GABRIELA CARVALHO |
“Se é demência é Alzheimer.”
Frequentemente ouvimos dizer pelo senso comum esta afirmação.
Hoje, nesta crónica, falo resumidamente sobre DEMÊNCIA. Apenas demência e não, um tipo específico de demência que é a Demência de Alzheimer.
A demência é um processo orgânico cerebral caracterizado por uma perturbação da memória, associada a pelo menos um défice cognitivo, representando um declínio em relação ao nível prévio de funcionamento (Fernandes et al, 2011; Hay, J., 2001).
Este declínio das funções cognitivas está também associado a uma alteração de comportamento, determinando um declínio nas Actividades de Vida Diária (Fernandes et al, 2011). Como critérios de diagnóstico referem-se o défice de memória, das funções cognitivas, do controle emotivo ou alterações de comportamento (labilidade emocional, irritabilidade, comportamento social inadequado); dificuldade nas funções ocupacionais ou sociais; declínio do nível anterior de funcionamento; o défice cognitivo deve ter uma duração superior a seis meses (Fernandes et al, 2011).
No ano de 2013 os dados revelam cerca de 44.4 milhões de pessoas com demência em todo o mundo. Este número aumentará para 75.6 milhões em 2030 e 135.5 milhões em 2050 (Alzheimer Disease International: Dementia Statistics, n.d.).
A nível Europeu, afecta, em geral, pessoas idosas com uma prevalência 1,6% aos 65 anos e de 20.9% aos 85 anos (Alzheimer Europe: Prevalence of Dementia in Europe, 2013).
Em Portugal, dados do EuroCode (2009) evidenciam que o número total de doentes prováveis com demência era de 153.00 (Fernandes et al, 2011). A este nível é referenciado que dois terços das pessoas idosas com demência estão institucionalizados (Figueiredo et al, 2013).
Na última década a literatura tem evidenciado que o conhecimento sobre as necessidades de saúde e de reabilitação (que engloba a estimulação cognitiva, multissensorial e motora) da população com demência é insuficiente (Barbosa et al, 2011; Sánchez et al 2012). No entanto, a associação à farmacologia de abordagens não farmacológicas, constituídas essencialmente pela estimulação cognitiva, multissensorial e motora, tem vindo a aumentar, principalmente em estados mais avançados da demência (Figueiredo et al, 2013; Sánchez et al 2012).
A estimulação motora caracteriza-se por um conjunto específico de exercícios que aumentam a mobilidade e retardam o declínio na realização das actividades de vida diária; a estimulação multissensorial activa os sentidos, sem recurso a processos cognitivos complexos, como a memória e a aprendizagem, e tem demonstrado reduzir as alterações de comportamento (como a agitação ou a apatia), aumenta os períodos de atenção e aumenta a comunicação e interacção das pessoas com demência (Bauer et al, 2012; Cruz et al, 2011; Figueiredo et al, 2013; Marques et al, 2012; Sánchez et al 2012).
Vários estudos têm explorado estratégias de intervenção não farmacológica em dois principais campos: programas de intervenção com pessoas com demência com base na estimulação multissensorial e motora; e programas de formação aos funcionários das instituições dotando-os de competências de trabalho para com esta população (sendo avaliado a aplicação do aprendizado nas rotinas diárias com estes doentes) (Bauer et al, 2012; Cruz et al, 2013; Cruz et al, 2011; Figueiredo et al, 2013; Sánchez et al 2012).
Em crónicas futuras, abordaremos mais pormenorizadamente estes estudos, bem como a estimulação cognitiva, definindo os vários tipos de demência.
“Mais do que acrescentar anos à vida, a Terapia Ocupacional acrescenta vida aos anos.”
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Referências Bibliográficas:
Referências Bibliográficas:
- Alzheimer Disease International: Dementia Statistics. (n.d.). Retrieved 14 de Maio, 2014, from http://www.alz.co.uk/research/
statistics - Alzheimer Europe: Prevalence of Dementia in Europe. (2013). Retrieved 14 de Maio, 2014 from http://www.alzheimer-europe.
org/Research/European- Collaboration-on-Dementia/ Prevalence-of-dementia/ Prevalence-of-dementia-in- Europe - Barbosa, A. L., Cruz, J., Figueiredo, D., Marques, A., & Sousa, L. (2011). Cuidar de Idosos com demência em instituições: competências, dificuldades e necessidades percepcionadas pelos cuidadores formais. Psicologia, Saúde & Doença, 12(1), 119-129.
- Bauer, M., Rayner, J., Koch, S., & Chenco, C. (2012). The use of multi-sensory interventions to manage dementia-related behaviours in the residential aged care setting: a survey of one Australian state. Journal of Clinical Nursing, 21, 3061–3069.
- Cruz, J., Marques, A., Barbosa, A., Figueiredo, D., & Sousa, L. X. (2013). Making Sense(s) in Dementia: A Multisensory and Motor-Based Group Activity Program. American Journal of Alzheimer’s Disease and Other Dementias, 00(0), 1-10.
- Cruz, J., Marques, A., Barbosa, A. L., Figueiredo, D., & Sousa, L. (2011). Effects of a Motor and Multisensory-Based Approach on Residents with Moderate-to-Severe Dementia. American Journal of Alzheimer’s Disease and Other Dementias, 26(4), 282-289.
- Fernandes, L., Pereira, M. G., Pinto, L. C., Firmino, H. & Leuschner, A. (2011). Jornadas de Gerontopsiquiatria (1ª ed.). Águeda: Artipol – Artes Topográficas, Lda.
- Figueiredo, D., Barbosa, A., Cruz, J., Marques, A., & Sousa, L. (2013). Empowering Staff in Dementia Long-Term Care: Towards a More Supportive Approach to Interventions. Educational Gerontology, 39: 413–427.
- Hay, J. (2001). Doença de Alzheimer e Demência (1ª ed.). Lisboa: Plátano Edições Técnicas.
- Sánchez, A., Millán-Calenti, J. C., Lorenzo-López, L., & Maseda, A. (2012). Multisensory Stimulation for People With Dementia: A Review of the Literature. Am J Alzheimers Dis Other Demen, 28(1) 7-14.
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