DIOGO VASCONCELOS |
Hoje que escrevo esta crónica é dia 25 de Novembro, dia de “Black Friday”. O consumismo está em alta, vejo notícias de pessoas a correr para as lojas, parques de estacionamento de shoppings completamente lotados. Segundo uma notícia do jornal “Público”, em 2015 a “Black Friday” rendeu qualquer coisa como 700 milhões de € aos comerciantes. Este ano não foram apenas as lojas de comércio que aderiram a esta febre consumista. Os Hotéis, os Restaurantes, os Ginásios. Todos dizem: “consome hoje que amanhã pode não haver nada”. É nesta lógica de extremismo que me pergunto se este tipo de adição pode ser comparado a algum vício como o alcoolismo ou a toxicodependência. Há psicólogos que dizem que sim, que é comparável. É então que me surge o sentimento de misantropia sobre a espécie humana.
Estamos a aproximar-nos das épocas festivas. Este dia é um pré-aquecimento para as vésperas de Natal de Ano Novo, não bastante, também coincide com a época que os Bancos Alimentares reúnem esforços para poder a presentar às famílias mais carenciadas com um cabaz digno de Natal. Por estes dias tive a oportunidade de entrevistar o Presidente do Banco Alimentar do Porto, o Sr. Cândido da Silva. Um homem extraordinário, com uma dinâmica, uma vontade de ajudar, uma resiliência impressionante. Disse-me ele: “nós no Banco Alimentar quando precisamos de comprar algo para a instituição, não perguntamos quanto custa, mas sim quantos quilos de arroz corresponde”.
Eu agora pergunto o mesmo: “quantos quilos de arroz correspondem toda esta febre consumista?” Numa sociedade cada vez mais fragmentada, em que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, este tipo de dias ainda atira os mais necessitados para o fundo do poço. Sentem-se como pátrias da sociedade. Os nossos valores estão completamente virados do avesso. Somos egocêntricos, pensamos que os outros estão mal por culpa deles, porque não lutara o suficiente, porque não estudaram, porque não aproveitaram a oportunidades que lhes foram oferecidas ao longo da vida e agora estão assim… a mendigar para comer. Não! Não é essa a verdade.
Nem todos tiveram a sorte de crescer em ambientes capazes de proporcionar todas as necessidades materiais e afetivas de que o ser humano precisa, alguns foram colocados em locais tão inóspitos, tão desumanos que custa por vezes acreditar. Por isso, quando forem afetados pela febre do consumismo, perguntem-se: “quantos quilos de arroz seriam”?!
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