ela estava a aproveitar-se da situação. Será? Lembro-me da minha filha se queixar porque eu arranjava o peixe grelhado à gata, mas não o fazia a ela. Não tinha tempo para tanto. Acho que a Helena queria que o fizesse primeiro a ela, e o descontentamento era um pouco de ciume, como a um irmão. Lembro-me do modo como a Blue olha para os seus cabelos longos quando se penteia. O engraçado que é ela pedir a opinião da gata para o modelito a vestir no dia seguinte. E a gata responde. Têm uma linguagem muito delas. Assim que a Helena chega a casa com uma coisa nova, mostra à gata e pede opinião. É uma união extraórdinária. Lembro-me dos seus olhos negros de ternura e do seu corpo termente quando se abeira de mim para mamar no meu pescoço. Ela precisa, noto essa necessidade que quando se espaça mais no tempo, temos como retorno o seu mau feitiu e desalento. Lembro-me de tantas outras coisas.
Parecem loucuras. Mas tal como nas crianças, se não dermos espaço a essas loucuras, não temos o que contar, não é?
Hoje, acorda-me com uma festa na boca, passando com toda a suavidade, aquela pata peluda. Depois, assim que me mexo, esfrega-se em mim num bom dia que não pode significar mais do que alegria. Quem tem um animal em casa, com o qual se importe, dará toda a importância a estes pequenos nadas. Fazem-nos tão bem!
"Quem tem um animal em casa, com o qual se importe, dará toda a importância a estes pequenos nadas. Fazem-nos tão bem!" Isto para dizer que a Blue deve ter ficado feliz pela homenagem que fez a ela. Parabéns por mais este artigo, poetisa Elisabete Salreta!
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