PAULO NETO |
Vivemos tempos de uma imensa efemeridade. E “efémero” é o que dura um dia…
O consumismo selvagem, como arma dos mercados, instituiu a premência da desactualização e a necessidade da renovação. Tudo se torna demasiado descartável. No mundo dos objectos e no domínio das pessoas. Tudo se desgasta muito depressa. Até os afectos.
Todavia, o que menos hoje perdura é a actualidade da notícia. Os mass mediatornaram-se uma espécie sui generis de predadores, na caça constante de um título chamativo, estimulador da atenção fatigada do destinatário. Daí que, fantásticos – e por vezes fantasiosos – factos se desmesurem na galáxia comunicacional, espécies de Ícaros a voar ligeiros para o sol e a cair lestos com a força da gravidade.
Os meios de comunicação social estão fartos de ler os mercados e de conhecer os gostos do consumidor. E a realidade mais clara é que o consumidor nacional é estapafurdiamente acrítico, razoavelmente aliterado e pouco dado a reflexões sobre o que lhe é servido enquanto notícia. Um nadador de superfície e remansosas águas, com 50 cm de profundidade.
Na ementa, escolhe um bom título, a imagem suculenta do beef e, de preferência o sangue a escorrer do quase-cru-tártaro. E ainda assim, aceitando a vertigem global do sempre-novo, num ápice se desmemoria da última novidade, ciente de que o cardápio tem centenas de propostas, sempre confeccionadamente renovadas. Mesmo se com os mesmos padrões e mínimas variáveis.
O orgão de comunicação social, por seu turno, encara esta realidade de um público sem causas, aderente a todas elas, signatário de todas as petições, capaz de todas as indignações mas, mais agastado pelo fino mal tirado e pela piresqualidade dos tremoços. Daí, a regra de platina: dar ao público o que ele deseja consumir. Há alternativas e resiliências, mas geralmente acabam na insolvência.
Mesmo tablóides como alguns que quotidianamente encabeçam o topfive das preferências lusas, vendendo em quantidade o lixo espúrio social, acabam por estar crivados de dívidas de milhões, à banca, segurança social, autoridade tributária e outros mais. E com estranha impunidade…
Uma nova era se inaugura neste tempo em que a ampulheta se cansou da lentidão. O da avidez do novo, do sensacional, do diferente, do exclusivo, da desgraça e do mal. E há que procurar os ingredientes a todo o vapor. A caldeira precisa de lenha nova para queimar. Ou apaga-se. Andamos a Mach 1, ou 1.225 Kms/h.
Por tudo isto e muito mais, a maior notícia sobrevive pouco tempo ao tempo. A fauna política foi a primeira beneficiária dessa rotineira amnésia e constatação, jogando com ela a bel-prazer, com pouco pudor e com muito descaro. Depois, a notícia tornada fogo-fátuo, perdeu a sua essência poderosa de alerta da consciência pública e tornou-se uma variante da “presspipole”, perdidas as causas, focada apenas nos imediatos efeitos, incipientemente abordada e rapidamente ultrapassada/demodada.
O esquecimento é hoje uma defesa orgânica contra a poluição “comunicacional”. A modos que um anti-spam que vai reservando um giga no disco rígido para preservação e manutenção da sanidade do utente.
E se há ainda um punhado selectivo e criterioso de receptores, são mais os emissores e suas esconsas cruzadas ao serviço das mais estranhas e inauditas “fés”.
O público exige, o público tem. Nero foi um pioneiro Murdoch clássico e percebeu-o à saciedade. No Coliseu e na cidade de Roma em chamas…
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