FERNANDO COUTO RIBEIRO |
Somos todos capazes de nos espantar, e muito, com a evidência, aquele momento em que aquilo que já sabíamos se torna real. Um amor morto que acaba, uma mentira sabida que se descobre, uma impressão que se comprova.
O mundo está tolo, e nós estamos malucos. Já nada se entende, já ninguém se entende e, no fim, tudo se explica. E, pior ainda: tudo se compreende, como se na vida não pudesse haver coisas absolutamente inaceitáveis e absolutamente incompreensíveis, um limite onde já não se pode aceitar.
O mundo, a vida, são feitos de limites. É claro que há os limites que existem para ser ultrapassados, os limites do conhecimento, os limites da superação pessoal. Mas, depois, há os limites que nunca devem ser contornados, o limite da dignidade humana, o limite do respeito, o limite da liberdade – ideológica e religiosa –, o limite da igualdade e da equidade, o limite do amor-próprio. O assustador é que estes limites se enrodilharam na retórica do politicamente correto, da burrice e do medo. E, agora, há um enorme sentimento de vazio, de desorientação pessoal e social. Sentimo-nos perdidos porque estamos perdidos, perdemos referências e já nem a estrela polar nos indica o norte.
Precisamos de voltar, e de levar pela mão os nossos filhos às conversas sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o virtual e a realidade, o possível e o impossível, deus e o diabo, a ilusão e o sonho. Se calhar, para começar, basta voltar às conversas sobre os dias, mas à volta de uma mesa ou em frente da lareira.
Somos manipulados pela política, pela economia, pela comunicação social – todos sabemos, mas continuamos como se não fosse nada connosco, como se isso fosse um problema dos outros, do vizinho. Melhor ainda: um problema do outro lado do mundo. Nós? Nós sabemos. Claro que sabemos! Apenas nos mantemos calados porque, pobres de nós, ninguém nos ouve. e nós somos sozinhos, impotentes para salvar o mundo ou, melhor ainda: somos superiores para salvar os outros.
Acabo com um poema de BERTOLD BRECHT,
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