LUÍSA VAZ |
Portugal perdeu, nas últimas horas, mais uma das suas referências sociais e empresariais. A grande maioria de nós cresceu a ouvir falar de Belmiro de Azevedo e já todos fomos pelo menos uma vez a uma das lojas do Grupo Sonae para onde entrou em 1960, já licenciado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) em Engenharia Química, e cujo controlo assumiu em 1974.
A empresa era propriedade de Pinto de Magalhães, uma figura proeminente da economia portuguesa e os contornos dessa subida galopante de Belmiro de Azevedo nunca foram, nem serão esclarecidos.
Originário do Marco de Canaveses, vem muito novo para o Porto onde para além de estudar ingressa na antiga Efanor e mais tarde passa para a Sonae que na altura era uma pequena empresa que atravessava dificuldades e que Belmiro não só reabilitou como transformou num império
Com um passado modesto, filho de uma costureira e de um carpinteiro, subiu às suas custas a escada do sucesso. Quando entra para a Sonae em 1974 para o cargo de Director de Investigação e Desenvolvimento, Belmiro não sonhava que daí a três anos a empresa sofreria a expansão e crescimento a que todos assistiríamos.
Em 1985, a Sonae abre o primeiro hipermercado português em Matosinhos, o primeiro Continente de uma enorme cadeia que hoje se estende por todo o território nacional. Começa ai a sua grande aposta no retalho e a grande viragem do que fora uma pequena empresa agora transformada em Grupo empresarial. Com a abertura deste hipermercado é marcado o início da Sonae Distribuição e todo um novo mundo se abre para a empresa.
Nunca lhe foi conhecida nenhuma filiação política e provavelmente devido ao cargo que ocupava sempre se tentou posicionar com discrição e isenção. Foi o primeiro empresário português a lançar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) a uma outra empresa portuguesa por valores ainda hoje considerados astronómicos. Essa operação hostil foi travada pela Golden Share que o Estado português detinha e que José Sócrates utilizou através da Caixa Geral de Depósitos que enquanto accionista podia chumbar a operação mantendo assim a PT na alçada do Estado.
Belmiro assume este risco numa altura em que os negócios da Sonae já se estendiam a outras áreas de intervenção: na comunicação social, o Grupo detinha o jornal Público, nas telecomunicações deteve a Optimus, no turismo com investimentos no Tróia Resorts e no retalho com marcas como Worten, SportZone, Modelo e Modelo Bonjour, Continente, Vobis e vários centros comerciais espalhados pelo território nacional.
Em 1983 levou a Sonae para o mercado bolsista tendo ficado cotada em bolsa a partir desse momento com um investimento inicial de 500.000 contos, o que equivale a 2 mil milhões de euros actualmente.
Paralelamente a todas estas actividades, Belmiro também actua no lado social. Fê-lo criando a Fundação Belmiro de Azevedo em 1991 tendo esta por finalidade o Mecenato nas áreas da Educação, Cultura, Artes e Solidariedade. Desta Fundação nasce o Edulug, um think tank que atribuí bolsas para projectos de Educação.
Também através desta Fundação, foi criado em 2008 o Colégio Efanor em Matosinhos no local da velha e abandonada fábrica onde iniciou o seu percurso profissional.
Outra área à qual também era sensível era a da agricultura. Nos últimos anos, Belmiro dedicou-se ao sector primário em Portugal afirmando: “Continuarei, também, a dedicar-me ao sector primário em Portugal, incluindo a primeira e segunda transformação de produtos naturais, que considero, como tenho dito muitas vezes, absolutamente crítico para o sucesso do nosso país” explicou na mesma altura.
Considerado tanto cá como lá fora como um empreendedor de excelência com vários méritos e comendas atribuídas bem como uma pessoa audaz e frugal, Belmiro manteve-se simples e sem tiques até ao fim.
Apesar de tudo isto e sendo que Belmiro de Azevedo nunca assumiu nenhuma preferência política nem assumiu nenhum cargo político em todos estes anos, foi simplesmente um empresário, um empreendedor e um mecenas, é triste que hoje a Frente de Esquerda tenha chumbado um voto de pesar pelo seu falecimento.
Belmiro sonhou, ambicionou, trabalhou, conseguiu e concretizou o seu lugar na História de Portugal.
Portugal perde uma figura de excelência. Um exemplo de que é possível subir na vida de forma limpa e desempoeirada. Não deixemos portanto que este exemplo caia no esquecimento.