INÊS LOPES |
Caminho.
O cinzento do céu, calmo e nevoento, funde-se com o cinzento da minha alma, enquando caminho por entre as folhas infinitas do Outono. Tudo o que me rodeia leva ao voo do pensamento (“É mais uma estação da alma do que da natureza.”)
Com o pensamento, voam as folhas. Balançam nas árvores. Cada qual com a sua hora. Uma hora para cair. A separação de dois corpos que momentaneamente foram o mesmo.
Também eu me tento separar daquilo que fui. Pelo caminho, vou largando os finais de que já não preciso, aqueles que já não me fazem falta, porque só trazem aquilo que já não quero mais lembrar.
As árvores, perto ou longe, vibram em vermelhos brilhantes, laranjas e amarelos, iluminando mais a terra do que o próprio sol. Revelam cores que esconderam durante o ano inteiro.
Entre uma brisa quebradiça, pura e fresca, sinto a estrutura óssea da paisagem ao ver as folhas cair. Sinto a minha solidão fundir-se com a solidão daquilo que me envolve.
Nunca pensei identificar-me tanto com as árvores.
À medida que caminho, observo o encurtar dos dias, que são puxados pelo adormecer do céu, numa imensa extensão de escuro. Assim cessam os dias.
Sinto a terra debaixo dos meus pés, enquanto tento assimilar tudo. Estou a viver.
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