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Fase de grupos sem «play-off» a caminho de um novo Europeu
Foi muito simples a organização desta fase de qualificação, contemplando sete grupos (um de oito equipas e todos os outros de sete), nos quais eram apurados directamente os dois primeiros classificados de cada grupo, perfazendo um total de 14 equipas que se iriam juntar às anfitriãs Suíça e Áustria na fase final, em 2008.
A Polónia qualifica-se pela primeira vez para a fase final no Grupo A, apresentando um futebol bastante razoável, por vezes de grande qualidade no seu processo ofensivo, mas nem sempre seguro na parte defensiva. Smolarek, avançado do Bolton, e o médio-ofensivo Kuba, do Dortmund, eram os jogadores com mais potencial de uma equipa que ainda usufruía da experiência e valor de homens como Krzynówek, Wasilewski ou Zurawski. No segundo lugar passaria, após uma qualificação com algumas perdas de pontos, Portugal passaria no segundo lugar com uma selecção ainda construída em torno de muitas importantes figuras de 2004, já a necessitar de alguma renovação, e acabaria por fazer uma fase de qualificação com algumas perdas excessivas de pontos, que não impediriam o apuramento para a fase final. O central Bruno Alves, o lateral Bosingwa e os extremos Nani e Quaresma eram as jovens figuras em destaque na equipa de Scolari durante a fase de qualificação.
No Grupo B Itália e França mereceram os dois primeiros lugares, com os transalpinos a manterem a competência defensiva habitual (presença de Buffon, Materazzi, Zambrotta, Barzagli ou Cannavaro), com um médio de classe mundial na organização do jogo ofensivo e defensivo como era Pirlo, e com um goleador Luca Toni que aparece algo tarde no seu percurso desportivo, mas a um grande nível. Na França Henry e Anelka continuam a ser os “matadores” de uma equipa que já pouco tem a ver com as gloriosas selecções de entre 1998 e 2000, mas que apesar de tudo vinha de uma boa campanha no Mundial’ 2006, onde perdeu apenas na final, caindo precisamente aos pés da Itália. Ribéry ou Malouda eram os novos motivos de interesse numa equipa em que os experientes Gallas, Makélélé ou Vieira ainda eram jogadores regularmente escalonados pelo seleccionador Raymond Domenech.
No Grupo C a Grécia mostra, com uma excelente campanha de oito vitórias e um empate em dez partidas, que o sucesso de 2004 não foi conseguido por acaso. Ainda orientados pelo alemão Otto Rehhagel, mentor da conquista europeia dos helénicos, os gregos apresentam-se um sector defensivo ainda mais competente, com jogadores de nível competitivo mais elevado do que quatro anos antes (juntamente com Dellas apareciam Torosidis, Seitaridis ou Kyrgiakos), e com um ataque mais concretizador (não havia agora apenas Charisteas, mas também Gekas, Liberopoulos e Amanatidis), e a “ligar” tudo isto estavam no meio-campo Katsouranis, Karagounis ou Giannakopoulos, num excelente colectivo. A Turquia selou o apuramento em Oslo, ao bater a sua directa perseguidora Noruega (2-1), tendo Emre, os Altintop (Hamid e Hamit), Tuncay ou Mehmet Aurélio como principais figuras, naquela que já era uma terceira pouco surpreendente participação.
Podem ter saído de cena Poborsky e Nedved, mas a República Checa faria mais uma excelente campanha de qualificação, mantendo Koller e Baros como referências importantes no momento da finalização, com Rosicky e Plasil a serem os municiadores de um ataque que até nos menos utilizados Kulic (Sparta Praga) e Lafata (Áustria Viena) teve eficazes finalizadores. Visivelmente a evoluir estava agora a Alemanha, que durante a qualificação proporcionou importante espaço competitivo a jovens atletas como Mertesacker, Lahm, Schweinsteiger, Podolski ou Mario Gomez, que juntamente com os mais experientes Ballack ou Frings, formavam uma selecção trabalhada competentemente em termos de modelo de jogo, além de muito eficaz no aproveitamento das respectivas oportunidades de criar perigo e marcar golo. Tinha evoluído muito esta selecção em quatro anos, e acompanhava os checos numa nova aventura europeia.
O Grupo E ficou marcado sobretudo pelo afastamento da Inglaterra, que ficaria na terceira posição final, atrás da líder Croácia (equipa com uma qualidade colectiva muito alta, apresentando um estilo de jogo muito orientado para assumir a iniciativa de jogo e atacar objectivamente as balizas contrárias, e onde se destacaram defesas como Srna e Corluka, médios como o jovem Modric, ou avançados de grande potencial como o brasileiro naturalizado Eduardo da Silva e Mladen Petric) e da Rússia (excelente trabalho de Guus Hiddink na potenciação de uma geração inteiramente nova de futebolistas de grande nível, com Arshavin como grande figura de uma excelente selecção).
No Grupo F a Espanha, mais uma vez com uma equipa muito prometedora, surgia com um modelo de jogo organizado em tornos de princípios sólidos, tentava não apenas redimir-se da má campanha de 2004 como também afirmar dentro de campo o potencial futebolístico que lhe era reconhecido. Raúl não era já a “estrela” da equipa, onde surgiam jogadores tão marcantes e valiosos como Sergio Ramos, Iniesta, Xavi, Xabi Alonso, Fabregas, Fernando Torres, David Silva ou David Villa, e com um experiente Casillas, do alto dos seus 25 anos. Com um estilo de jogo marcado por processos mais simples e objectivos, tentando ter eficácia mas sem a mesma qualidade técnica no passe e circulação do esférico, a Suéciasentiu-se cómoda o suficiente para se apurar sem grandes problemas, beneficiando da segurança defensiva dada por Isaksson ou Mellberg, e da capacidade de Kallstrom e Ljungberg de municiarem um ataque onde Elmander e Allback foram os melhores marcadores, numa campanha em que Ibrahimovic não marcou um único golo.
Termina a análise com o Grupo G, com o apuramento da Roménia (Mutu estrelava uma equipa formada por muitos jogadores oriundos de equipas como o Steaua e o Rapid Bucareste, a realizarem campanhas interessantes nas competições europeias) e da discretaHolanda (que podia levar ao Europeu uma nova geração de talentos como Van Persie, Robben ou Sneijder).
A consagração de um grande colectivo
Em mais uma organização a dois de uma fase final, as cidades suíças de Berna, Zurique, Basileia e Genebra, e as austríacas de Viena, Salzburgo, Innsbruck e Klagenfurt recebiam as 16 equipas participantes entre os dias 7 e 29 de Junho, num mês verdadeiramente repleto de futebol.
O Grupo A era o grupo da selecção da Suíça, e também nele estava a nossa selecção, que nas duas primeiras jornadas resolveu a passagem aos quartos-de-final. Num reencontro com a Turquia oito anos depois, mais uma vitória por dois golos sem resposta, com uma bonita combinação entre Nuno Gomes e Pepe a dar origem ao primeiro golo, e com Raúl Meireles, perto do fim do jogo, a concluir com sucesso um contra-ataque letal dos portugueses. Depois foi a vez da “vingança” diante da República Checa, com Cristiano Ronaldo em destaque, com um golo e uma assistência para o tento de Quaresma, com Deco a marcar o outro dos três, respondendo os checos com um golo de Sionko. Tendo República Checa e Turquia derrotado a Suíça, eram as duas primeiras que iriam discutir o segundo lugar em Genebra. Tendo começado melhor, os checos chegaram a ter uma vantagem de dois golos, obtidos por Koller e Plasil, mas em quatro anos muita da magia e capacidade da selecção checa de 2004 já não estava presente, e provavelmente terá sido assim que a Turquia, com um grande final de jogo, deu a volta com um golo de Arda Turan e dois de Nihat, com Petr Cech a não ficar bem no golo do empate turco. À Suíça valeu a consolação de ter ganho a um Portugal com muitas alterações no onze e já com o primeiro lugar seguro – os dois golos da partida foram marcados por Hakan Yakin.
O Grupo B ficou com a classificação final fundamentalmente definida com a vitória da Croácia (2-1) sobre a Alemanha em Klagenfurt. Uma boa finalização de Srna após excelente cruzamento de Pranjic, e um ressalto feliz que sobrou para a finalização eficaz de Olic valeram à Croácia a vitória sobre uns germânicos com alguma dificuldade no desenvolvimento do seu processo ofensivo, e cujo golo de honra foi marcado por Podolski. De resto, croatas e alemães contariam por vitórias os outros dois jogos realizados com Áustria e Polónia, que resultaram na eliminação do segundo anfitrião, que assim se juntava à Suíça no rol de eliminados na fase de grupos.
No Grupo C a Holanda, depois de uma fase de qualificação nem sempre fácil, consegue disfarçar a ausência de um sector defensivo de excelência com um poderio ofensivo bem trabalhado e inspirado, com o quarteto formado por Van der Vaart, Kuyt, Sneijder e Van Nistelrooy, com alternativas de luxo como Robben ou Van Persie, foram espalhando classe num grupo mais do que complicado. A Itália seria a primeira vítima, despachada em Berna com uns concludentes três golos sem resposta, da autoria de Van Nistelrooy, Sneijder e Van Bronckhorst. De seguida foi a vez da França, com goleada de 4-1 na qual Henry ainda colocaria a França a perder apenas por 1-2, após os golos Kuyt e Van Persie; porém, Robben e Sneijder fixariam o resultado final, restando derrotar a Roménia na derradeira ronda, com golos de Huntelaar e Van Persie sem resposta.
A Itália seguiria para a fase seguinte graças a uma vitória na última jornada, com Pirlo (de penalty) e Daniele de Rossi a marcarem os dois únicos golos do encontro, em Zurique.
Espanha, Rússia e Grécia voltavam a encontrar-se na fase de grupos de um Europeu quatro anos depois, juntamente com a Suécia.
A liderança do Grupo D acabaria por ser muito influenciada pela goleada inicial da Espanha à Rússia (4-1), com David Villa em destaque com um «hat-trick», com a Suécia também a começar bem diante de uma Grécia a quem o Europeu não correria tão bem como em Portugal. Ibrahimovic e Hansson seriam os autores dos dois golos suecos, sem resposta dos gregos.
Nas duas jornadas seguintes, a qualidade da circulação de bola dos espanhóis (com Xavi e Iniesta como elementos fundamentais neste plano), aliada à capacidade finalizadora de Fernando Torres e David Villa, ajudaram a selecção do país nosso vizinho a fixar o apuramento diante da Suécia (2-1), com a vitória por idêntico “score” perante a Grécia a ser obtida com algumas alterações na equipa em jogo.
Muito bem esteve igualmente uma das selecções mais interessantes em prova. Com Arshavin e Pavlyuchenko a trazerem mobilidade e capacidade finalizadora à frente de ataque, bons organizadores de jogo ofensivo a meio-campo como Bilyaletdinov, Zyrianov, Semak ou Semshov, e flanqueadores em excelente momento de forma como Anyukov e Zhirkov, a selecção russa apresentava o seu melhor futebol desde a queda da URSS, e sob uma excelente orientação do holandês Guus Hiddink. Em Salzburgo venceriam a desinspirada Grécia (1-0) e no jogo decisivo frente à Suécia de Ibrahimovic, nova vitória por dois golos sem resposta, e mais do que merecido apuramento para os quartos-de-final.
O sonho português ficaria desfeito nos quartos-de-final, aos pés da sólida Alemanha, pragmática mas competente e eficaz. Os golos de Nuno Gomes e Hélder Postiga (já perto do fim), foram insuficientes para travar o domínio dos germânicos, que com toda a justiça ultrapassariam os finalistas vencidos de 2004, com Schweinsteiger, Klose e Ballack a marcarem os três golos da vitória da Alemanha.
Todos os outros jogos tiveram que ser decididos em tempo adicional. Num jogo entre duas equipas de grande qualidade no seu processo ofensivo, a Rússia acabou por ser mais consistente no prolongamento, com Torbinsky e Arshavin a levarem os russos para as meias-finais, após um jogo equilibrado com 1-1 no final dos noventa minutos.
Numa espécie de final antecipada, os espanhóis só conseguiriam resolver a contenda com Itália nas grandes penalidades, após um jogo em que os comandados de Luis Aragonés revelaram algumas dificuldades na hora de encontrar espaços e criar oportunidades conducentes à concretização de jogadas de perigo. Fabregas converteu a grande penalidade decisiva, aproveitando da melhor maneira o falhanço de di Natale.
Contra a previsão mais expectável, a Turquia surpreenderia a Croácia em Viena, com Rustu a ser o herói de uma equipa combativa e com alguma qualidade técnico-táctica que estava em competição no certame. Não foi um jogo bem conseguido por parte da equipa onde brilhavam Modric, Rakitic, Kranjcar ou Olic, que teria enormes dificuldades contra Rustu, que defenderia três das grandes penalidades convertidas pelos croatas. Já os turcos bateriam por três vezes Pletikosa, o que foi suficiente para fechar as contas do apuramento.
Já nas meias-finais, uma Alemanha aparentemente aquém da sua melhor forma, com alguns problemas defensivos e com dificuldade em assegurar a fluidez do seu processo ofensivo, acabaria por vencer a Turquia mesmo sem estar no melhor das suas capacidades (3-2), num jogo em que a organização defensiva de ambas as equipas e cada um dos guarda-redes esteve longe do seu melhor.
Bem melhor esteve a Espanha, que só não foi além dos 3-0 porque Akinfeev esteve em grande plano na baliza russa. Fluidez e imprevisibilidade no processo ofensivo garantiram um domínio demolidor dos espanhóis, face a uma Rússia que, tendo saído dominada categoricamente, deixou uma boa imagem na prova. A sublinhar apesar de tudo a única má notícia para os espanhóis, que foi a lesão do seu influente avançado David Villa, que não poderia jogar a final.
Em Viena, no dia 29 de Junho de 2008, a Espanha confirmou a superioridade do seu futebol mais imprevisível, tecnicamente mais evoluído, com uma excelente capacidade de manutenção de posse de bola e qualidade da sua circulação, perante uma Alemanha algo atabalhoada na forma como se tentava projectar em direcção à baliza espanhola. O golo de Fernando Torres, ainda na primeira parte, constituiu a materialização de um domínio que só não foi avassalador no respeitante ao resultado obtido, muito por culpa da boa prestação de Lehmann, e de algumas bolas nos ferros da baliza alemã.
Contudo, no final, ganharia a Espanha com justiça, afirmando todo um estilo, toda uma identidade de jogo, ao serviço da construção de uma equipa ganhadora, que continuaria a confirmar o seu estatuto para lá do continente europeu.
Nota: Este artigo foi realizado graças à informação facultada publicamente pela UEFA, no seu site oficial.
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