REGINA SARDOEIRA |
Escrever escrever escrever como se ganhasse vida depois das palavras e nunca soubesse o que digo porque saber é pensar e pensar é destruir e destruir é amarrar o coração nas tenazes da angústia eu quero acordar com o sol e saber que a lua já foi porque aquela fímbria de prata nem chega a ser luz é só um reflexo mínimo do olho superabundante e divino e quando a divindade surge com o seu manto tecido em oiro e cristal os homens devem retirar-se para as suas tocas e deixar a claridade lavar a escória do pecado e pecado não é esse atentado ao bem dos cristãos essa lamúria que esfacela joelhos nas lajes corruptas dos templos pecado é esse atentado à vida que em cada dia ali está esplêndida como um fruto maduro voraz como uma fera faminta sedenta como um rio que a seca estiolou ah eu sei que não me entendeis que passais por mim turvados com os olhos nos outros que me deixais para o fim nas vossas listas sujas da tinta dos arquivos morais mas que importa essa moral amordaçada diante deste espírito livre e deste corpo selvagem que um dia ousou rejeitar o sopro do hálito do outro e se ergueu triunfante do cume da sua ascensão solitária bem sei que não podeis entender-me vós todos que buscais um ninho aquecido e fechado para produzirdes cada vez mais crias que serão cada vez mais frágeis porque o mundo deixou de poder alimentar criaturas e tudo o que nascer será monstruoso e vil ensinar-vos o caminho eu digo-vos o caminho não existe
Exercício do dia: fazer a pontuação deste texto, se acharem que é preciso.
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