quarta-feira, 9 de novembro de 2016

INFORMAR SEM CONHECER

ARMANDO FERREIRA DE SOUSA
Face a pacatez do nosso povo e a brandura dos nossos costumes, acredito que alguns dos jornalistas, ditos de investigação, se debatam com grande dificuldade para, semanalmente, produzir peças jornalísticas que informem o seu público de forma cativante e apelativa.

E perante tal, a alguns desses profissionais da informação apenas resta temperar o seu jornalismo com umas pitadas de efeitos especiais e de teorias da conspiração, que tão bem caem na pouco informada e preguiçosa consciência lusitana.

De facto, semanalmente, peças jornalísticas que se deveriam limitar a expor factos dignos de horário nobre, afinal dedicam-se à recriação de cenas que na verdade nunca aconteceram, a não ser nas mentes de algum argumentista de telenovela desempregado, ou então dedicam-se a contar episódios que nos parecem muito sérias e comprometedoras não pelo seu real conteúdo, mas apenas porque como som de fundo foi colocada uma qualquer música retirada de um filme de “suspense”. Pensemos então, como episódio paradigmático do que vimos falando, na recriação fantasiosa que uma televisão ousou colocar no ar, relativo à morte de uns jovens numa praia deste país, onde estes eram retratados de olhos vendados junto ao mar, isto tudo sem que nenhuma prova tivesse sequer indiciado que tal tivesse acontecido. Ou então pensemos num programa de televisão que se dedicou a um pedido de empréstimo de 4000 euros (sim 4000 euros) que um juiz pediu a um cofre de previdência e que, ao que parece, terá sido decidido um mês antes de outros pedidos semelhantes...

E, bem recentemente, outra preciosidade nos foi presenteada pelo mesmo tipo de jornalismo de investigação, ou, arriscamos a dizer, de sensação.

Falo pois do caso das mortes ocorridas durante a instrução militar numa das nossas tropas especiais.
Ora, durante semanas que se vem falando neste caso sem muita preocupação pelas busca da verdadeira informação, com muitos palpites à mistura e sem grande respeito pelas vitimas, pelos familiares das vitimas e muito menos pelas instituições.

Vemos assim esse caso envolto num circo mediático e pouco propício à realização de investigações isentas e credíveis, ao ponto de ir apontando sucessivos responsáveis pela tragédia, a cada sofrido passo que a investigação vem dando.

Hoje a culpa é do instrutor A e B, amanha a culpa já é do enfermeiro X e Y, depois do médico Z, e novamente do instrutor A e B, acompanhado agora do comandante C.

Esquecemo-nos contudo que todas estas pessoas apontadas tão levianamente como culpadas muito provavelmente morreriam para salvar qualquer camarada de armas numa situação de combate real e que a instrução militar tem como finalidade última o treino para combate, que a qualquer momento se pode tornar real, na proteção do nosso país e dos seus cidadãos!

Esta chicana jornalística não é, nem pode ser, maneira de fazer jornalismo sério, muito menos de investigação, que, em nome da informação, afinal nada informa e, ao invés, acaba por ir destruindo não só a própria investigação, como as instituições e as pessoas envolvidas, sendo elas as vítimas, os culpados ou terceiros.

Posto isto, convenhamos, urge perguntar, onde se encontra o verdadeiro jornalismo de investigação? Distraído a fazer mau jornalismo? Estará silenciado? E porquê?

Sem comentários:

Enviar um comentário