LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES |
Gosto de chuva. Sempre gostei! Ter crescido no meio da natureza aguçou este meu gosto. O prazer de sentir o cheiro a terra molhada, o som forte ou apenas uma espécie de murmúrio, a cair nos telhados de telha vermelha… Até o pingar incessante dos beirais que, juntamente com a passagem do tempo, provocava buracos no cimento à volta das casas era perfeito.
À época, e nesta altura do ano, chuva era sinónimo de ficar junto à lareira, à volta da qual a família se reunia a assar castanhas. Tão bom! Caminhar para a escola a pé, quer chovesse ou não, também fazia parte, mas tudo valia a pena quando se chegava a casa e havia uma lareira quentinha… E um sorriso de mãe!
Observar através das janelas embaciadas as árvores a baloiçar com a força do vento que, frequentemente, uivava de forma assustadora, telhas que por vezes “voavam” sob as suas rajadas, o tempo mais frio que obrigava a um agasalho... Enfim, já não há outonos como antigamente!
Atualmente, e a residir na cidade, a chuva já não tem o mesmo encanto. O cheiro intenso a terra molhada, por força do pavimento das ruas, quase não se sente. As janelas duplas e os estores herméticos atenuam o ruído do trânsito, mas também o som melodioso da chuva a cair na calçada da rua. Do vento também quase se perde a voz, muitas das vezes, apenas o ondular das árvores é percetível…
Mesmo assim, continuo a gostar de chuva, principalmente nos dias em que posso usufruir do prazer de a ver cair através das janelas de casa. Já se estiver metida no trânsito, que entope completamente as ruas da cidade quando esta cai mais intensamente, já não é a mesma coisa... Porém, o prazer de entrar no conforto de casa e sentir que a chuva continua lá fora, em nada se alterou.
E os fins-de-semana chuvosos? Ah, estes dias enchem-me o coração. Cheiram a família, bolos, canela e chá quentinho!
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