DR UEFA |
A primeira fase de grupos de sempre, mas na qualificação
GONÇALO NOVAIS |
À terceira edição, o número cada vez mais alto de participantes (31 na edição de 1968) obrigou a uma redefinição da estrutura da fase de qualificação, contemplando-se desta feita uma fase de grupos inicial, constituída por sete grupos de quatro equipas e um de três, de onde sairiam os oito apurados para os quartos-de-final (os primeiros de cada grupo, claro está), que por sua vez iriam apurar as já habituais quatro selecções para a fase final, que à semelhança do sucedido nas duas edições anteriores, mantinha o mesmo formato competitivo.
No Grupo 1, a campeã europeia em título Espanha, recheada de jogadores experientes de alto nível, faz valer a sua consistência colectiva como factor diferenciador em relação às adversárias. Com um sector recuado onde começava a despontar o médio-defensivo/defesa-central Gallego (Barcelona), e um meio-campo ofensivo onde o jovem Pirri (Real Madrid) foi uma das revelações da fase de qualificação espanhola, a campeã europeia não deixou de ter uma pontinha de sorte na última jornada, quando a Checoslováquia perde em casa contra a República da Irlanda quando uma vitória dos checoslovacos (que aliás foram os únicos que infligiram uma derrota aos espanhóis na fase de grupos) seria suficiente para afastar precocemente a Espanha da fase seguinte. Mas tal não aconteceu, e a Espanha apurou-se para os «quartos», com a particularidade de não ter ganho nenhum jogo fora de portas. Todavia, os espanhóis foram imbatíveis em casa, derrotando, para além dos dois adversários acima referidos, a Turquia.
No Grupo 2, que analisaremos mais em detalhe à frente por ser o grupo de Portugal, a Bulgária aproveita a inconsistência lusa para categoricamente vencer o grupo e apurar-se para a fase seguinte. Foi precisamente nos dois últimos jogos da fase de grupos, realizados ambos contra Portugal, que os búlgaros, vencendo em casa e empatando no Jamor, selaram o primeiro lugar no grupo. A Asparuhov sucedem dois artilheiros que se revelaram fundamentais no apuramento búlgaro: o médio Dinko Dermendjev (Botev Plovdiv) e o avançado Petar Zhekov (Beroe), que marcaram metade dos golos búlgaros no grupo.
A URSS domina a seu bel-prazer o Grupo 3, onde praticamente selou o apuramento graças a vitórias concludentes nas quatro primeiras jornadas. Quando a Áustria inflige à quinta jornada a primeira derrota aos soviéticos, já só um milagre afastaria a URSS da fase seguinte. Em Atenas, na última jornada, e apenas para dissipar as dúvidas, Eduard Malofeev marca o único tento de uma partida que confirma a selecção do Leste na fase seguinte.
O Grupo 4, o único disputado a três equipas, ficou marcado pela disputa entre a Jugoslávia e a República Federal da Alemanha, cujo confronto directo foi favorável aos alemães, que venceram em casa por 3-1 após uma derrota por 0-1 em Belgrado. Acabaria por ser surpreendentemente a Albânia, que nem um golo marcou, a ditar o desfecho do grupo, impondo um nulo aos alemães que os afastou dos «quartos», com menos um ponto do que os jugoslavos. Fica para a história a primeira aparição do enorme avançado Gerd Muller (Bayern Munique), tendo apontado cinco golos nos três jogos realizados.
O crescimento e amadurecimento futebolístico da nova geração de futebolistas húngaros também se fez notar no domínio exercido no Grupo 5, com jogadores como os defesas Kálmán Ihász e Mészoly (ambos do Vasas) e os já conhecidos Ferenc Bene (Ujpest) e Flórián Albert (Ferencvaros), a juntarem-se ao goleador János Farkas (Vasas) a superiorizarem-se a uma difícil concorrência formada pela Rep. Dem. Alemanha, Holanda e Dinamarca.
Também foi sem grandes problemas que a Itália de Dino Zoff (Nápoles), Luigi Riva (Cagliari) ou Angelo Domenghini (Inter) ultrapassou um grupo onde apenas os jogos fora diante da Roménia (1-0) e da Suíça (2-2) constituíram um desafio aos transalpinos. Vitória clara no Grupo 6, no qual também esteve o Chipre.
À França valeu no Grupo 7 a dupla vitória da Polónia diante da Bélgica, única selecção do grupo que tirou pontos aos gauleses (1-1 em França e vitória belga por 2-1 em casa), e que poderia ter comprometido a passagem francesa à fase seguinte. No entanto os franceses estiveram irrepreensíveis nos restantes desafios (todos concluídos com vitória francesa), e passaram à fase seguinte.
O Grupo 8 teve uma particularidade engraçada, que foi a de ser composto por quatro selecções das ilhas britânicas, mais concretamente Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Apesar de uma qualificação nada fácil, marcada por uma derrota caseira em Wembley diante da Escócia (2-3), a campeã do Mundo Inglaterra, com jogadores experientes e de grande nível como Gordon Banks (Stoke), Ray Wilson (Everton), Bobby Moore (West Ham) ou o mítico Bobby Charlton (Manchester United), iria acabar por se qualificar para a fase seguinte com quatro vitórias, um empate e uma derrota nos seis jogos realizados.
O apuramento dos quatro semifinalistas
Pode dizer-se que os quartos-de-final tiveram quatro eliminatórias muito bem disputadas, de grande intensidade e imprevisibilidade, entre oito das melhores selecções mundiais, a maioria das quais já com um currículo apreciável em provas internacionais.
A eliminatória que opunha a campeã mundial Inglaterra à campeã europeia Espanha era talvez a de maior cartaz das quatro, tendo começado da melhor maneira os ingleses ao conquistarem uma vitória de 1-0 na primeira mão em Wembley, graças ao tento de Bobby Charlton aos 83 minutos. Os ingleses mantiveram-se em bom nível na segunda mão, num jogo tremendamente difícil no Santiago Bernabéu. Amancio ainda inaugurou o marcador e fez transbordar de esperança os muitos milhares de espectadores que lotaram a capacidade do recinto, mas o competente médio Martin Peters e o defesa-central Norman Hunter operaram a reviravolta e afastaram os campeões europeus em título da competição.
Tentando fazer esquecer a má campanha do Mundial de 1966, a Itália impôs-se à Bulgária numa eliminatória difícil, em que a Bulgária de Dermendjiev, Zhekov e Asparuhov até venceu o jogo da primeira mão em Sófia por 3-2, beneficiando os italianos de um autogolo do búlgaro Dimitar Penev. Foi em Nápoles que Domenghini e Pierino Prati (que já tinha marcado na Bulgária) fixaram a reviravolta no «play-off» e levaram a equipa de Ferruccio Valcareggi à fase final.
A Jugoslávia também se apuraria para a final com um categórico triunfo caseiro por 5-1 frente à França. Ilija Petkovic e Vahidin Musemic (que passariam mais tarde pelo futebol francês) bisariam na partida, cabendo a Dragan Dzajic (um dos melhores futebolistas da história da Jugoslávia) o outro golo. Em França, na primeira mão, registara-se um empate a um golo.
Resta falar da eliminatória que opôs húngaros e soviéticos, na qual os golos de Farkas e Gorocs sem resposta na primeira mão de nada valeram face aos 3-0 aplicados pela URSS em Moscovo, apurando-se o primeiro campeão europeu de sempre para mais uma fase final.
As atribulações da fase final: moedas ao ar e desempate na final
As cidades italianas de Roma, Nápoles e Florença foram as escolhidas para acolher a fase final da prova, que nas meias-finais teve logo a sua primeira grande peripécia. No jogo inaugural entre Itália e URSS, a sorte da eliminatória foi decidida através da solução “cara ou coroa”, que determinou aquele que iria vencer o «play-off». Após um empate a zero, os italianos viram a sorte sorrir-lhes, eliminando um poderoso adversário por uma questão não de superioridade desportiva, mas de simples aleatoriedade.
O mesmo não sucedeu em Florença, onde o herói jugoslavo Dzajic coloca a sua equipa com um tento solitário aos 86’, aproveitando o facto de os britânicos jogarem com menos um homem, por expulsão de Alan Mullery. Os campeões do Mundo iriam contudo sair vencedores do jogo de atribuição do 3º e 4º lugares, derrotando a URSS (2-0) com golos de Bobby Charlton e Geoff Hurst.
A final precisou de dois jogos para se decidir, sendo que no primeiro de ambos, realizado no dia 8 de Junho de 1968, o Olímpico de Roma percebeu o porquê de a Jugoslávia ter chegado tão longe. As combinações tácticas de grande qualidade, protagonizadas principalmente por Trivic e Dzajic, foram uma constante ao longo de todo o jogo, e só a grande exibição do guardião Dino Zoff e o potente remate de livre de Domenghini a dez minutos do fim evitaram a derrota italiana em plena final, diante do seu público.
Dois dias depois, o Olímpico presencia um jogo bastante diferente, opondo uma Itália bem mais agressiva e com maior intensidade no seu processo ofensivo, a uma Jugoslávia a uns furos abaixo do que tinha produzido dois dias antes. Um golo aos 12’ de Riva, aproveitando um passe/remate de um colega que o veio apanhar completamente desmarcado no centro do ataque, e um grande remate de Anastasi aos 33 fixam o resultado final e a conquista do primeiro título de campeã europeia da sua história à Itália.
A participação portuguesa no Euro’ 1968
Decepcionante. Após a fabulosa campanha do Mundial de 1966, esperava-se que a selecção nacional confirmasse, perante Bulgária, Suécia e Noruega, superioridade suficiente para, pelo menos, conseguir chegar aos quartos-de-final.
A surpreendente derrota na jornada inaugural frente à Suécia (1-2) foi o primeiro sinal de que a campanha não iria ser fácil. Sem jogadores como Simões ou Torres e com um desinspirado Eusébio em campo, até foi Jaime Graça a inaugurar o marcador no Jamor aos 21 minutos. Porém, o médio sueco Inge Danielsson tinha outros planos, e com um «bis» operou a reviravolta completa no marcador.
Na segunda jornada em Estocolmo, o golo do portista Custódio Pinto quase ia rectificando o desaire inicial, mas aos 90 minutos a Suécia “rouba” a vitória aos portugueses, graças a um golo de Ingvar Svensson.
Foi nos dois jogos seguintes com a Noruega que Portugal tirou a barriga de misérias, com duas vitórias pelos mesmos números (2-1). Em Oslo, Eusébio marcou os dois golos da equipa das quinas, enquanto que nas Antas coube a Torres e Jaime Graça darem a vitória às nossas cores.
As derrotas da Suécia por números expressivos diante da Bulgária (0-2 e 0-3) e da Noruega (1-3) deixaram os suecos com um «goal-average» desfavorável em relação a Portugal, que assim teria uma oportunidade para depender de si próprio ao ponto de, frente à Bulgária, poder conseguir o apuramento, ainda que quase obrigatoriamente precisasse de vencer os dois jogos, o que não parecia de todo impossível aos 3ºs classificados do último Campeonato do Mundo. Porém, a derrota na Bulgária (0-1) transformou o último jogo, no Jamor, num mero jogo de cumprimento de calendário.
E já lá iam três fases finais de Europeus sem presença portuguesa.
Nota: Este artigo foi realizado graças à informação facultada publicamente pela UEFA, no seu site oficial.
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