CATARINA RITO |
David Ferreira nasceu em Aveiro, estudou na Escola Árvore, no Porto e escolheu continuar a sua formação em Londres, nas universidades de Saint Martin’s School e Westminster. A visão criativa e artística deste jovem designer chamou a atenção dos professores ingleses que o desafiaram a participar nos concursos V Files (Nova Iorque/EUA) e Fashion Scout (Londres/Reino Unido). Venceu ambos e ganhou a oportunidade de ser agenciado em Nova Iorque e Paris, durante um ano, e de desfilar nas semanas de moda de Nova Iorque (Setembro 2015) e de Londres (Fevereiro 2016). Em Portugal, integra o calendário da Moda Lisboa, na Plataforma Lab, desde março.
Aos 26 anos, escolheu Lisboa para abrir o seu primeiro atelier, base criativa das coleções que quer dar a conhecer dentro e fora de Portugal, porque “agora é o momento de explorar as minhas ideias, que são muitas, e de as mostrar. É fascinante perceber como um jovem como eu afinal tem talento e alguma coisa a dizer no mundo da moda”, desabafa o designer de moda David Ferreira à Notícias Magazine. Um dos motivos que o levou até Londres para estudar foi o facto de ter sentido, e ouvido, limitações criativas na Escola Profissional Árvore, no Porto, de necessitar de aprender mais sobre desenho, modelagem, corte e estética. “A escola Árvore é muito boa, no entanto, limitadora. Tenho uma linguagem muito própria, não necessariamente original ou inovadora, mas é a minha. Precisei e preciso de estar em contacto com pessoas que me ajudam a perceber se a minha visão faz ou não
sentido, apesar de poder ser redundante esta ideia de uma ‘visão’. A verdade é que acabei por perceber que estou no caminho certo para fazer o que quero, para concretizar uma determinada visão sobre o próprio design”, e de facto, designers como Iris Van Herpen, Giles Deacon ou Meadham Kirchhoff trabalharam com David ajudando-o a desenvolver as suas técnicas para conseguir desenvolver novas silhuetas que “libertam a mulher da sua forma natural, dando corpo a uma visão moderna do conceito Couture”. Criar peças que apelam ao desejo de mulheres incomuns, seguras do seu estilo e um particular gosto por roupa que permite a extensão de si mesmas, unindo a ténue linha que existe entre a moda e a arte. “Não procuro a vulgaridade. Procuro ideias que levam a mulher a ter uma atitude mais afirmativa na sociedade, sem medo de chocar, mas acima de tudo com vontade de se diferenciar das massas. Sei que idealizo uma mulher muito especial e que sei que existe em maior numero do que se possa pensar”, frisa o designer. Em seis meses, David Ferreira apresentou o seu trabalho em duas distintas plataformas de moda, mostrando que o talento nacional é precioso e tem futuro. Durante os anos em que estudou nas escolas inglesas a sua nacionalidade nunca foi um entrave, antes pelo contrário, “o importante era mostrar que se tinha valor e alguma coisa para dar à moda”, salienta. Gosta de criar sem limites, cada ideia é estudada e explorada sem pensar na pressão da comercialização, uma preocupação que surge ‘a posteriori’. “A partir de uma imagem, uma conversa,
uma personagem da sociedade atual ou passada avanço para o desenvolvimento do que pode vir a ser a coleção. Quando está bem estruturada, passo para os materiais, as cores e, então, para a adaptação de algumas sugestões num formato mais comercial, mais cativante à consumidora final”. Vive em viagens constantes, entre Lisboa, Londres, Madrid, Paris e Nova Iorque, mas o seu atelier fica na Rua Rodrigues Sampaio, 21 - 6 D, o espaço “perfeito para criar, produzir e atender clientes”. Conta com a ajuda de Pedro Barbosa, “a pessoa que tem a visão contextualizadora da coleção, quer ao nível da imagem, do styling, do desfile, catálogos”. Estreou-se na Moda Lisboa de Março, no Espaço LAB, e em Outubro voltou a desfilar a sua coleção SS 2017. A cantora Bjork já usou uma das suas peças e aguarda novas sugestões do designer, um nome que já chamou a atenção de Anne Quay (fundadora do concurso Vfiles), Riccardo Tisci ou Mel Ottenberg. O conceito da marca é assumidamente arrojado, alternativo e moderno, recriando o universo da alta costura sem ignorar uma postura artesanal na forma como interpreta determinados artefactos, não descarta a hipótese de vir a ter uma linha de homem no futuro.
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