RUI CANOSSA |
O dia estava lindo, perfeito. Uma brisa quente atravessava o jardim por onde Luís e Regina passeavam. Sentaram-se num banco do jardim onde os dois tinham dado o primeiro beijo. Regina olhava os pássaros à sua volta nas árvores com os seus lindos olhos verdes. Ele, nervoso, aproveitou o momento da sua amada para, trémulo, retirar uma caixinha de veludo do seu bolso. Abriu-a e um lindo anel começou a brilhar. Através da sua voz embargada pela emoção disse: “Como sou o homem mais feliz do mundo. Encontrei a minha alma gémea no meio de 4 mil milhões de mulheres. Aceitas casar comigo?”
Não, não estou a tentar começar uma carreira como novelista. Na verdade estou a tentar mostrar que a nossa vida é feita de escolhas, de decisões. Deixamos o guarda-chuva em casa, apesar de o céu estar cinzento, fazemos o euromilhões com base nos números do dia de aniversário, vamos de férias para um lugar que não conhecemos por sugestões de desconhecidos feitas online. Mas deveremos fazer contas ou deixamo-nos levar pelo instinto?
Voltemos ao nosso par romântico. Na verdade o Luís tinha um universo de escolhas muito mais restrito. 43 para ser mais exato. Vamos fazer algumas contas. O Luís vive em Amarante onde vivem cerca de 54 mil pessoas. Metade são mulheres, ou seja, 27 mil. Agora aplicando o Princípio de Pareto (economista italiano) também conhecido como a regra 80/20, que diz que 80% dos efeitos vêm de 20% das causas, só 20% das mulheres estarão no mesmo grupo etário do Luís, o que significa 5400 mulheres. O Luís só achará atraentes 20% dessas mulheres, ou seja, 1080.Destas eleitas, por seu lado, só 20% acharão o Luís um homem bonito, o que corresponde a 216 damas. Se daqui tiramos que só 20% terão compatibilidade de feitio com ele, então o número é de 43. Uma em 43, a probabilidade de se terem apaixonado era afinal muito maior do que ele pensava e que usou na sua estratégia de conquista.
Já sei, querem saber o que Regina disse ao Luís. Vamos fazer contas? Ele estava esperançoso, pois tinha 50% de hipóteses dela dizer sim. Se bem que ele sabia que, na cabeça dela, só havia uma resposta possível. Ou acham que ele anda a brincar com a sorte? Ela disse sim.
As aplicações da Teoria das Probabilidades são quase infinitas. A incerteza é omnipresente no nosso dia a dia e esta teoria permite-nos estudar quais os cenários que têm maior possibilidade de se tornarem reais. Eis algumas probabilidades que comandam a nossa vida. Morrer ao ser atingido por um meteorito: 1 em 475 milhões; ganhar o euromilhões: 1 em 140 milhões; ser mordido por um tubarão: 1 em 11 milhões; ser atingido por um raio: 1 em 174 mil; ser auditado pelas finanças: 1 em 100; ter um colega de trabalho chamado João: 1 em 50; viver numa casa de 5 divisões: 1 em 3; chover amanhã: 1 em 3!
Despeço-me agora porque tenho de ir fazer 43 entrevistas!
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