PAULO SANTOS SILVA |
Leio nas redes sociais, que ontem se assinalou o Dia Mundial da Liberdade. A comemoração deste dia, deriva de ter sido nele (no ano de 1989) que se começou a derrubar o Muro de Berlim, edificado no final da II Guerra Mundial, para fazer a separação entre a Alemanha Ocidental e de Leste.
Ironia das ironias, ficará também para a história como o dia em que Donald J. Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América. Sim, o tal que quer construir um muro entre os Estados Unidos e o México!... Entre muitas outras coisas…
Se por um lado leio e ouço imensos comentários que demonstram surpresa ou até estupefação pelo sucedido, devo confessor que não me sinto minimamente surpreendido pela sua eleição.
Nunca fui aos Estado Unidos. No entanto, tal como a muita gente certamente, é um país que me fascina e me interessa. A diversidade cultural, racial e religiosa do país é tão grande como o seu tamanho, o que faz com que tenhamos praticamente 50 países, dentro de um só. Há, em todo o caso, aspetos que me intrigam e que, na minha opinião, nos conduziram até ao dia de hoje.
É o caso do sistema eleitoral americano, que tem “particularidades” que contrastam profundamente com epíteto de Terra da Democracia, com que tantas vezes gostam de ser rotulados.
Senão, vejamos. Tudo começa com o processo de eleição dos candidatos dos maiores partidos – o Democrata e o Republicano. Aqui convém esclarecer que, ao contrário do que muita gente pensa, o sistema político americano não tem apenas dois partidos. O que acontece é que os outros têm um dimensão tão pequena que se tornam praticamente inexpressivos, dando ideia que o sistema é absolutamente bipartidário. Mas adiante. O processo começa logo “inquinado”, uma vez que a escolha do candidato destes partidos, é realizada em diferentes dias, em diferentes Estados. Ou seja, a escolha de alguns Estados, vai condicionar a escolha de outros, uma vez que alguns dos candidatos já vão desistindo ao longo do processo, partindo do princípio que não terão condições para serem nomeados como candidatos. Mesmo no dia das eleições, depois de passarmos todo este conturbado e cinzento processo, os resultados de alguns Estados vão sendo divulgados, enquanto as urnas ainda estão abertas em outros.
Obviamente que num país tão grande, haverá sempre a questão dos diferentes fusos horários. Há, inclusive, diferentes fusos horários dentro do mesmo Estado. A pergunta é, será que nós portugueses descobrimos o “ouro” ao perceber que não se podem divulgar resultados enquanto as urnas não fecharem nos Açores, o que acontece uma hora mais tarde do que no continente, de forma a que os açorianos exerçam o seu direito de voto livremente e sem qualquer tipo de condicionamento?...
Muito mais haveria a dizer sobre tudo isto. A começar pelos próprios candidatos a candidatos e pela forma como uma campanha é financiada nos Estados Unidos.
A verdade é que Donald J. Trump foi eleito Presidente da nação mais poderosa do mundo – os Estados Unidos da América.
A nação onde um dos maiores bancos faliu, quando se encontrava com a notação de AAA, atribuída pelas tão famosas Agências de Rating.
A nação onde foi eleito presidente pela primeira vez, ao fim de 240 de história como país, um afro-americano – Barack Obama – que, apesar de ter cumprido dois mandatos, ficará para a história muito provavelmente apenas por isso e por ser um “tipo simpático, com uma família simpática”. Obviamente que há aspetos muito positivos na Administração Obama, que lhe valeram inclusivamente o Prémio Nobel da Paz, em 2009.
Por outro lado, é certo que duas das grandes “bandeiras” de Obama ficaram claramente por concretizar. O ObamaCare, uma tentativa de implementar um Sistema Nacional de Saúde minimamente digno, foi completamente esmagado pelos lobbies ligados às seguradoras que ganham fortunas com os Seguros de Saúde que os americanos são “obrigados” a ter, se querem aceder a cuidados médicos minimamente decentes. A lei de recolha de armas, foi completamente falhada uma vez que cada Estado tem poder legislativo na matéria e muitos deles fizeram questão de a tornar mais permissiva, para que não ficassem nenhumas dúvidas acerca daquilo que pensavam sobre o assunto.
Convém, de qualquer forma, não esquecer que grande parte da ação governativa do Presidente depende da concordância ou discordância do Congresso, composto pela Câmara dos Representantes e pelo Senado. Neste particular, para o bem e para o mal, Donald J. Trump não terá qualquer tipo de entrave, uma vez que tem a maioria em todos estes órgãos.
Embora o discurso de ontem à noite tenha sido claramente menos agressivo do que foi a campanha, haverá certamente muitas “faturas” a pagar aos grupos de interesses que o levaram até à cadeira do poder e ninguém como os americanos para as cobrar. Veja-se o caso do Wisconsin, onde os Democratas não perdiam uma eleição desde os anos 80. Hillary Clinton não fez uma única hora de campanha neste Estado, confiando na fidelidade do eleitorado. Trump ganhou no Wisconsin.
Resumindo tudo isto, o que será a Administração Trump para os Estados Unidos e para o mundo? Neste momento, uma enorme incógnita que havemos de desvendar ao longo dos próximos tempos. Os primeiros sinais são pouco encorajadores. O júbilo de personalidades como Marine Le Pen (haverá eleições em França, brevemente) e as cautelosas reações dos líderes mundiais com Merkl, demonstram isso mesmo.
Talvez seja melhor mesmo, citar um dos lemas dos Estados Unidos – In God We Trust!!!
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