ELISABETE SALRETA |
A nossa sociedade esconde, por vezes, verdadeiras novelas verídicas e passadas em tempo real. Quando se lêem histórias romanceadas sobre nobres cavaleiros da idade média, falam-se sempre nas donzelas que os aguardavam durante tempos infinitos e iam alimentando os seus amores platónicos, lendo outras histórias, olhando as estrelas das torres cimeiras dos castelos dos senhores feudais. Eram sangue suor e lágrimas, em nome de uma qualquer honra e donzelas que desperdiçavam as suas vidas a chorar pelo seu cavaleiro que tinha abalado para a guerra e tanto demorava a voltar. E haviam as velhas alcoviteiras que tratavam de fazer de um tudo para que o suporte desses amores tremesse ou que a virtude da donzela fosse beliscada. Eram almas frustradas que bebiam a negatividade, que viviam do sofrimento, porque elas próprias não souberam ser felizes.
Foram tempos tão cruéis que desenharam no ADN humano uma assinatura inteligível e que perdura até hoje. E é transversal às espécies.
Mia chora de amores pelo seu cavaleiro andante. Procura-o numa luta incessante contra si própria, numa jornada sem um fim à vista. Pergunta a todos por onde passa, se o viram e quando chegará. É louvável a sua dedicação, altruísta, que sem perder o folego, calcorreia as redondezas por horas a fio.
Caminha quilómetros, numa ansia muda, com o seu coração apertado, mas cheio de esperança. A cada curva do caminho, pergunta pelo seu amor. Chama-o num balbucio só dela. Sente-se a sua dor ao ouvir aquela lengalenga que nos faz ter vontade de o procurar também.
Depois encosta-se à vizinha que a olha com desdém e que lhe grita impropérios, mas mesmo assim não a fazem desistir. Por vezes os gritos são acompanhados de uma chapada. Louca, a velha, com tanto desdém por já não acreditar no amor.
Mia continua a sua busca, demorando-se na próxima encruzilhada. Olha o vazio, pois os seus olhos não veem, mas o seu coração sente. E sempre que sente gente pergunta pelo seu amado. Essa incansável sofreguidão, mostra o seu valor, o seu intimo, a sua perseverança por um amor que não chega, que não a abraça, que não acalenta a sua dor. Mesmo assim, o caminho sem volta do enamoramento, dita o sentido dos seus passos e a cada metro percorrido, canta mais um verso daquele poema maldito que se vai tornando vazio e sem sentido.
Quando as suas pernas se recusam a dar mais um passo, pede arrego ao seu amigo de sempre. Descansa junto a ele, até que o seu cavaleiro volta a ensombrar os seus sonhos e ela retorna à sua infindável caminhada….
A gata Mia está com o cio!
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