GABRIEL VILAS BOAS |
O jornalismo de investigação volta ao fulgor do final século passado e começa a pôr em cheque os podres poderes do mundo que caem sempre na mesma tentação. Enquanto por todo o mundo, vários jornalistas trataram de pôr ao sol as offshores do Panamá, onde todas as fortunas mundiais se escondiam dos impostos que os pobres tinham de pagar, em Itália, o jornalista Emiliano Fittipaldi investigava a fundo as finanças do Vaticano e descobria material nojento e putrefacto que resolveu mostrar ao mundo através do seu livro “Avareza”, publicado novembro de 2015, em Roma, e cuja tradução para português está há poucos dias disponível.
Fittipaldi esteve esta semana em Lisboa para falar do seu livro, onde factos assustadores são apresentados com pormenor e sustentação documental.
Fittipaldi revela que alguma da cúria vive no mais pornográfico luxo à custa das esmolas que os crentes de todo o mundo canalizaram para os pobres.
Alguns números:
- em 2012, as esmolas confiadas à Igreja Católica para ajudar os pobres totalizaram 53,3 milhões de euros, mas nem 30% deste valor foi gasto em obras de caridade. A Cúria romana gastou mais de 40 milhões do enorme bolo de generosidade para satisfazer os luxuosos prazeres de cardeais, para comprar ações, para investir em imóveis como se de uma agência financeira se tratasse;
- A Santa Sé possui obrigações, ações e ativos financeiros em seu nome ou por conta de terceiros controlados por si, que excedem os oito mil milhões de euros!!!
- o cardeal Bertone vive num apartamento luxuoso pago com dinheiro do Vaticano e chegou a desviar 200 mil euros destinados a um hospital pediátrico para aplicar em obras de remodelação do seu apartamento;
- o Banco do Vaticano é altamente suspeito de participar em ações de «lavagem» de dinheiro (dinheiro proveniente do tráfico de armas, da droga ou da prostituição)
- o Vaticano que recolhe cêntimo a cêntimo por todo o mundo em nome da pobreza mundial, possui mais de cinco mil prédios espalhados pela europa. Só em Inglaterra as suas propriedades estão avaliadas em 25,6 milhões de euros; na Suiça, o valor sobe para 27,7 milhões de euros e no conjunto França/Itália atinge astronómicos 342 milhões de euros!
E como reage o Vaticano às acusações de Fittipaldi? Não as refuta no conteúdo, mas coloca o seu autor em tribunal por "revelar informação confidencial que põe em perigo os interesses da Santa Sé”.
Quando não se consegue matar a mensagem, mata-se o mensageiro.
Que vergonha para a Igreja! Que vergonha para o Papa Francisco! O Vaticano está a reagir a estas acusações da pior maneira possível. A única maneira de reagir era mostrar contas, revelar interesses, explicar para onde vai o dinheiro que, com dificuldade, milhões de crentes confiam aos padres de cada paróquia.
O problema da seriedade económica é tão ou mais relevante que o cancro da pedofilia dentro da Igreja católica. E este foi e é um problema monstruoso dentro da Igreja Católica, cujos tentáculos obrigaram Bento XVI a abdicar. Francisco só tem um caminho: o da verdade pura e crua. Depois há que tomar medidas duras e implacáveis.
Fittipladi diz que o Papa Francisco quer acabar com estas práticas mas não quer que o escândalo se saiba em toda a sua extensão. Pensa mal o Papa Francisco. Como muito bem sabe qualquer sacerdote, a força do arrependimento está na plena assunção da culpa. Assumir a culpa só enfraquece a Igreja numa fase inicial, pois o efeito principal será o da purificação.
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