segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O MUNDO ESTÁ TOLO

FERNANDO COUTO RIBEIRO
Somos todos capazes de nos espantar, e muito, com a evidência, aquele momento em que aquilo que já sabíamos se torna real. Um amor morto que acaba, uma mentira sabida que se descobre, uma impressão que se comprova.

O mundo está tolo, e nós estamos malucos. Já nada se entende, já ninguém se entende e, no fim, tudo se explica. E, pior ainda: tudo se compreende, como se na vida não pudesse haver coisas absolutamente inaceitáveis e absolutamente incompreensíveis, um limite onde já não se pode aceitar.

O mundo, a vida, são feitos de limites. É claro que há os limites que existem para ser ultrapassados, os limites do conhecimento, os limites da superação pessoal. Mas, depois, há os limites que nunca devem ser contornados, o limite da dignidade humana, o limite do respeito, o limite da liberdade – ideológica e religiosa –, o limite da igualdade e da equidade, o limite do amor-próprio. O assustador é que estes limites se enrodilharam na retórica do politicamente correto, da burrice e do medo. E, agora, há um enorme sentimento de vazio, de desorientação pessoal e social. Sentimo-nos perdidos porque estamos perdidos, perdemos referências e já nem a estrela polar nos indica o norte.

Precisamos de voltar, e de levar pela mão os nossos filhos às conversas sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o virtual e a realidade, o possível e o impossível, deus e o diabo, a ilusão e o sonho. Se calhar, para começar, basta voltar às conversas sobre os dias, mas à volta de uma mesa ou em frente da lareira.

Somos manipulados pela política, pela economia, pela comunicação social – todos sabemos, mas continuamos como se não fosse nada connosco, como se isso fosse um problema dos outros, do vizinho. Melhor ainda: um problema do outro lado do mundo. Nós? Nós sabemos. Claro que sabemos! Apenas nos mantemos calados porque, pobres de nós, ninguém nos ouve. e nós somos sozinhos, impotentes para salvar o mundo ou, melhor ainda: somos superiores para salvar os outros.

Acabo com um poema de BERTOLD BRECHT,

“INTERTEXTO Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo.”

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