REGINA SARDOEIRA |
Não é possível fazer a síntese de tantas palavras ditas, palavras que pulam por aqui e por ali, ultrapassando a pregnância de certos temas comuns e já debatidos nas condições particulares do homem no mundo. Parece muito importante discutir sobre os perigos que nos rondam onde quer que vamos; mas eu não sei se poderei alvitrar seja o que for de original, para lamentar a quantidade de energia que passa para além de todos os limites. Imagino que seria melhor invertermos o caminho e começarmos a construir juntos um lugar onde fosse ainda possível viver. Como uma criança que precisa de ganhar confiança para além das possibilidades finitas do caminho onde a situam, e depois, inevitavelmente, declina para uma actividade esclarecida que o mundo, a seguir, vai premiar ou destruir, esta ordem linear não significa necessariamente a nossa essência.
Deste modo, o processo completa-se e os homens amarram-se, entre si, com sólidas cadeias. Não tenho qualquer solução a apresentar para redimir obstáculos. Todos, ainda que silenciosos, e depois inevitavelmente compelidos a evocar a trajectória subtil de qualquer aproximação, lamentam o passado e comprometem-se, consigo mesmos ou perante multidões, a arrepiar caminho na senda de um futuro promissor. Só que tal futuro não existe. Feito de pequeníssimos instantes, o tempo derrete insensivelmente as metáforas com que nos deixamos iludir na ânsia de apanhar, um pouco mais à frente, o sonho almejado desde a infância. E, tornados homens ou mulheres, vemos a nossa pequena condição, irrequieta e sonhadora, atolada em ilusões desfeitas, carregada do verniz falso de um tempo iludido; e deixamos de ter fé. Ou esperança.
Sei bem que vem aí um novo ano. Termina em 7, e agrada-me.
Pitágoras, o filósofo, matemático e místico, criador da aritmologia, acreditava no poder primordial do número, considerando a década - os números de 1 a 10 - como tendo em si a significação e a essência do universo. O número 7 tem sua origem na soma dos antagónicos e complementares: o 1 (individual) com o 6 (colectivo), o 2 (dividido) com o 5 (integrativo), o 3 (criativo/imaginativo) com o 4 (realista/concretizador). Nestas ligações aritméticas o número 7 denotará desenvolvimento, recolhimento e perfeição no âmbito físico e espiritual.
Não faço ideia se as propriedades esotéricas, atribuídas por Pitágoras aos números, poderão servir de arrimo ou de justificação para triunfos ou desaires. Sei, contudo, que decidi considerar auspicioso o número com que termina o ano que vai começar, saturada que já estou deste 6, demasiado torcido sobre si mesmo, na redundância de um ventre rotundo onde tudo pôde concentrar-se. E é por isso que acredito na emergência cristalina do dia 1 de Janeiro de 2017 e não sinto qualquer nostalgia destes doze meses cujo sentido coeso está prestes a findar.
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