ANTÓNIO FERNANDES |
Porque já vai sendo um hábito adquirido, o da sapiência rara e individual, convém lembrar aos novos pensadores das soluções para a mobilidade urbana, de que o elemento chave dessa discussão e que mais batalhou para a sua resolução e cautela, foi o fator necessidade para a simplificação da locomoção dos cidadãos diferentes numa primeira fase e numa segunda fase o aumento significativo da população dos idosos, sendo que, a população de bebés transportados em carrinhos próprios, assim como de grávidas, entre outras tipologias de cidadãos com necessidades especiais, sendo setores da sociedade em que as problemáticas da locomoção sempre foram de constatação fácil, nunca a sua organização no sentido da reivindicação deste e de outros direitos foi de execução fácil, no tempo.
Já no que toca à organização dos cidadãos portadores de deficiência (hoje em dia tidos por cidadão diferentes…) esse movimento organiza-se nos anos setenta com a fundação da Associação Portuguesa de Deficientes (APD) de onde emerge a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) enquanto que a organização dos cidadãos idosos (associações de pensionistas, reformados e sénior) acontece mais tarde na senda da “explosão” do associativismo em Portugal. Nesta esteira aparece todo o movimento associativo vocacionado para a área social.
Aliás, este tema tem sido ao longo dos anos, pós Abril de 1974, o motivo central da regulação da mobilidade.
Olhar a mobilidade numa perspetiva aligeirada em que o primado é o daquilo que está na moda ou em uso em outras cidades com culturas diferentes, é um pouco pensar que se deve mudar um ecossistema montanhoso para um outro onde o mar seja predominante. Que é coisa de todo impossível e que por isso devia ser impensável. Embora, o exemplo, possa e deva servir de alerta.
Esse tem sido o erro clamoroso de alguns dos responsáveis pela gestão da mobilidade nas pequenas e grandes cidades e por consequência nos Concelhos que compõem os Distritos que por sua vez constituem o volume do território do País. De que não se pode separar a componente política nas vertentes económica e social uma vez que a sua interação é antagónica por motivos exclusivamente do foro da estratégia limitadora da opção politica: a vertente económica assenta na gestão de receita enquanto que a vertente social é tida como fonte geradora de despesa. Nesse sentido o suporte ideológico dos agentes envolvidos é importante porque condiciona sempre a opção politica a tomar sendo que se uma é favorecida a outra é prejudicada.
A cidade resulta das necessidades dos seus cidadãos e nunca o contrário.
Vejamos o exemplo das ciclovias e do uso de bicicleta na deslocação quotidiana tão reclamada por alguns.
Houve uma primeira experiência em Aveiro que não surtiu efeito nenhum. E uma outra em Albufeira que surte efeito por condicionalismo específico de clima, proximidade, e essencialmente porque não há transporte público local.
E temos o exemplo da cidade de Braga: ciclovia vazia durante a semana e um baixo uso ao fim de semana. Motivo principal do estado de degradação que já se notam no Monte do Picoto, Lamaçães e demais sítios aonde foi sinalizada nuns casos, e construída noutros casos.
Sem esquecer a experiência piloto encetada pela Universidade do Minho com o intuito de facilitar a deslocação da sua população estudantil e que culminou, penso eu, com o desaparecimento das bicicletas de que dispunha.
Mas... A mobilidade não é só aquilo que o nome sugere. A mobilidade é muito mais.
A mobilidade para além da deslocação envolve a arquitetura, urbana e paisagista.
As tecnologias associadas: Sinalização; informação; iluminação; outros.
Redes de transporte publico com plataformas de interfaces e “corredores” específicos que sirvam os seus utentes sendo uma alternativa ao transporte privado; na comodidade; no tempo de transporte; no custo;
Parqueamento de proximidade ao acesso.
Pensar uma cidade viva e não uma cidade dormitório por estar mais próxima de tudo aquilo que se tem por essencial à qualidade de vida.
Reordenar as dinâmicas interativas para a urbe com predominância para a ocupação turística de que a conjetura sobre a recuperação das zonas degradadas centrais sejam tónica predominante.
Enfim!...
Uma mesa. As cadeiras necessárias. E as pessoas!
Porque são as pessoas que vão dizer a cidade que querem e não um palestrante qualquer.
A cidade tem gente capaz que nunca teve a oportunidade de mostrar o seu saber.
É tempo de o fazer, ou, pelo menos, tentar!
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