LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES |
Quem como eu tem a sorte de ter filhos saudáveis, muitas são as vezes que esta realidade, lamentavelmente, nos passa um pouco ao lado.
Há umas semanas tive uma consulta num Hospital Central da cidade do Porto e, enquanto esperava para ser atendida, apercebi-me de uma criança que pela sua estatura teria entre os dez e os doze anos, muito agitada, nitidamente amedrontada, que sempre que ouvia o interfone, se levantava da cadeira e deambulava pela sala de espera emitindo sons desconexos, porque não conseguia expressar-se numa linguagem correta.
Aquela criança sabia exatamente a causa de ali estar e nem o facto de ser uma simples consulta de oftalmologia a sossegava, os olhares ansiosos que lançava para os gabinetes de exame mostrava quanto os receava.
Mantive-me sentada, como todos que esperavam pela sua vez, e então, por um momento encontrei o olhar daquela mãe. Não desviei o olhar, ela também não. Tinha um olhar sereno, resignado, mas sem brilho. E continuou, pacientemente, a tentar acalmar o filho, abraçando-o. Em circunstâncias idênticas, eu entretive os meus filhos lendo-lhes histórias ou fazendo jogos de palavras.
E sem dúvida que o que mais se sensibilizou naquela tarde foi e expressão de resignação e impotência de quem não consegue, numa linguagem normal, chegar até ao entendimento de uma criança especial.
Às pessoas que, cheias de boa vontade tentavam ajudar com palavras: “não tenhas medo, ninguém te faz mal”. Esta mãe olhava com indulgência, tipo, “obrigada pela tentativa, mas ele não entende as palavras” e continuava com o rapazinho colado ao peito. Quase sempre em silêncio, apenas o abraçava.
Entretanto, a criança foi chamada para a sala do primeiro exame. Nada de especial para nós, apenas uns simples exames indolores, mas tal era a agitação do menino que não conseguiram efetuar o exame e foi levado diretamente para o gabinete de consulta. A agitação aumentou e entre as vozes do pessoal médico, sobressaia a voz calma da mãe. De seguida foi retirado para outro gabinete e os gritos continuaram…
Chegou a minha vez de ser atendida e durante todo o tempo em que estive na consulta, continuei a ouvir os protestos da criança, agora mais espaçados e débeis. Imagino que tenha sido necessário sedá-lo… E fiz o percurso até casa a pensar no quanto sou sortuda pelos filhos que tenho.
Mas também no quanto admirei aquela mãe, que manteve sempre a mesma postura calma e terna na forma como lidou com o filho. Uma criança especial!
Sem comentários:
Enviar um comentário