terça-feira, 28 de novembro de 2017

PAI, TAMBÉM É QUEM CRIA

CRÓNICA DE ELISABETE SALRETA
Pai, também é quem cria.

Esse sentimento é transversal às espécies, pois existem milhentas histórias que o atestam.

Nada é mais gratificante que ter uns coraçõezinhos a bater descompassados, à minha espera quando chego a casa. Encostados à porta, empurram-se para chegarem até mim primeiro. Quando a abro, saem num revolto trambolhão e as meninas correm pelo adro, procurando nem elas sabem o quê. É apenas um reflexo para dizer que são capazes e mostrar a felicidade do momento. Depois, tenho de cumprimentar a todos, começando pelo mais velho. E exigem que assim seja.

Chegou a hora de ler o jornal, como digo. Cheiram as portas dos vizinhos, os tapetes, para saber quem passou e se existem novidades. Habitam neste prédio, cerca de 8 gatos e quatro cães, muitos cheiros, muitas novidades a serem transmitidas. Que levam o seu tempo. Se entra um vizinho, tem de ser saudado e nos dias bons, se o vizinho é conhecido de longa data, até deixam que lhes passe a mão pelo lombo. Há que cultivar as amizades e assim, o vizinho leva aquele cheiro para o animal da sua casa.

Claro está que se trago um cheiro diferente para casa, isso é tratado como uma traição. Tenho direito a umas rosnadelas, bufadelas, uns ssssfffs bem audíveis e a ver os dentes bem brancos e afiados. E depois ainda me ignora, porque não há desculpas para uma traição. Sim, um gato não tem o seu amor próprio.

Saem duas, as meninas. O garoto fica à porta a tomar conta delas. Raramente sai do seu posto de vigia na umbreira da porta. Guarda principalmente a pequena, a mais nova, o bebé especial. Segue os seus passos prudentes na descida das escadas. Está pronto a intervir, caso a Mia necessite da sua ajuda. Já aconteceu ela desequilibrar-se e cair alguns degraus. Ele saiu a correr na sua direcção e cheira-a como um pai preocupado perguntaria pelo seu estado.

Nas brincadeiras cá em casa, também existem abusos, mas ele põe-lhe uma pata em cima da cabeça e desce- a até ao chão, com os olhos semicerrados e as orelhas para trás. Pare-se querer dizer – põem-te fina que a vida não é cor de rosa.

Existem sempre os momentos de briga que acabam com uma soneca e muitas lambedelas. Por vezes a garota abusa e morde-o nas patas. Ele resmunga com ela, abocanha-a numa orelha que leva até ao chão. É a sua forma de a meter na ordem. Mas procuram-se para dormirem juntos, por vezes entrelaçados.

E eu fico feliz, porque acho que eles também são o nosso reflexo, tal como são os nossos filhos. E educam como nós fazemos. São tranquilos quando vivem num ambiente tranquilo. E mimam como nós fazemos.

É uma vida tão doce!!!

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