RUI SANTOS |
A Europa vive dias complicados. O avanço do populismo no seu território é visível aos olhos de todos. Seja de esquerda ou de direita, por toda a parte (com a excepção da Península Ibérica) os líderes populistas procuram fortalecer o seu poder nos governos, ou ascender a eles. Isto reflecte um extremar de posições políticas que poderão levar a Europa para um território que pensava-se estar ausente do pensamento europeu.
A esquerda radical europeia afirma ser a solução para o combate ao populismo, esquecendo-se que também na esquerda existe uma vertente populista. Quanto à direita mais extremada, ignora o conceito de populismo não o reclamando para si. Prefere praticá-lo a teorizá-lo. Ambos os tipos de populismo são perniciosos para o espírito europeu. Sempre que a Europa adoptou políticas populistas, ou afins, os conflitos bélicos fizeram a sua aparição.
É no centro, seja ele mais de direita ou mais de esquerda, que a Europa encontra a estabilidade que tanto lhe custou a alcançar. Além disso, uma sociedade nunca se coloca maioritariamente nos extremos políticos. Quando isso acontece o fantasma de uma guerra civil aparece inevitavelmente. Como tal, a existência de um centro político forte – obviamente nuns lados mais à direita e noutros mais à esquerda – na Europa é aquilo que deve mover quem acredita no projecto europeu. Além do mais, verifica-se que muitas vezes os extremos criam fluxos entre si. É aquela teoria que diz que «os extremos tocam-se». Veja-se o caso francês, onde a Frente Nacional cresceu em muitos círculos eleitorais que antes eram bastiões comunistas. A Bretanha é disso exemplo.
Em termos sociais, cada vez é mais usual os europeus serem numas matérias mais à direita e noutras mais à esquerda. Por exemplo, pode-se ser a favor de políticas de direita em termos económicos e a favor de políticas sociais de esquerda. Essa liberdade de pensamento é combatida pelo populismo que admite uma só visão. É precisamente nos partidos mais moderados, naqueles que ocupam o centro político – tantas vezes referidos pejorativamente como os «partidos do poder» que existe espaço para a democracia, para o pluralismo.
Numa altura em que a Europa vê subir ao poder norte-americano um populista que coloca em causa os valores europeus, é importante que na Europa surjam lideres que afrontem quem coloca em causa aquilo que a Europa construiu – e neste ponto, Angela Merkel é cada vez mais o farol político europeu – e assumam o combate ao populismo em nome do centro político europeu e da Europa.
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