NORBERTO PIRES |
A indústria do calçado passou por uma fase muito
complicada na década de 1990 e início do novo do novo milénio, mas soube
reestruturar-se, planear a sua atividade, definir planos estratégicos a médio e
longo prazo, procurar novos mercados, andar pelo mundo e procurar
oportunidades. Fez tudo bem, resolveu os seus problemas estruturais e começa a
ter resultados. Esta indústria vale hoje (dados de 2014) mais de 1,884 mil
milhões de euros (valor bruto da produção), o que corresponde a 75 mil pares de
sapatos, envolve mais de 1700 empresas, divididas entre fabricantes de calçado,
de componentes e de curtumes, emprega mais de 40 mil pessoas (já foram quase 60
000 na década de 90, mas tem vindo a recuperar desde 2011), registam um
produtividade crescente, em pares de sapatos produzidos por trabalhador e em
valor bruto produzido por trabalhador (VBP, o qual atingiu um máximo histórico
em 2014), e exporta mais de 96% da sua produção, o que corresponde a mais de 75
mil pares de sapatos e cerca de 1,845 mil milhões de euros, para mercados
competitivos como o Italiano, Francês, do Norte da Europa, etc.
Uma evolução notável a todos os níveis.
No emprego (fonte APICCAPS):
Na Produtividade (fonte APICCAPS)::
Na contribuição que dá para as contas externas
nacionais. Em 2014 esta sector foi, mais uma vez, a indústria com saldo
comercial mais elevado na economia portuguesa, apresentando uma taxa de
cobertura das importações pelas exportações de 411% (Fonte APICCAPS):
Mas se analisarmos o índice de vantagem
comparativa revelada, isto é, se comparamos o peso do calçado nas exportações
do país com o seu peso nas exportações mundiais, Portugal destaca-se
relativamente a todo o mundo, não tendo ninguém que se aproxime na Europa.
Muito significativo (fonte APICCAPS):
Sendo uma indústria centrada essencialmente no
norte do país (Felgueiras, Guimarães, Feira, Oliveira de Azeméis, etc.), foi
capaz de se modernizar e reestruturar a sua força de trabalho, apostando na
formação, na qualidade e qualificação dos colaboradores.
São números impressionantes e que mostram bem o
caminho que deve ser seguido em Portugal. Um país que detesta planear, olhar
para o futuro e definir objetivos estratégicos e planos a médio e longo prazo,
fazendo as reformas necessárias para os fazer funcionar. A indústria do calçado
reestruturou-se, olhou para a concorrência, e para o mercados que podia
conquistar. Melhorou a sua eficácia e a sua capacidade de inovar. Recusou
competir pelos preços e pelos baixos salários. Quis inovar, diversificar e
arriscou liderar. Anda pelo mundo à procura de alternativas e de oportunidades.
Pensa global e está consciente dos perigos, sabe as regras do jogo e não tem
medo, porque se prepara, estuda e sabe do negócio.
Neste momento são estes os nossos desafios.
Considero imprescindível, como já referi várias vezes, que o país aposte em si
próprio, nas capacidades que foi capaz de desenvolver e recuse, sem margem para
dúvidas, uma política de baixos salários, desinvestimento na educação, ciência
e investigação e desenvolvimento. Deve ser exatamente ao contrário, deve
reestruturar-se por completo, mudando radicalmente a forma como elege, com
decide, como avalia, como forma e ensina, como apoia, como julga e como
trabalha. Deve colocar o foco nas suas mais-valias, capacidade de sacrifício,
capacidade inovadora, qualidade de território e. Desperdiçou, em grande parte,
os fundos comunitários que teve à sua disposição. Mas realizou ações que podem
agora ser colocadas ao serviço de uma estratégia de futuro para o país. Os
novos fundos são essenciais, e o seu planeamento e execução são críticos para o
nosso futuro coletivo.
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