quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O SONHO TORNADO REALIDADE

LUÍSA VAZ
Portugal perdeu, nas últimas horas, mais uma das suas referências sociais e empresariais. A grande maioria de nós cresceu a ouvir falar de Belmiro de Azevedo e já todos fomos pelo menos uma vez a uma das lojas do Grupo Sonae para onde entrou em 1960, já licenciado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) em Engenharia Química, e cujo controlo assumiu em 1974.

A empresa era propriedade de Pinto de Magalhães, uma figura proeminente da economia portuguesa e os contornos dessa subida galopante de Belmiro de Azevedo nunca foram, nem serão esclarecidos.

Originário do Marco de Canaveses, vem muito novo para o Porto onde para além de estudar ingressa na antiga Efanor e mais tarde passa para a Sonae que na altura era uma pequena empresa que atravessava dificuldades e que Belmiro não só reabilitou como transformou num império

Com um passado modesto, filho de uma costureira e de um carpinteiro, subiu às suas custas a escada do sucesso. Quando entra para a Sonae em 1974 para o cargo de Director de Investigação e Desenvolvimento, Belmiro não sonhava que daí a três anos a empresa sofreria a expansão e crescimento a que todos assistiríamos.

Em 1985, a Sonae abre o primeiro hipermercado português em Matosinhos, o primeiro Continente de uma enorme cadeia que hoje se estende por todo o território nacional. Começa ai a sua grande aposta no retalho e a grande viragem do que fora uma pequena empresa agora transformada em Grupo empresarial. Com a abertura deste hipermercado é marcado o início da Sonae Distribuição e todo um novo mundo se abre para a empresa.

Nunca lhe foi conhecida nenhuma filiação política e provavelmente devido ao cargo que ocupava sempre se tentou posicionar com discrição e isenção. Foi o primeiro empresário português a lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) a uma outra empresa portuguesa por valores ainda hoje considerados astronómicos. Essa operação hostil foi travada pela Golden Share que o Estado português detinha e que José Sócrates utilizou através da Caixa Geral de Depósitos que enquanto accionista podia chumbar a operação mantendo assim a PT na alçada do Estado.

Belmiro assume este risco numa altura em que os negócios da Sonae já se estendiam a outras áreas de intervenção: na comunicação social, o Grupo detinha o jornal Público, nas telecomunicações deteve a Optimus, no turismo com investimentos no Tróia Resorts e no retalho com marcas como Worten, SportZone, Modelo e Modelo Bonjour, Continente, Vobis e vários centros comerciais espalhados pelo território nacional.

Em 1983 levou a Sonae para o mercado bolsista tendo ficado cotada em bolsa a partir desse momento com um investimento inicial de 500.000 contos, o que equivale a 2 mil milhões de euros actualmente.

Paralelamente a todas estas actividades, Belmiro também actua no lado social. Fê-lo criando a Fundação Belmiro de Azevedo em 1991 tendo esta por finalidade o Mecenato nas áreas da Educação, Cultura, Artes e Solidariedade. Desta Fundação nasce o Edulug, um think tank que atribuí bolsas para projectos de Educação.

Também através desta Fundação, foi criado em 2008 o Colégio Efanor em Matosinhos no local da velha e abandonada fábrica onde iniciou o seu percurso profissional.

Outra área à qual também era sensível era a da agricultura. Nos últimos anos, Belmiro dedicou-se ao sector primário em Portugal afirmando: “Continuarei, também, a dedicar-me ao sector primário em Portugal, incluindo a primeira e segunda transformação de produtos naturais, que considero, como tenho dito muitas vezes, absolutamente crítico para o sucesso do nosso país” explicou na mesma altura.

Considerado tanto cá como lá fora como um empreendedor de excelência com vários méritos e comendas atribuídas bem como uma pessoa audaz e frugal, Belmiro manteve-se simples e sem tiques até ao fim.

Apesar de tudo isto e sendo que Belmiro de Azevedo nunca assumiu nenhuma preferência política nem assumiu nenhum cargo político em todos estes anos, foi simplesmente um empresário, um empreendedor e um mecenas, é triste que hoje a Frente de Esquerda tenha chumbado um voto de pesar pelo seu falecimento.

Belmiro sonhou, ambicionou, trabalhou, conseguiu e concretizou o seu lugar na História de Portugal.

Portugal perde uma figura de excelência. Um exemplo de que é possível subir na vida de forma limpa e desempoeirada. Não deixemos portanto que este exemplo caia no esquecimento.

QUANTOS POBRES FAZ UM MULTIMILIONÁRIO

MOREIRA DA SILVA
No ano passado, cerca de 1% da população mundial era dono de mais de 50% da riqueza total global, embora os multimilionários, com património avaliado em mais de 50 milhões de dólares, representavam apenas 0,001% da população, cerca de 128 mil pessoas em todo o mundo. 

Com um património avaliado em mais de 1.000 milhões de dólares estavam 92 pessoas, que todos juntos tinham mais dinheiro que a metade mais pobre da humanidade, cerca de 3,5 mil milhões de pessoas, que tinham um património inferior a pouco mais de 3.000 dólares per capita e possuíam apenas 2,7 da riqueza global.

Só no último semestre deste ano, a riqueza global cresceu mais de 6% face ao período homólogo do ano anterior, gerando um aumento significativo de milionários, que ascenderam para o número astronómico de 36 milhões em todo o mundo, com patrimónios avaliados entre 1 milhão e 50 milhões de dólares, controlando 46% da riqueza total global e representando apenas 0,7% da população mundial adulta. 

Em Portugal existem mais de 50 mil milionários, com um património avaliado em mais de um milhão de dólares (mais de 940 mil euros), correspondendo a 0,6% da população adulta portuguesa, sendo que 209 pessoas possuem uma fortuna avaliada em mais de 50 milhões de dólares (cerca de 47 milhões de euros), três das quais acima dos 1.000 milhões de dólares (mais de 942 milhões de euros).

Mais de 84% da população adulta portuguesa tem um património inferior a 100 mil dólares (cerca de 94 mil euros), sendo que a maioria dos portugueses (cerca de 58%, que corresponde a perto de 5 milhões de portugueses) tem um património entre os 10 mil dólares (cerca de 9,4 mil euros) e os 100 mil dólares (cerca de 94 mil euros). É à volta de 15% da população adulta portuguesa (cerca de 1,3 milhões de portugueses) que possui um património entre os 100 mil dólares (cerca de 94,2 mil euros) e à volta de 28%, cerca de 2,5 milhões de portugueses possui uma riqueza abaixo dos 100 mil dólares (cerca de 9,4 mil euros) e o milhão de dólares (cerca de 942 mil euros). 

Pode-se afirmar que um multimilionário representa perto de 40 milhões de pobres. Existem países, como a Colômbia, Geórgia e Suazilândia, onde a fortuna de uma só pessoa (de um único multimilionário) podia servir para levantar toda a população do seu país acima do limiar da pobreza durante 15 anos. 



O fosso da desigualdade entre muito ricos e muito pobres continua a aumentar, sem soluções à vista, com pouca ou nenhuma ação, para eliminar ou atenuar o problema, que tem tendência para agravar. Este fosso da desigualdade atingiu um nível tal que apenas 8 multimilionários possuem a mesma riqueza da metade mais pobre de toda a população do planeta.

MORREU BELMIRO DE AZEVEDO

RUI CANOSSA
Portugal perdeu hoje uma das personalidades mais marcantes do século XX português e do início do novo.

A 17 de fevereiro de 1938 nascia no Marco de Canaveses na freguesia de Tuías. Depois de uma escolaridade anormal, em 1963 acaba a sua licenciatura em Engenharia Química Industrial, na Faculdade de Engenharia do Porto. No início do ano, com 26 anos, entra para a SONAE (Sociedade Nacional de Aglomerados e Estratificados), de Afonso Pinto de Magalhães, como Diretor de Investigação e Desenvolvimento. Começa então a recuperação da empresa produtora de painéis derivados de madeira criada em 1959. Em 1973 Belmiro de Azevedo parte para os Estados Unidos, onde irá fazer um curso de “Management Development”, equivalente a uma pós-graduação em gestão. Com o 25 de Abril de 1974, com a queda do Estado Novo e início do sistema democrático em Portugal, Pinto Magalhães vai para o Brasil e a Sonae é alvo de instabilidade política. Em 1978, os trabalhadores da Sonae fazem greve contra o controlo da empresa por parte do Estado, a chamada “greve ao contrário”. A empresa continua privada. É já na década de oitenta que em 1982, Pinto de Magalhães regressa do Brasil, e oferece uma fatia do capital da empresa, 16%, a Belmiro de Azevedo. Acabaria por falecer em 1983, ano em que é criada a Sonae Investimentos, SGPS. Belmiro vai reforçando a sua posição no grupo, que entra depois no mercado de capitais. No ano de 1985, abre o primeiro hipermercado em Portugal, o Continente, em Matosinhos, no âmbito da criação da Sonae Distribuição, uma joint-venture entre a Sonae e a francesa Promodés. Este é também o ano em que Belmiro de Azevedo apresenta um documento histórico e intemporal: “O Homem Sonae”. É neste ano que Belmiro passa a dominar o grupo, com a maioria do capital, e passa a presidente executivo. Chegamos a 1987, este é o ano em que são lançadas Ofertas Públicas de Venda (OPV) sobre sete das empresas da Sonae, e que o próprio grupo caracteriza hoje como “um ato disruptivo para tirar partido do quadro de incentivos à dinamização do mercado de capitais que surpreendeu positivamente o mercado”. Com isso ganha o financiamento necessário para crescer e apostar em novas áreas. Em 1989, depois do turismo e das tecnologias, dá-se a entrada no sector imobiliário, com a Sonae Imobiliária. No ano seguinte, seria a vez de ser lançado o jornal PÚBLICO. Em 1995, com a criação da Worten, entra no mercado do retalho especializado. Dois anos mais tarde, em 1997, ocorre a inauguração do Centro Comercial Colombo, o maior da Península Ibérica. Em 1999, começa a internacionalização deste negócio. Corria do ano de 1998, ano da Expo de Lisboa, e Belmiro de Azevedo e o seu grupo entram no negócio das telecomunicações, com o lançamento da Optimus, disputando o mercado com as duas operadoras que existiam então, a Telecel/Vodafone e a TMN, da PT, que tinham uma dimensão muito superior, e um controlo maior deste mercado de oligopólio. Em 2006, a SONAE entra a todo o gás com o lançamento da Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Portugal Telecom (PT), movimento marcante mas que acaba por ser travado pelo núcleo duro de acionistas da PT, com destaque para o BES, e o Estado (via CGD), que acionam a famosa “Golden Share”. No ano seguinte, Belmiro de Azevedo passa a liderança do grupo a Paulo de Azevedo, um dos seus três filhos, e ocupa cadeira de chairman da Sonae SGPS. Outro marco importante para o grupo ocorre em 2013, pois é anunciada a fusão da Zon (empresa de cabo que saiu da esfera da PT após a OPA) com a Optimus, surgindo a NOS, cujo controlo é dividido entre a Sonae e Isabel dos Santos. Em 2015, Belmiro de Azevedo afasta-se dos negócios, e Paulo Azevedo acumula a função de Co-CEO (Chief Executive Officer) da Sonae com as de Chairman da Sonae Indústria e da Sonae Capital. Aos 79 anos morre um homem que marcou várias gerações. Por ser quem era. Um empresário com letra grande, um visionário, lutador, inovador, um empreendedor. Era a versão portuguesa do “American Dream”, ou, a forma como um homem comum, de origens humildes, se transforma num dos homens mais ricos do país e do mundo. Ocupava a posição 1121 do mundo. Trocava de carro de 14 em 14 anos. Era rico, muito rico, mas não a ostentava. Era um homem culto, em 1975, nos Estados Unidos da América, obteve um diploma de especialização em Gestão de Empresas, na Universidade de Harvard, e, uma década depois, em 1985, diplomou-se no Financial Management Program da Universidade de Stanford. Citava Marx, o pai do comunismo, para dizer que as crises eram oportunidades para regenerar empresas e países. Era um homem polémico, principalmente, quando não concordava com algumas formas de estar, quer na política, quer na economia, quer na própria sociedade. Essa frontalidade valeu a Belmiro de Azevedo inimizades que nunca se deu ao trabalho de evitar. Assim como a derrota, coincidência ou não, em diversas tentativas de realizar negócios nos quais os governos tinham uma palavra a dizer. Foi o que sucedeu nas tentativas falhadas de domínio do Banco Português do Atlântico, de fundir o Continente com o grupo Jerónimo Martins, de ficar na posse da Portucel ou na iniciativa de lançar uma oferta pública de aquisição sobre a PT, o fracasso mais estrondoso, mas aquele que conseguiu provocar mudanças relevantes no mercado de telecomunicações nacional.

Acabo este artigo com uma frase famosa deste homem que me marcou enquanto jovem estudante de Economia do Porto no já longínquo ano de 1989 e que se habituou a seguir o percurso de um homem com esta dimensão.

“Tenho fama de rico, comportamento de pobre. Estou bem assim.”

SOBRE A AMIZADE

RAUL TOMÉ


Quando os mal-entendidos começarem a rodear a tua vida
Quando o desconforto dos comentários alheios se tornar insuportável 
Quando não estiveres feliz com o que estás a sentir
Quando aquele nome te causar incómodo
Fala, porque os amigos não se abandonam.

Quando te sentires a emprenhar pelos ouvidos 
Quando o amor for preterido pela cólera 
Quando não reconheceres os que amas naquilo que te vendem 
Quando o gelo arrefecer o calor das palavras
Fala, porque os amigos não se abandonam.

Quando o raiva te toldar a razão
Quando já nada for como sempre foi
Quando as atitudes te parecerem inusitadas
Quanto a indiferença se tornar rotina
Fala, porque os amigos não se abandonam.

Quando já não sentires saudade 
Quando encontrares aconchego na ausência 
Quando o que vos unia se transformar em distância 
Quando caminhares na estrada que não tem retorno 
Pára, porque onde há amizade, não há abandono.

O BIG BROTHER CONTROLA-NOS OU A PRIVACIDADE QUE ALIENAMOS!

ARTUR COIMBRA
Com alguma arrogância e auto-convencimento, temos a ousadia de supor que somos donos dos nossos destinos e muito particularmente da nossa privacidade.

Acreditamos piamente que esta constitui um reduto inviolável da nossa soberania, enquanto homens e cidadãos.

Gostamos de assumir que os outros, sejam eles quem forem, apenas sabem o que nós deixamos saber.

Pura ilusão, para nosso maior desapontamento!

Vamos deixando a nossa rica intimidade e a nossa benquista soberania denunciada pelo quotidiano dos actos, os mais simples e rotineiros.

Alienamos a nossa privacidade, a nossa liberdade, quando vamos levantar uma nota de 20 euros ao nosso banco. Ou quando fazemos um pagamento usando o sistema multibanco ou o cartão de crédito. Ou quando telefonamos a alguém, ou contactamos um amigo por mensagem electrónica.

Ou quando pedimos factura numa qualquer aquisição em que disponibilizamos os nossos dados.

Ou quando circulamos numa auto-estrada usando a Via Verde.

Ou quando entramos num estabelecimento comercial ou numa rua e os nossos gestos são preventiva e alegremente gravados por uma câmara de vídeo, com a suprema e ridente consolação: “sorria, está a ser filmado”.

Sem o pensarmos verdadeiramente, praticamente todo o nosso comportamento diário, desde que nos levantamos até que nos deitamos, vai deixando pegadas no mundo virtual e através dessas marcas o universo publicitário e outros vão “atacando” os nossos gostos, as nossas manias, até às nossas perversões.

O que nos leva inevitavelmente à questão crucial: afinal, somos ou não donos da nossa privacidade?

Somos ou não somos livres, não na capacidade de pensar, obviamente, mas na de agir autonomamente e sem condicionalismos ou constrangimentos de qualquer espécie?

Concluiria, com alguma nostalgia, sem dúvida, que, em resultado do uso e abuso das ferramentas electrónicas e virtuais em cada momento, muita gente conhece quem somos, o que somos, o que fazemos, onde circulamos.

E quem conhece, controla, condiciona, regula, limita.

Nunca o Big Brother orwelliano foi realidade tão presente, não no sentido aterrador, pavoroso e concentracionário espelhado na obra 1984, mas numa espécie de ditadura consentida, em que são os prisioneiros que fornecem as algemas ao anónimo mas atento algoz. De quem se queixam amargamente nos momentos seguintes!

No fundo, a cada instante soltamos o compungido lamento: adeus, liberdade!...

QUEIXA ELECTRÓNICA

RUI LEAL
O Sistema de Queixa Electrónica foi criado pela Portaria 1593/2007, de 17 de Dezembro.

Com um percurso de quase 10 anos desde a sua criação, este sistema é ainda desconhecido da grande maioria dos cidadãos.

Com efeito, o SQE constitui um serviço público da sociedade de informação prestado por via electrónica, no âmbito da prevenção e investigação criminal e apoio às vítimas de crimes.

Em termos práticos, o SQE é um balcão único virtual que pode ser encontrado no endereço electrónico http://queixaselectronicas.mai.gov.pt

Este serviço electrónico faculta a apresentação, por esta via, de participações (denúncias) de natureza criminal, por qualquer cidadão que tenha sido ofendido ou que tenha tomado conhecimento da prática de um crime contra terceiros (isto no caso dos chamados crimes públicos).

O site em causa acaba por, num sistema de “passo a passo” esclarecer o utente e direccioná-lo para os procedimentos a adoptar na apresentação da participação de forma a agilizar a recepção e tratamento das mesmas.

Note-se porém que este serviço não permite (assim como a lei restringe) a apresentação de qualquer denúncia anónima. Efectivamente, é necessário, para qualquer cidadão que queira, por esta via, apresentar uma queixa, autenticar-se (e como tal identificar-se) pelos seguintes meios:

- Assinatura digital com recurso ao cartão de cidadão;

- Confirmação a partir de uma conta VIA CTT;

- Confirmação pessoal e presencial junto de qualquer posto da GNR, PSP, SEF, lojas do cidadão ou estações dos CTT;

Este sistema não permite a apresentação de queixas por todos os tipos de crime, mas apenas por aqueles que lá se encontram elencados, sendo que a mero título exemplificativo e por serem os mais comuns, referirei apenas as ofensas à integridade física (agressões), violência doméstica, furto, roubo, dano, burla, entre muitos outros.

Refira-se ainda que este sistema não visa responder a situações de emergência ou aquelas que necessitem da resposta imediata da força pública, nomeadamente pelo facto do crime estar a ser cometido naquele momento.

Nestes casos deve-se contactar, de imediato, o Número Nacional de Emergência (112).

Aqui chegados importa fazer uma sucinta distinção entre aqueles crimes que, para serem investigados pelo Ministério Público, necessitam que o ofendido apresente queixa e promova o procedimento criminal (os chamados crimes particulares), daqueles que não necessitam sequer de queixa por parte do visado (ofendido), podendo ser participado por qualquer cidadão que deles tenha conhecimento.

Em ambos os casos, contudo, note-se, como já acima referi, que o encaminhamento da participação para as autoridades competentes apenas ocorrerá após validação e confirmação da entidade que utiliza o sistema e que está a apresentar a denúncia ou queixa.

Obviamente que, para além deste sistema, todas as outras possibilidades de apresentação de queixa criminal continuam ao dispor dos cidadãos.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

NADA É FÁCIL. DESISTIR? NUNCA

RITA TEIXEIRA
Não, nada é fácil nesta vida,! 

Ao longo da vida, enfrentei duras batalhas,, das quais saí, umas vezes vencida e muitas vezes vencedora. De repente, no auge da vida, o chão fugiu dos meus pés e, enquanto absorvia o diagnóstico de uma doença rara e fatal, vi me numa cadeira de rodas e sem poder comunicar verbalmente. Não! Deixar que a doença me roubasse a vontade de viver? 

Não, isso nunca aconteceria. Porque eu daria luta contra a desistência. 

Alterei a minha forma de estar perante os outros e desafiei me àquilo que nunca pensara, um dia, fazer. Fecho me num silêncio só meu. Não quero ouvir mais aquelas palavras crueis e rio me, arma poderosa para calar, quem me acusa sem motivos para isso. .Refugio me no mundo dos sonhos, onde vou buscar o meu valor, a minha serenidade, a minha leveza. 

Deixei de me lamentar do afastamento, das promessas vãs daqueles que se fugiram da minha presença. Compreendi que era Deus a substituir por pessoas com muito mais valor. 

Ergui uma fortaleza de fé e os meus aliados, gente crente, são os meus seguidores, dando me os incentivos para ser a guerreira que sou hoje. 

Esta é a mulher, vítima de uma doença rara e fatal, partilhando as emoções do dia a dia. As crónicas podem ser repetitivas, mas são sentimentos que brotam no jardim do meu coração e pensamentos que flutuam nas ondas revoltas da mente.

HÁ LIVRO NO SAPATINHO?

ELISABETE RIBEIRO
Está a aproximar-se a época em que os miúdos (e os graúdos) mais apreciam: o Natal. As crianças deliram pela expectativa de receber aquela prenda que tanto anseiam. Contudo, nem sempre as escolhas das prendas são as melhores. Jogos violentos que custam uma pequena fortuna, incentivam à violência e ao isolamento. Aquela boneca com um nome todo esquisito e que leva os pais a uma corrida desenfreada em busca da dita. E mais haveria a enumerar como sendo presentes perniciosos. 
Os pais são quem comandam estas oferendas. Cabe a eles decidirem o mais importante e mais enriquecedor para os seus filhos. Os livros são das melhores prendas que se pode oferecer. A quem tem este bom hábito de oferecer um livro, um enorme bem haja. Para os que consideram pouco viável então aqui ficam 10 boas razões para mudarem de ideias:


1. São mais baratos que jóias.

2. Duram mais que flores.
3. Engordam menos que chocolates
4. Gastam menos eletricidade que um videojogo.
5. Não deixam esquecer quem os ofereceu.
6. Combinam com tudo e qualquer pessoa.
7. Existem em todos os tamanhos, formas e cores.
8. São personalizáveis com dedicatórias.
9. É mais seguro que tentar adivinhar que número ela/ele usa.
10. Mesmo depois de acabados, ficam na memória para sempre.

Neste Natal, faça do sapatinho do seu filho, uma biblioteca de histórias!

AMIGOS VS. FAMÍLIA

MÁRCIA PINTO
As relações que estabelecemos ao longo de toda a nossa vida são verdadeiramente importantes, não só do ponto de vista emocional, mas também do ponto de vista físico.

Uma vida social ativa é associada à longevidade. A própria ciência já estabeleceu que estar rodeado de pessoas que nos são queridas, faz bem. Mas será que faz diferença se essas pessoas são da família ou ``apenas`` amigos?

Manter uma boa relação tanto com a família como com os amigos está associada a uma saúde melhor e maior satisfação com a vida.

Contudo, à medida que a idade avança, os familiares vão perdendo peso na determinação do nosso bem-estar, ao contrário dos amigos que se vão tornando cada vez mais importantes.

Assim, os amigos vão surgindo durante toda a nossa vida, mas ficamos apenas com os que realmente fazem a diferença. Existem situações em que é nos amigos que procuramos apoio, seja em momentos de tristeza ou de necessidade.

Deste modo, quando estamos preocupados, ansiosos, a vivenciar situações complicadas, em que nos sentimos perdidos, o simples facto de conversarmos com um amigo, desabafando o que nos está a preocupar, já nos faz sentir melhor, mesmo que as coisas permaneçam inalteradas.
Quantas vezes são os amigos que nos fazem sorrir quando temos vontade de chorar?! A simplicidade das brincadeiras, as conversas informais, sobre tudo e sobre nada, naqueles momentos de descontração, uma conversa rápida ao telefone, ou pela Internet, no ambiente do trabalho ou da escola, enfim, em qualquer lugar e a qualquer hora.

Há amigos que nos ensinam muito, fazem-nos compreender situações que às vezes temos dificuldade em perceber o seu verdadeiro sentido, compartilhando connosco as suas experiências. São eles também que muitas vezes nos alertam, chamando a nossa atenção quando agimos de modo errada, que nos dizem coisas que não queremos ouvir, aceitar ou compreender, mas que são o melhor para nós naquele momento.
Assim, ao longo da nossa vida conhecemos muitos amigos que passam e deixam saudades, mas também deixam a recordação de tudo que foi partilhado e vivido. É na verdadeira amizade que encontramos a lealdade, afinidade e cumplicidade.

Neste sentido, acredito que os amigos são irmãos que a vida nos dá para caminharem connosco ao longo desta jornada que é a vida!

terça-feira, 28 de novembro de 2017

ANA BOLA INDIGNIDADE COM A CONDENAÇÃO A TONY CARREIRA

ANA BOLA
Portanto,vamos lá ver se eu percebi.O Tony Carreira, alegadamente "roubou" 11 músicas a autores estrangeiros.Isso equivale a muitos milhares de euros,diria mesmo largas centenas de milhares de euros,em vendas desses discos e dos respectivos concertos em que se tocaram e cantaram essas músicas.Não só o dinheiro dessas vendas,mas também os direitos de autor pagos pela S.P.A.(Sociedade Portuguesa de Autores).Não sei se sabem,mas cada vez que uma dessas músicas é passada na rádio,ou na televisão,ou em espectáculos,pinga dinheiro para o autor,o que é justíssimo.Neste caso pinga para o "putativo" autor,que não é autor,mas sim "ladrão" de músicas.O "surripiador" agarra em loucos 20.000 mil euros,da sua fortuna, também feita por conta de outrém,e dá então uma ajudinha para as vítimas dos fogos,e não se fala mais nisso.Eu percebi bem? É que se percebi,das duas uma ,ou agarro no pano encharcado como se não houvesse amanhã, ou a partir de hoje também começo a gamar,porque a trabalhar não me safo.Dasse!Olha,agora de repente senti-me a Maria Vieira.E o marido.E isso não é bom. :) Da série " SOU ALÉRGICA À LATOSA".

ORTESIOLOGIA / ORTÓTESE

FÁTIMA LOPES CARVALHO
A ortesiologia é um ramo da ortopodologia que tem como objetivo o conhecimento e a investigação das afecções do ante-pé e a aplicação de diversos tratamentos ortopodologicos, destinados aos tratamentos dos mesmos.

O QUE É UMA ORTÓTESE?

É um aparelho destinado a compensar, paliar ou corrigir uma anomalia postural ou estrutural do pé e melhorar a sua funcionalidade.
Existem dois tipos de ortóteses: digital e plantar.

Segundo a sua aplicação terapêutica existem vários tipos de ortóteses:

- Ortótese paliativa e compensatória - não afeta a estrutura do pé e a função é: libertar as zonas de hiperpressão, avaliar lesões dolorosas e proteger uma determinada zona.
- Ortótese corretiva - tem como função corrigir as deformidades do ante-pé; modificando a sua estrutura.
- Ortótese substitutiva também conhecida por prótese - substitui uma parte ou segmento do pé restablecendo a sua função normal.
QUAIS AS VANTAGENS DA APLICAÇÃO DAS ORTÓTESES?
- Realização directa no pé do paciente
- Uso de materiais de grande duração
- Utilização imediata após a realização
- Execução rápida
- Permite combinar materiais
As ortóteses devem ser aplicadas de acordo com a estrutura e a morfologia de cada pé e deve ser evitada a sua compressão pelo uso de meias ou calçado apertado.

O ENSINO DA FILOSOFIA NO SECUNDÁRIO

REGINA SARDOEIRA
A Filosofia, enquanto saber que ocupa os estudiosos, costuma ser dividida em capítulos, consoante o tema de que trata e, a esse nível, não se distingue das outras ciências. Mas quando se faz da Filosofia uma disciplina de formação geral, obrigatória para os jovens do ensino secundário, não creio que seja seu objectivo obrigar a saber e a definir, à partida ( ou seja, logo no início do 10° ano), os nomes desses capítulos. 

Ensina - se, então, aos iniciados (que mal sabem pronunciar ou escrever as palavras "filosofia" e "filósofo"), o seguinte:

A gnoseologia (de gnoseo=conhecer) é o estudo do conhecimento; a ontologia (de ontos=ser) faz o estudo do ser; a metafísica ( de meta= para além + fisica= natureza) investiga o que está para além do mundo físico; a axiologia (de axios=valor) propõe-se estudar os valores; a epistemologia (de episteme=ciência ) estabelece teorias sobre o conhecimento científico ); a lógica (de logos = palavra, pensamento) destina - se a estabelecer as regras do pensamento válido; a ética (de etos=costumes) é a ciência dos costumes; a estética (de estesis = sensação ) estuda os sentimentos ligados à experiência emotiva do Belo e outras categorias artísticas .

Durante algum tempo considerei importante que os estudantes soubessem estas (e outras) designações da filosofia e, como estudei grego, chegava ao extremo de escrever em grego a raíz das palavras, julgando prestar - lhes um bom serviço. Aos poucos fui entendendo que tais palavras, na sua maioria, não "entravam" no vocabulário dos alunos; que, caso aparecesse uma delas num texto, necessitava de explicá - la uma e muitas vezes e que, enfim, talvez fosse inútil obrigá -los a nomear as divisões da filosofia.

Aliás, os manuais onde estas designações/definições surgem como objecto de estudo, trazem um glossário nas páginas finais que, outra vez, se propõe explicá -las. Deste modo, decidi remeter os estudantes para o referido glossário, sempre que uma delas surgia, em vez de os massacrar com a definição de temas e de palavras nada comuns.

Ao longo dos anos, fui percebendo o que já intuíra quando eu própria fui estudante: a filosofia é, acima de tudo, uma concepção do mundo, destina - se a investigar, para compreender, a realidade, é útil se tiver como objectivo contribuir para a atitude crítica, e logo profundamente analítica, dos estudantes. Precisa de ser simples, começando pelas situações básicas da vida comum e subindo progressivamente, com extremo rigor e precisão, até aos problemas mais complexos, do homem, individual e socialmente considerado.

Fui fazendo sucessivas experiências e decidi usar o exemplo de Descartes e as regras do seu método. Sendo matemático, o filósofo percebeu quão difícil poderiam parecer certos problemas e concluiu, por experiência própria, que nada é tão obscuro que não possa compreender -se, desde que seja aplicado o método correcto.

As regras, de tão simples, podem ser entendidas por qualquer um, independentemente da idade ou da cultura. Perante uma situação problemática - por exemplo: o carro que conduzimos pára e não volta a pegar - podemos resolvê - la, de imediato, desde que a sua causa seja evidente - o carro não arranca porque nos esquecemos de pôr gasolina. Mas, supondo que o abastecimento do carro não resolve o problema, que, por mais que façamos, o veículo não anda, percebemos estar perante um problema complexo. Recorremos, então ao mecânico. Ele faz uma análise da situação, e, no limite, pode necessitar de desmontar o motor, para fazer o diagnóstico do problema, detectá -lo e resolvê -lo. Por fim, terá que organizar, de novo, as peças que constituem o motor do automóvel; e, antes de o dar como reparado, precisa de o experimentar, para perceber se não haverá ainda alguma falha. 

Para todo aquele que conhece Descartes, o dono do carro, primeiro, e o mecânico, depois, aplicaram as regras do método cartesiano - apenas quatro, em vez do emaranhado de leis que constituem a lógica! E tais regras são tão eficazes na matemática como na vida! 


"(...) em vez desse grande número de preceitos que constituem a lógica, julguei que me bastariam os quatro seguintes, contanto que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma só vez de os observar. 
O primeiro consistia em nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal; isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não incluir nos meus juízos nada que se não apresentasse tão clara e tão distintamente ao meu espírito, que não tivesse nenhuma ocasião para o pôr em dúvida. 
O segundo, dividir cada uma das dificuldades que tivesse de abordar no maior número possível de parcelas que fossem necessárias para melhor as resolver. 
O terceiro, conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até ao conhecimento dos mais compostos; e admitindo mesmo certa ordem entre aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros. 
E o último, fazer sempre enumerações tão complexas e revisões tão gerais, que tivesse a certeza de nada omitir".

René Descartes, in 'Discurso do Método'


Aplicando a simplicidade destes preceitos e treinando - os, a filosofia no ensino secundário poderia ser, progressivamente, desvendada. Mas tão importante quanto seguir as regras seria, como diz o filósofo, tomar "a firme e constante resolução de não deixar uma só vez de os observar. " 
Treinando deste modo os jovens, poderia seguir - se a investigação da Filosofia, procurando sempre extrair de cada tema orientações para a vida prática. 

Durante algum tempo, preparei os alunos para um trabalho conclusivo dos dois anos da obrigatoriedade da filosofia no secundário, uma espécie de tese - e assim fiz com que escolhessem um tema, que o investigassem, dei-lhes as normas para escreverem um ensaio e obtive, desse trabalho, a avaliação final.

Tudo isto (e muito mais, cuja análise seria extensa) contribuiu para que a maioria das minhas turmas e dos meus alunos gostassem de filosofia. 

Pudemos, por exemplo, fazer teatro, ocupar certas aulas com os ensaios e, por fim, levar ao público, as peças seleccionadas. Fizemos "A vida de Galileu", de Brecht, "As nuvens", de Aristófanes, dramatizámos Fernando Pessoa, "O Insulto ao público" de Peter Handke, "Pirâmide", alegoria filosófica escrita por mim...etc. Creio firmemente que, deste modo, não somente dei aos alunos a formação filosófica de que eles necessitavam como lhes forneci instrumentos para fazerem face à vida de uma forma mais esclarecida.

Gnoseologia? Epistemologia? Ontologia? Axiologia? 
Muito bem, as palavras e os temas iam surgindo, ficavam à disposição de todos os que quisessem integrá -los no seu acervo cultural; mas forçar os alunos a memorizar os conceitos, para mais tarde os reconhecerem, em itens de escolha múltipla, sempre me pareceu o atentado mais pernicioso ao real objectivo do ensino da filosofia no ensino secundário.

PAI, TAMBÉM É QUEM CRIA

CRÓNICA DE ELISABETE SALRETA
Pai, também é quem cria.

Esse sentimento é transversal às espécies, pois existem milhentas histórias que o atestam.

Nada é mais gratificante que ter uns coraçõezinhos a bater descompassados, à minha espera quando chego a casa. Encostados à porta, empurram-se para chegarem até mim primeiro. Quando a abro, saem num revolto trambolhão e as meninas correm pelo adro, procurando nem elas sabem o quê. É apenas um reflexo para dizer que são capazes e mostrar a felicidade do momento. Depois, tenho de cumprimentar a todos, começando pelo mais velho. E exigem que assim seja.

Chegou a hora de ler o jornal, como digo. Cheiram as portas dos vizinhos, os tapetes, para saber quem passou e se existem novidades. Habitam neste prédio, cerca de 8 gatos e quatro cães, muitos cheiros, muitas novidades a serem transmitidas. Que levam o seu tempo. Se entra um vizinho, tem de ser saudado e nos dias bons, se o vizinho é conhecido de longa data, até deixam que lhes passe a mão pelo lombo. Há que cultivar as amizades e assim, o vizinho leva aquele cheiro para o animal da sua casa.

Claro está que se trago um cheiro diferente para casa, isso é tratado como uma traição. Tenho direito a umas rosnadelas, bufadelas, uns ssssfffs bem audíveis e a ver os dentes bem brancos e afiados. E depois ainda me ignora, porque não há desculpas para uma traição. Sim, um gato não tem o seu amor próprio.

Saem duas, as meninas. O garoto fica à porta a tomar conta delas. Raramente sai do seu posto de vigia na umbreira da porta. Guarda principalmente a pequena, a mais nova, o bebé especial. Segue os seus passos prudentes na descida das escadas. Está pronto a intervir, caso a Mia necessite da sua ajuda. Já aconteceu ela desequilibrar-se e cair alguns degraus. Ele saiu a correr na sua direcção e cheira-a como um pai preocupado perguntaria pelo seu estado.

Nas brincadeiras cá em casa, também existem abusos, mas ele põe-lhe uma pata em cima da cabeça e desce- a até ao chão, com os olhos semicerrados e as orelhas para trás. Pare-se querer dizer – põem-te fina que a vida não é cor de rosa.

Existem sempre os momentos de briga que acabam com uma soneca e muitas lambedelas. Por vezes a garota abusa e morde-o nas patas. Ele resmunga com ela, abocanha-a numa orelha que leva até ao chão. É a sua forma de a meter na ordem. Mas procuram-se para dormirem juntos, por vezes entrelaçados.

E eu fico feliz, porque acho que eles também são o nosso reflexo, tal como são os nossos filhos. E educam como nós fazemos. São tranquilos quando vivem num ambiente tranquilo. E mimam como nós fazemos.

É uma vida tão doce!!!

PROBABILIDADES, A MATEMÁTICA QUE COMANDA A NOSSA VIDA

RUI CANOSSA
O dia estava lindo, perfeito. Uma brisa quente atravessava o jardim por onde Luís e Regina passeavam. Sentaram-se num banco do jardim onde os dois tinham dado o primeiro beijo. Regina olhava os pássaros à sua volta nas árvores com os seus lindos olhos verdes. Ele, nervoso, aproveitou o momento da sua amada para, trémulo, retirar uma caixinha de veludo do seu bolso. Abriu-a e um lindo anel começou a brilhar. Através da sua voz embargada pela emoção disse: “Como sou o homem mais feliz do mundo. Encontrei a minha alma gémea no meio de 4 mil milhões de mulheres. Aceitas casar comigo?”

Não, não estou a tentar começar uma carreira como novelista. Na verdade estou a tentar mostrar que a nossa vida é feita de escolhas, de decisões. Deixamos o guarda-chuva em casa, apesar de o céu estar cinzento, fazemos o euromilhões com base nos números do dia de aniversário, vamos de férias para um lugar que não conhecemos por sugestões de desconhecidos feitas online. Mas deveremos fazer contas ou deixamo-nos levar pelo instinto?

Voltemos ao nosso par romântico. Na verdade o Luís tinha um universo de escolhas muito mais restrito. 43 para ser mais exato. Vamos fazer algumas contas. O Luís vive em Amarante onde vivem cerca de 54 mil pessoas. Metade são mulheres, ou seja, 27 mil. Agora aplicando o Princípio de Pareto (economista italiano) também conhecido como a regra 80/20, que diz que 80% dos efeitos vêm de 20% das causas, só 20% das mulheres estarão no mesmo grupo etário do Luís, o que significa 5400 mulheres. O Luís só achará atraentes 20% dessas mulheres, ou seja, 1080.Destas eleitas, por seu lado, só 20% acharão o Luís um homem bonito, o que corresponde a 216 damas. Se daqui tiramos que só 20% terão compatibilidade de feitio com ele, então o número é de 43. Uma em 43, a probabilidade de se terem apaixonado era afinal muito maior do que ele pensava e que usou na sua estratégia de conquista.

Já sei, querem saber o que Regina disse ao Luís. Vamos fazer contas? Ele estava esperançoso, pois tinha 50% de hipóteses dela dizer sim. Se bem que ele sabia que, na cabeça dela, só havia uma resposta possível. Ou acham que ele anda a brincar com a sorte? Ela disse sim.

As aplicações da Teoria das Probabilidades são quase infinitas. A incerteza é omnipresente no nosso dia a dia e esta teoria permite-nos estudar quais os cenários que têm maior possibilidade de se tornarem reais. Eis algumas probabilidades que comandam a nossa vida. Morrer ao ser atingido por um meteorito: 1 em 475 milhões; ganhar o euromilhões: 1 em 140 milhões; ser mordido por um tubarão: 1 em 11 milhões; ser atingido por um raio: 1 em 174 mil; ser auditado pelas finanças: 1 em 100; ter um colega de trabalho chamado João: 1 em 50; viver numa casa de 5 divisões: 1 em 3; chover amanhã: 1 em 3!

Despeço-me agora porque tenho de ir fazer 43 entrevistas!

domingo, 26 de novembro de 2017

A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA É A ARMA DOS FRACOS

MOREIRA DA SILVA
As queixas de violência doméstica têm vindo a ter cada vez mais destaque na comunicação social. Provavelmente este mediatismo tem sido provocado pela justiça morosa e muitas vezes disparatada, mas também por atos de violência extrema no seio de uma relação que começou por ser amorosa e passou a ser manchada pela violência, transformando-se numa relação bastante dolorosa, física e psicologicamente, inundada de ações que machucam o corpo e a alma.

A violência doméstica não é um fenómeno novo, embora só recentemente é que tomou foros de preocupação jurídico-criminal em quase todo o mundo, embora haja países como a Rússia que estão a retroceder. O parlamento russo votou, em janeiro deste ano, para remover da lei este tipo de crimes, considerando que a violência doméstica não é considerada crime.

A violência física, psíquica, sexual, psicológica e até económica, dos maridos sobre as mulheres foi, num passado não muito longínquo, suportada na lei e na jurisprudência, e até era considerada justificada pela sociedade, como fazendo parte de um corretivo doméstico. Hoje, na maioria dos países civilizados e não só, a violência doméstica é considerada um crime público, seja exercida sobre as mulheres, as crianças, os homens, as pessoas idosas ou deficientes.

O crime de violência doméstica não abrange só o femicídio – o assassínio de mulher ou de jovem do sexo feminino, até porque não existe um estereótipo de violência doméstica, pois os agressores e as vítimas são de diferentes géneros. A violência doméstica é multidirecional e engloba diferentes tipos de abuso: violência física - qualquer forma de violência física; violência emocional - comportamento que visa fazer o outro sentir medo; violência social - conduta que visa controlar a vida do outro; violência sexual - ação que força o outro a praticar atos sexuais que não deseja; violência financeira - atitude que pretende controlar o dinheiro do outro; perseguição - qualquer comportamento que visa intimidar ou aterrorizar o outro.

Numa relação a dois, quando acaba o amor nasce a impotência para a resolução dos problemas e começa a surgir o poder, o domínio, o terror e a violência, que é a extinção de ideias e ideais, a expressão da incapacidade, o último refúgio dos incompetentes. É minimizado quase sempre pela vítima a violência que sofre, pois amanipulação da vontade, a humilhação, a violência física ou verbal diminui a sua autoestima, aumenta o medo e elimina a sua capacidade de reação, até porque é uma pessoa que acredita no amor, que a relação está a passar por um mau momento, mas vai resultar um dia e, num momento mais frágil, perde o controlo da sua própria vida.

A violência doméstica é a forma mais crua de violência; é a arma dos fracos que procuram a sua força agredindo e humilhando os outros. A ausência da violência, numa relação a dois, vem do entendimento do mundo e da natureza humana, do diálogo, da criatividade, da inteligência e da capacidade de encantar. A razão da existência do ser humano é para ser feliz e viver uma vida que ofereça prazer… em viver!

O DIA DOS PRIMOS

CRÓNICA DE TÂNIA AMADO
- a Madrinha tem uma proposta para este próximo dia 24.

- que fixe, Madrinha. Qual é?

- uma prenda à tua escolha ou um programa a duas antes do jantar, que preferes?

- hum… que bom, um programa a duas. Que vamos fazer?

- estava a pensar em, por exemplo, irmos almoçar, passear e irmos ao circo. Que dizes?

- simmm. Mas... Madrinha, sabes que tenho medo dos palhaços?

- eu sei, meu amor. Se preferires podemos fazer algo diferente. És tu que decides.

- vamos, vamos lá …

A Beatriz teve um forte desejo de comer canja de galinha e, por isso, batemos todas as capelinhas no parque das nações em Lisboa até escolhermos o restaurante. Lá, pede peixe grelhado, meia batata, dois brócolos e um IceT de camarão. Perante este pedido convicto, e de sorriso malandro, o garçom propõe-se a arranjar-lhe o peixe enquanto lhe dá uma flor de papel. Ela aceita de gosto, mas não sem antes rejeitar a proposta da cadeira pequena justificando-se em como se sentia confortável na cadeira dos adultos. O restaurante estava cheio e, como conseguem imaginar, perante aquele pedido personalizado, ninguém conteve uma boa gargalhada.

Almoçámos tranquilas, passeámos junto ao rio e lá fomos ao Circo onde encontrámos uma série de atividades com carrinhos, palhaços, doces e um Dromedário. A minha afilhada agarrava-se ao meu peito, com medo, mas lá pediu para tirar uma fotografia com os palhaços e outra em cima do Dromedário para mostrar aos pais. Em dois ou três momentos, lembro-me de lhe ter perguntando se queria ir embora. Mas ela, heroica e animada, optou por ir ficando esquecendo-se até em pedir os diversos doces que por lá se vendiam.

Chegámos a casa, preparámos o jantar e sentámo-nos à mesa coberta de delícias caseiras com os primos, tios, padrinhos, pais e avós. Depois das dez horas, prevendo o sono dos pequenos, o avô encenou a entrada triunfal com o pesado saco das prendas deixando o primo Diogo um pouco amedrontado. A Beatriz agiliza-lhe o sentimento dizendo que era apenas o avô vestido de Pai Natal enquanto a mãe abria-lhe os olhos, mostrando que acalmar o primo era bom mas sem estragar a surpresa que o avô estava carinhosamente a proporcionar. Este era o primeiro Natal em que o mano da Bratriz, o Pedro, vivia o Natal fora da alcofa e abria as suas próprias prendas. Estamos todos radiantes com o momento.

E assim se passou a noite com generosos abraços e emoções naquela sala de lareira aberta e de corações cheios.

Perto da meia-noite, levei a menina para minha casa enquanto os pais reorganizavam a casa dos pais deles para depois se juntarem a nós. Entrámos no meu carro, de modelo comercial, onde Beatriz se triunfava por poder ir à frente e conversar comigo ou apenas partilhar a vista da lua em silêncio. No momento em que eu desligava o airbag e a aconchegada entre a cadeira e cinto de segurança, reparei que ela estava com um ar introspetivo:

- que se passa, amor?

- hum, estava aqui a pensar.

- queres partilhar?

- quando for grande quero oferecer uma prenda assim ao meu primo Diogo.

- qual delas, amor?

- um dia dos primos: só nós os dois, bem juntinhos.

- ohhh, amor. Tão bom! Ele vai adorar.

Quando pensei que estava ajudá-la a enfrentar o medo e a valorizar as experiências em prólogo das prendas, foi ela que me proporcionou um dia inesquecível e ensinou-me que não precisamos de ter medo de nada.

As crianças têm muita paciência para os adultos.

A VELHA GUERRA LISBOA-PORTO

JOANA M. SOARES
Esta semana o Porto perdeu a sede europeia do medicamento, mas ganhou, logo de chofre, a sede do INFARMED. Um rebuçado para Rui Moreira. Reacendeu-se o debate da descentralização de serviços, e como as mudanças são sempre desagradáveis, porque precisamente se muda, e isto dá trabalho, instalou-se o alvoroço entre opiniões diversificadas de dirigentes e, claro, trabalhadores. E muito bem.

Pontos a serem ponderados antes da tomada de decisão deste calibre:

1. Os trabalhadores foram consultados? Não. A avaliar pelo plenário e pelo pânico de muitos, os funcionários estão aquém das decisões de cima, como sempre. Alguém de cima pensou na vida dos trabalhadores? Poderão ser ressarcidos? Não há dinheiro para muita coisa, mas há para indemnizar e cuidar da vida de cerca de 350 colaboradores? 

2. A maior parte dos serviços públicos estão centralizados em Lisboa. Descentralizar não é mudar para o Porto. Descentralizar serviços públicos seria partilha-los com o resto de Portugal. Não é descentralizar para centralizar no Porto. Coimbra, Leiria, Beja, Évora, Bragança, Freixo-de-Espada-Acima são cidades portugueses – necessitam igualmente de investimento, emprego, impulso social. 

3. Esta opção parece um favor à cidade do Porto e alimenta o estilo mimado do autarca portuense que infantilmente escreveu nas redes sociais que estava a “adorar o ressabiamento de alguns”, ora, um presidente não pode defender uma causa nestes termos. 

Parece-me que esta conversa de descentralização de passar serviços públicos de Lisboa para o Porto só vem a acentuar a velha guerra entre Lisboa e Porto, e não tem como objectivo fundamental salvaguardar os interesses dos portugueses ou do país.

COM EIRA, SEM BEIRA

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Curva contra curva, as retas sucedem-se também tortas, o pequeno-almoço bamboleia desprotegido no estômago e começo a pensar se não será desta vez a primeira em que irei ficar mal disposto ao volante. Paro no que seria suposto ser um miradouro, o chão calcetado apresenta fosseis de folhas de eucalipto e memórias de quem por lá parou, acredito que em noites mais sombrias e frias, onde a cegueira do amor possa ver o que dois corpos jovens, ávidos, têm a dizer um ao outro. 

Não satisfeito com o local arranco, mais uma mão cheia de curvas e encontro o local perfeito. O Sol irá em breve transformar o granito dos bancos em solarengo repouso, desligo o carro, abra a porta e rio-me da estupidez habitual em tentar sair do carro sem desapertar o cinto. Já sem cinto, física e homofonicamente, espreguiço-me com o à vontade de saber que ninguém está a ver. Ao fundo o Douro serpenteia, com mais ou menos sede, alheio às vontades de quem o navega sem valorizar a corrente de quem rio nunca se sente. Como previ, o Sol está agora a sair por detrás dos eucaliptos. Atrás de mim, mais acima, a encosta dourada em ocre queimada rivaliza com o vazio a tristeza, o chão negro lembra-me o chão negro e por isso mesmo entristeço-me. Debruço-me sem muita preocupação sobre o gradeado esverdeado, tenho que o fazer para fugir à sombra que a placa de um qualquer fundo europeu espalha. 

É ali que vejo o telhado, à minha direita, do que me parece ser uma palheiro ou eira. Deito um olhar ao carro, adormeceu, acredito que cansado da música que lhe dou a ouvir e do trajecto irregular pelo qual o faço rodar (talvez assim saiba o que é ser-se eu). Alço-me sobre a grade e vou descendo, umas vezes com o cú, o carreiro cheio de folhas ainda molhadas. Acabo por parar com os pés na lousa, onde já uns riscos de luz ganham eira, sacudo as mãos e fico parado, ofegante, sem saber como subirei o caminho de volta. Ou se o quero fazer.

Alguém parece ter transformado o palheiro em casa, se ainda por cá mora não sei. Alto de mais para um piso, baixo de mais para dois, caminho em direção à porta e o ferrolho de madeira abre-se sem que o alavanque. Cheira a vazio e a vida. Umas calças estendidas sobre o resto de um braseiro.

Há espaço suficiente para o que se leva connosco quando decidimos ser fumo. O quarto fica no baixo primeiro piso, em cima de uma barra de batatas, a cadeira com restos de roupa balança tristemente ao ritmo do meu olhar. A janela é apenas um bocado do telhado sem telhas, permite ver o céu estrelado e deverá ser o despertador de todos os dias, tardio agora que amanhece depois da hora. Uma palete improvisa biblioteca e vários livros fitam-me, ensonados. Só depois o vi, ao canto, entorpecido, a dormir sob uma espécie de bata azul, escura, de trabalho. E ali tudo fez sentido, para mim, quando os meus olhos fecharam abriram-se os livros, e as letras acolheram-no. O colchão transformou-se em folhas, depois em letras que, volitando, o levaram a um céu que nunca ninguém conseguiu escrever.

sábado, 25 de novembro de 2017

GARANTIDOS DOIS MILHÕES PARA CANIS

SUSANA FERREIRA
Segundo um comunicado do PAN, estão garantidos mais 2 milhões de euros, para Centros de Recolha Oficiais de Animais (CROAs). Ainda se encontra em negociação 1 milhão de euros para esterilização dos animais. Estes incentivos vêm na sequência da proibição do abate de animais saudáveis e da implementação da esterilização nos CROAs. No orçamento de estado de 2017, já foi previsto um levantamento do estado dos CROAs e quais as suas necessidades, para se poder construir uma rede de centros de recolha oficial. No decorrer de 2017, foram disponibilizados meio milhão de euros, para permitir aos municípios comprar os equipamentos necessários, para proceder a esterilizações e fazer obras de melhorias nos CROAs. A partir de Setembro de 2018, não será possível o abate de animais saudáveis para controlo da sobrepopulação. Estas ações não agradam a todos. Na minha opinião, estas ações visam controlar de forma eficaz a sobrepopulação e o crescente abandono e sem elas, estaríamos a entrar num buraco sem fundo. Mas claro, para alguns Portugueses, quando se fala num valor monetário tão elevado, pensa-se nas crianças, idosos e pessoas com dificuldades extremas. Mas no orçamento de estado, é necessário abordar todos os problemas existentes no nosso país. Infelizmente a quantidade de animais errantes tem crescido de forma exponencial, mesmo após as recentes leis de alteração do estatuto dos animais na Sociedade. Todos nós sabemos a problemática que levanta o crescimento da população de animais errantes. Quem nunca ouviu notícias, como por exemplo “matilha de cães mata gado para se alimentar”, “matilha de cães assusta moradores da aldeia …”? Quem nunca se sentiu incomodado por ir passear o seu animal e ser perseguido por um animal de rua? Quem nunca sentiu medo por ir com o seu filho pequeno na mão e haver um cão de rua gigante que se aproxima? Quem nunca ficou chateado porque os cães de rua espalharam o lixo pelo jardim do prédio? Quem não sente pena de animais que se encontram ao frio, com sede, fome e muitas vezes doentes e sem acesso a cuidados veterinários? E a quantidade de acidentes com atropelamento de animais? Quantos animais morrem atropelados nas estradas portuguesas? Quantos são abandonados por dia? Quantas cadelas têm as suas ninhadas na rua? Já se questionaram sobre isto? É importante implementar medidas para acabar com os animais errantes, no entanto, estas tornam-se dispendiosas sendo muito importante estes incentivos do estado. Tenho esperança que as autarquias utilizem este dinheiro corretamente, por forma a controlar o aumento do abandono de animais errantes. E tenho ainda mais esperança que futuramente não haja portugueses capazes de abandonar um ser indefeso e capaz de gerar o amor mais puro.

A EMIGRAÇÃO FRANCESA EM PORTUGAL DURANTE A REVOLUÇÃO FRANCESA DE 1789

MANUEL DO NASCIMENTO
Na noite do 16 de julho de 1789, dois dias depois da tomada da Bastilha de Paris, o rei de França Luis XVI, ordena a retirada dos regimentos que haviam sido chamados a Versalhes e a Paris. O conde de Artois e os seus dois filhos, os príncipes de Condé, de Conti e os duques de Borbom e de Enghien pediram ao rei de França a autorização para saírem de França. Tivesse sido, porém, por conselho do rei de França ou por iniciativa dos príncipes de sangue, o que é certo é ter por sido por este ato que se iniciou a emigração francesa em Portugal. Os príncipes deixaram a França quase desprovidos de dinheiro, sem bagagem, certamente na intenção de curta ausência. A partir do verão de 1791, é que começou a emigração forçada daqueles que nas províncias francesas, devido à cobiça, ajudada pela anarquia, iam sendo expulsos dos seus castelos e senhorios. Em França a moda é tudo e, a emigração francesa começou então. Havia em França uma propaganda organizada a favor da emigração. A corrente emigratória francesa foi-se avolumando e espalhando pela Europa e, de certa altura em diante, não foram só os nobres a emigrar mas gente de todas as classes, estados e categorias sociais. Em 1791, o embaixador português em Paris, D. Vicente de Sousa, oficiou ao governo português: recebi uma carta anónima que remeto a V. Exa. e se a notícia é verdadeira, que alguns homens desembarcam em alguns dos nossos portos, e um deles seria o duque de Orleães. Ainda na primeira fase de emigração francesa durante a Revolução, aqui veio ter uma dama francesa, Madame Elizabeth, irmã do rei Luis XVI, Madame Roquefeuil, e aqui se mantiveram, protegidos pela família real portuguesa, até 1807, tendo seguido para o Brasil com a corte portuguesa. Os emigrados franceses ao serviço do exército português: viscondes de Vioménil, Chalup, os condes de Gondie, de Chambars, de Alexandre d’Ollone, de Molien, de La Rozière, de Novion, o barão de Merle, os marquês de Jumilhac, de Toustain, etc... o que suscitou reparos e descontentamento entre os oficiais portugueses, onde o Príncipe Regente Português recusou o pedido apresentado diretamente pelo duque d’Enghien, a 27 maio de 1803. Em Portugal, os emigrados franceses viviam fazendo sociedade à parte, repartida em em diversos pequenos grupos: o dos nobres, militares ou com missões políticas, o dos eclesiásticos e o daqueles que não tendo alcançado estatuto ou proteção governamental foram vivendo à mercê do que obtinham do seu trabalho. O duque de Coigny, foi estribeiro-mór do rei Luis XVI e comandante dos dragões. Em 1795 casou com a condessa de Chalons, também emigrada (1790) e viúva do antigo embaixador conde de Châlons. Mais tarde o duque de Coigny, representante de Luis XVIII de França, junto do Príncipe Regente, futuro rei português D. João VI. Em 1803, o duque de Coigny deixou Portugal deixando a duquesa em Lisboa. Em 1801, os emigrados franceses em Portugal são sensivelmente menos que depois da Revolução. No entanto, ainda continuava haver emigrados franceses: artistas, relojoeiros, cabeleireiros, estalajadeiros, operários mecânicos e criados. Há, também, emigrados nobres, bastante numerosos, que aqui residem com as suas famílias.

CULTURA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ANTONIETA DIAS
Em pleno século XXI, os conceitos de uma cultura científica e tecnológica, representam um papel determinante na nova forma de viver e pensar do ser humano.

A ciência contemporânea sofreu uma evolução extraordinária, sendo a tecnociência uma revolução pelas vantagens que gerou na cultura cientifico-tecnológica.

Ainda esta semana saiu uma notícia sobre um estudo da empresa Universal Diagnostics, sediada no Reino Unido que revelava que a mesma terá criado um aparelho que permite obter um método de diagnóstico precoce e eficaz para o diagnóstico do cancro do cólon, em que o mesmo pode ser detetado apenas com uma gota de sangue, cujo resultado será obtido em vinte e quatro horas depois.

Segundo a mesma fonte este teste irá determinar entre trinta a quarenta marcadores responsáveis pelo aparecimento desta doença.

Numa publicação da revista Veja, este método de diagnóstico já se encontra na fase final de avaliação, o que permitirá a muito curto prazo obter a informação através de uma simples picada.

Segundo a mesma fonte este novo método de diagnóstico irá conseguir detetar 83% dos cancros do colon e 87% dos pólipos que terão potencialidades para degenerarem em tumores malignos, permitindo assim detetar a doença mesmo antes de esta se manifestar.

A existência de outras investigações paralelas que englobam as ciências químicas, biológica, toxicológica e mecanista complementarão o restante processo de defesa orgânica à agressão, pela possibilidade que têm de desenvolver fármacos que conseguem eliminar os efeitos tóxicos de certas substâncias, minimizando as falhas nos processos de distribuição orgânica de substâncias tóxicas muitas vezes letais.

Existem algumas barreiras orgânicas como por exemplo a membrana hematoencefálica que protege o indivíduo da agressividade de certos compostos orgânicos tóxicos.

Com o avanço tecnológico do seculo XXI conseguimos nalguns casos intersetar o composto agressor antes que ele consiga obter o objetivo controlando o risco.

A necessidade de criar ferramentas que possibilitem a descoberta de antídotos de venenos ancestrais é cada vez mais urgente. Este modelo de investigação representa um contributo essencial para a obtenção de um dos objetivos que os investigadores necessitam para obter confiança e conhecimento, sendo que é cada vez mais premente a implementação nos laboratórios de investigação de modelos in - vitro, preferencialmente usando células estaminais que permitem avaliar os mecanismos tóxicos das substâncias para poderem agir precocemente e minimizar os riscos.

O conhecimento da biotransformação das substâncias é uma mais- valia porque permite uma maior capacidade de resposta produzindo resultados surpreendentes e constitui um enorme desafio para a obtenção de evidências científicas.

Em termos tecnológicos os equipamentos são cada vez mais sofisticados para poderem responder às exigências da investigação do século XXI.

Acresce ainda o estudo genético que estuda a expressão dos genes, que sendo um campo complexo da investigação científica, é um dos instrumentos que permite adaptar e intervir assertivamente de acordo com as características individuais de cada pessoa.

Importa, ainda referir que a sociedade esta cada vez mais exigente de uma resposta científica, transmitida de forma clara, objetiva, credível e segura não só nas questões da saúde, na alimentação e até no ambiente, pois existem aditivos e contaminantes altamente prejudiciais que podem desencadear ou agravar doenças.

A investigação científica tem que ser concluída com fundamentação sólida, de forma a garantir a certeza do risco /beneficio nos resultados obtidos a fim de permitir que a tomada de decisão não suscite dúvidas e que quando aplicada à pessoa permita que ela viva com segurança.

Associada à investigação científica é necessária a complementaridade de uma legislação que regulamente a defesa ambiental e que impeça e controle a introdução no mercado de substâncias com compostos cancerígenos.

Em suma, a comunidade académica desempenha um papel essencial não só na investigação científica e tecnológica como na divulgação da informação dos conhecimentos obtidos.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O FUTURO DOS NUTRICIONISTAS NO SNS

DIANA PEIXOTO
Atualmente, no total do Serviço Nacional de Saúde (SNS) temos cerca de 400 nutricionistas, para quase 11.000.000 portugueses. Destes 400, temos apenas 100 nos centros de saúde, estando os restantes profissionais nos hospitais.

Sabemos que é um dos objetivos traçados para o segundo mandato da bastonária da Ordem, Alexandra Bento, fazer aumentar a presença de nutricionistas no SNS; sabemos também que a criação da figura do nutricionista escolar é outra das pretensões da Ordem.

Num panorama em que o excesso de peso e obesidade estão a aumentar na população portuguesa, em que, ao todo, existem 4,5 milhões de portugueses com excesso de peso, dos quais 1,4 milhões são já obesos, eu digo que esta devia ser uma preocupação e pretensão de TODOS NÓS, enquanto pais, educadores e enquanto pessoas que vivem hoje num ambiente altamente obesogénico!

Entretanto, o Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, deixou anunciado durante o Congresso da Ordem dos Nutricionistas (decorrido esta terça e quarta no CCB em Lisboa), que o Ministério da Saúde quer efetivamente contratar mais ‘’algumas dezenas’’ de nutricionistas para os centros de saúde já no próximo ano, estando a decorrer negociações em sede de discussão do Orçamento de Estado. ‘’Várias propostas que estão a ser analisadas no âmbito do Orçamento de Estado para 2018 e a expetativa é poder aumentar em cerca de 50% o número de nutricionistas nos cuidados de saúde primários’’ – anunciou.

Esperemos que o que o Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, deixou anunciado venha a concretizar-se e que, sabendo que as plataformas online são locais privilegiados para falsos profissionais proliferarem, se acabe de uma vez por todas com o exercício ilegal da profissão de nutricionista, urgentemente e para bem de todos nós.