sábado, 26 de novembro de 2016

“FAIAL DA TERRA: O PRESÉPIO DA ILHA”

CARLA LIMA
O Faial da Terra é uma freguesia do Concelho da Povoação, na Ilha de São Miguel, nos Açores. Tem aproximadamente 13 km2 e 400 habitantes.

O Faial da Terra, também conhecido como “O presépio da ilha”, pode ser uma freguesia muito pequena mas tem muito para visitar. Em relação ao património, há que destacar os fontanários, o Coreto, o busto do Padre Elias e principalmente a Igreja da Nossa Senhora da Graça, padroeira da freguesia, e a Ermida de Nossa Senhora de Lurdes, que foi gravemente atingida pelo sismo de 5 de Julho de 1932.

Quem desejar visitar os vários locais de admiração desta freguesia povoacense poderá ainda apreciar os Moinhos de Água; o Miradouro da Ermida de Nossa Senhora de Lurdes; o antigo Porto de pesca da Baleia (único existente na Ilha de São Miguel); o Lugar do Sanguinho (primeira zona habitacional da Freguesia); a Cascata do Salto do Prego e a Fajã do Calhau.

CASCATA DO SALTO DO PREGO

A Cascata do Salto do Prego faz parte do itinerário de uma caminhada não aconselhada a pessoas com dores musculares ou pouca paciência para andar.


É uma caminhada longa que começa no Faial da Terra e termina no Sanguinho, levando aproximadamente três horas. Convém levar roupa e sapatos confortáveis. Água e umas bolachinhas ou umas sandes, serão imprescindíveis também.

O trilho é feito dentro de uma densa floresta, ladeada por uma ribeira. É magnífico! Em alguns sítios parece que estamos mais perto do céu. E o silêncio é maravilhoso e avassalador. Ao chegar à cascata do Salto do Prego ficamos sem palavras com a beleza única daquele sítio. Se fecharmos os olhos e ficarmos a ouvir o som da cascata, sai-nos o peso do mundo de cima. É como lavar a alma. Pode-se tomar banho na cascata, mas a água é muito fresca. Eu tentei e ia ficando em forma de estátua, com o frio.

 ALDEIA DO SANGUINHO
Continuando a caminhada, encontramos a Aldeia do Sanguinho. É uma aldeia rural, com cerca de vinte casas desabitadas desde o início dos anos 70. Naquele local já viveram cerca de duzentas pessoas, que o abandonaram pela ausência de condições de conforto, dificuldades de acesso e também devido à emigração. Da última vez que fiz o trilho as casas ainda estavam abandonadas. Sei que neste momento já foram reabilitadas para turismo rural, o que me dá uma certa “pena” porque aquelas ruínas no meio do nada davam um ar fantasmagórico e peculiar. Mas não deixa de ser um sítio extremamente interessante para quem procura um tipo de turismo silencioso e “no meio do nada”.

A Fajã do Calhau fica alojada no fundo de uma falésia que desce quase na vertical desde os 440 metros de altitude. Perto do mar, forma uma zona plana onde se encontra uma aldeia e uma extensa área de calhau usada para banhos. É uma localidade privilegiada pelo microclima e que se encontra entre o Faial da Terra e outra freguesia do Concelho da Povoação, Água Retorta. Actualmente, o acesso é feito por uma estrada, que passa pela freguesia de Água Retorta.
FAIAL DA TERRA

Desde pequena que tenho um carinho especial pelo Faial da Terra. Talvez pelo silêncio, talvez por ser
IGREJA DE NOSSA SENHORA
DAS GRAÇAS
considerado “o presépio da ilha”, talvez pelas pessoas e pela sua humildade. E já presenciei muitas das várias transformações que a freguesia tem passado. Uma foi a Fajã do Calhau. A primeira vez que passei um fim-de-semana com amigos no Faial da Terra foi na “antiga” Fajã do Calhau. Tenho de salientar que isto já foi há mais de vinte anos. O caminho era de difícil acesso, de terra batida com muitos buracos e muitas pedras. E não era via Água Retorta, mas sim pelo Faial da Terra. Levamos o carro e a viagem até à casa onde ficamos alojados foi tão difícil que até alguns de nós choraram. Não vou dizer quem…(eu!) Actualmente, a Fajã do Calhau é um sítio de “gente fina” com casas ricas a que só algumas pessoas têm acesso. Naquela altura era uma fileira de casinhas sem água, sem luz, sem casa de banho. Algumas (a nossa) até com ratos. E a água vinha de uma única torneira na rua que servia todas as casas, quer fosse para beber, para ir buscar com um balde para lavar a loiça ou para atirar para dentro da sanita ou para tomar banho. Mas querem que seja sincera? Foi um dos fins-de-semana mais divertidos de toda a minha vida. Fez-me lembrar a minha infância no campo e que saudades que tenho desse tempo sem internet, sem facebooks, sem iphones e em que nos divertíamos muito mais a conversar e a improvisar.

Foi também no Faial da Terra que dancei o “Pump of the jam” numa discoteca improvisada, que no fundo era o sótão da casa do dono de um café local, com a família toda do senhor. Que pedi rissóis num barzinho e que o senhor respondeu-me “saem dois girassóis!”. Que num fim-de-semana só com raparigas tomamos banho às quatro da manhã na mini-piscina pública. Que rimos tanto no quintal da casa onde estávamos que a vizinha veio bater à porta e disse “parem lá com essas gaitchadas!” e nós rimos mais por não sabermos o que eram “gaitchadas”. Agora sei que são risadas. Belos tempos!

O Faial da Terra pode ser pequeno em tamanho mas para mim é um grande baú de memórias.

“Um homem sem memória é um homem sem passado.”
Albert Camus

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