terça-feira, 2 de agosto de 2016

NO DESAPARECIMENTO DO PROFESSOR MONIZ PEREIRA

HERMÍNIA MENDES 
Há pessoas que morrem, sem mais…

Dão as costas á vida, ao mundo, á memória colectiva. Não mantiveram laços, não deixam marcas. Desaparecem. Há outras que são eternas, não na vida, mas na memória.

Ver perecer alguém que amamos, admiramos e com quem privamos de perto, é uma dor. Mas se esse alguém viveu intensamente, teve a força e a garra para deixar uma marca, para orientar e influenciar decisões e destinos, ajudar a despontar mitos e orgulhos nacionais, então não devemos somente chorar a sua morte, mas celebrar uma vida de uma luz que jamais se apaga.

O Senhor Professor Mário Moniz Pereira é um destes privilegiados que, sem dúvida alguma, se libertou da lei da morte. Foi professor e deixou marcas nos seus alunos. O meu marido foi um dos seus alunos e amigos e descreve-o assim: “era fantástico”!

Uma descrição em duas palavras, que representam um tratado. É tudo. A bondade, a simpatia, a genialidade, a graça. Tudo…

Foi um português dos quatro costados e, no atletismo, pôs de lado a “portugalidade envergonhada e complexada” que existia até então. Dizia que “ser português é ser como os outros, não somos nem mais nem menos”. O seu objectivo era treinar um atleta que fosse aos Jogos Olímpicos e viesse de lá com uma medalha de ouro. E assim foi. Carlos Lopes é o primeiro português a ganhar uma medalha de ouro na maratona de Los Angeles No entanto, o Prof. Moniz Pereira, participou em 12 edições dos Jogos Olímpicos

Começou em Londres em 1948 e terminou em Sydney no ano 2000.

Recordo esse feito heróico e histórico como se fosse hoje. Portugal levanta-se de orgulho e festeja massiva e ruidosamente.

Para além de Carlos Lopes, Moniz Pereira cria e ajuda a elevar a campeões mundiais vários atletas nacionais, que treina e acompanha na sua Escola de Atletismo.

Como referem muitos dos seus atletas, destacava-se pelo seu trabalho diário. Entendia que os atletas tinham que treinar sem interrupção, em qualquer circunstância. Em condições meteorológicas adversas, em dia de festas familiares, em todos os dias da semana e do ano.

Mas é a sua capacidade de motivação e persuasão que todos referem.

A fibra de um líder, de um impulsionador de Homens, que saltam a escala nacional para a europeia e mundial, convencidos de que são capazes, que conseguem ir mais longe.

Ligado e praticante de várias modalidades desportivas, chega a ser preparador físico da equipa de futebol do Sporting, acaba por virar a sua atenção para o atletismo e é aí que atinge o máximo da notoriedade no seu trabalho. Licenciado em Educação Física pelo INEF, também chega a leccionar nesse instituto. E, mais uma vez, marca os seus alunos. Pelas sua idéia e técnica do desporto, muito para além do seu tempo.

A par do desporto, escreve, toca piano e canta o fado. Acompanha a cultura como o atletismo. É mais um Grande Português que nos deixa fisicamente, mas que permanece na história e na memória.

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