LUÍSA VAZ |
Muito se fala sobre a importância de “apanhar o comboio” no que toca à presença de indivíduos e empresas nas redes sociais. Há redes para todos os gostos, capazes de satisfazer quase todas as necessidades. Há redes de trabalho, de convivência social, de encontros, para empresas, para criação de negócios. A lista é infindável.
No entanto, é preciso perceber que a postura dos indivíduos que as frequentam bem como as intenções podem nem sempre ser as melhores e aí entramos em conflito entre a liberdade individual, a liberdade das empresas que possuem as redes sociais oferecerem os seus serviços e as leis que não conseguem acompanhar a velocidade com que elas aparecem no mercado.
Se virmos por exemplo o caso dos grupos terroristas, sabemos que actualmente a maior parte do recrutamento é feita online seja em redes sociais seja na “dark net” que é aquela parte da internet a que a grande maioria das pessoas não consegue aceder seja por falta de conhecimentos ou mesmo de meios. Trata-se do submundo da internet, se quisermos.
Eu sempre defendi que uma das formas de acabar com o Daesh e com grupos terroristas similares seria por um lado a asfixia financeira e por outro o corte no acesso aos meios de comunicação e às redes sociais. Se não tiverem como difundir a sua mensagem torna-se muito mais difícil para eles recrutar e para os seus seguidores serem recrutados. Não é taxativo que as elimine mas causaria sérios atrasos e danos quer na passagem de informação quer no processo de recrutamento.
Donald Trump, o recente Presidente eleito norte-americano acaba de sugerir o fecho de algumas partes da internet para impedir a disseminação da propaganda do Daesh. No entanto, por mais válida que seja esta medida, ela só funcionará na totalidade se outras Nações seguirem o exemplo.
Este é somente um dos perigos de uma utilização irresponsável das redes. A pedofilia seria outro exemplo que poderíamos acrescentar. Os roubos – visto que as pessoas não protegem a sua privacidade por mote próprio publicando fotos das casas e dos carros e informações como quando vão de férias e para onde ajudam sobremaneira os “amigos do alheio”. O ridículo é que não haja bom senso e seja necessário que existam alertas da Policia no sentido de se mudarem esses comportamentos.
Mas o perigo maior, quanto a mim, prende-se com a forma como as pessoas se relacionam actualmente. É muito fácil estar escondido atrás de uma tela de computador e insultar alguém ou praticar cyber-bulling sobre um colega de escola, por exemplo, Casos desses já levaram ao suicídio. O problema aqui é que as pessoas que praticam esses actos covardes não teriam coragem de expor – e se calhar muitos nem saberiam – os seus argumentos se se encontrassem frente-a-frente com a pessoa que agridem por esta via.
As pessoas, algumas delas, escondem-se atrás de um perfil que criam, muitas vezes bastante melhorado face á realidade das suas vidas, para destilarem todas as frustrações de que padecem e estando cada vez mais enclausuradas numa realidade paralela e bem longe da realidade quotidiana.
Só socializar através das redes por uma questão monetária, por timidez, por medo de não ser aceite, por dificuldade em se relacionar com os demais deveria ser algo que as pessoas deveriam tentar combater e não galvanizar através da sua presença nas redes.
A noção de Educação, Cortesia, Simpatia, capacidade de Diálogo entre outras deveria fazer parte do código de conduta dos frequentadores das redes em vez de ser não só esquecido como criticado.
É possível fazer uma utilização saudável das redes e usá-las como forma de procurar emprego, manter contacto com amigos ou familiares, conhecer novos produtos, desenvolver um conceito de negócio e ainda assim haver espaço para se ir tomar um café e conviver com os outros cara-a-cara. O Homem como ser iminentemente social necessita disso e não deve abdicar sob pena de ficar embrutecido e desfasado da realidade.
Torna-se quase nefasto o espaço que as redes ganharam na vida de cada um de nós. Quando passamos algum tempo sozinhos temos as nossas redes sociais de eleição como companhia – já se torna jurássico ver uma série ou um filme ou ouvir um álbum de música – e acabamos por quando estamos em ambiente de socialização quase nos sentirmos mal se estamos mais de 15 minutos sem actualizar o nosso feed de notícias. Chegamos ao ridículo de ver um grupo sentado numa mesa a falar no chat da rede social com outras pessoas em vez de prestarem atenção uns aos outros ou estarem a mostrar as últimas dos seus amigos online em vez de procurarem e incentivarem temas de conversa.
Estamos num momento em que a informação que nos chega é proveniente dos mais diversos meios, chega em muita quantidade e a grande maioria não é filtrada. Cabe a cada um de nós fazer essa filtragem quanto ao conteúdo, à necessidade e ao momento em que acedemos a essa informação.
Por mais que nos queiram desumanizar tornando-nos cada vez mais dependentes das redes e do que elas têm de subjacente nós temos o dever de zelar pela nossa integridade, pela nossa privacidade e pelo nosso direito de escolha.
Podemos sempre escolher continuar neste mundo virtual mas nunca perdendo a noção dos inúmeros benefícios que estão disponíveis para a nossa saúde física, mental e emocional no mundo real e isso não há “5 mil amigos” ou “ 1 milhão de likes” que pague.
Sem comentários:
Enviar um comentário