MARIA ISABEL ROSETE |
Não há propriamente uma data circunscrita nem para o nascimento, nem para a morte de Cristo – essa extra-ordinária e iluminada figura que a História nos doou por vontade de Deus, Deus feito homem (diz-se!) – para além daquelas que são demarcadas no calendário.
Não obstante estarmos, nesta época de todos os devaneios possíveis, a comemorar o nascimento de Cristo e, por extensão, a Paz, a Solidariedade, a Luz, a Verdade, o Bem, o Amor ou a Amizade, não nos podemos esquecer que a Humanidade, continua a sofrer, a ser martirizada e crucificada como Cristo o foi, um dia, assim como tantos outros judeus.
Iludir a realidade pelas comemorações natalícias convencionais não faz, jamais, a Humanidade crescer, pensar, reflectir, sobre esse sofrimento, físico e psíquico, de que ela mesma é vítima, a partir das suas próprias mãos, ensanguentadas, amiúde, pelo sangue jorrado dos corpos inocentes.
Enquanto uns estão à mesa, na noite de ceia, a confraternizar com as suas famílias, em serenidade e alegria, deliciando-se com o mais requintado dos manjares, trocando os mais caros e belos presentes, outros morrem de subnutrição, são vítimas de balas perdidas, da má-fé, das guerras sanguinárias, da violência gratuita.
Claro que este texto - escrito a propósito de uma lucida discussão recente com um amigo meu sobre o filme de Gibson, “A Paixão de Cristo” - é, naturalmente, provocatório, propositadamente provocatório, se nos centrarmos, apenas e redutoramente, de modo cego e mouco, no contexto natalício (cor-de-rosa) que estamos vivendo. Porém, o objectivo é mesmo esse: abanar as consciências, incitar as mentes à mais profunda reflexão realista, fazer renascer o espírito-crítico, por detrás e para lá de todas as máscaras ou de todos os discursos demagógicos da solidariedadesinha, da caridadesinha. O Sofrimento, a Maldade, a Crueldade, não acabam pelo simples facto do Natal ser celebrado. Lamentavelmente continuam: bem visíveis para uns (aqueles que o sentem na pele e na alma); camufladamente para outros (aqueles que se auto-iludem - os tais cegos e moucos).
Recuso-me a ludibriar a realidade; recuso-me a compactuar com a hipocrisia dos Homens, que só se lembram que há mendicantes, crianças e velhos moribundos e desamparados, povos em guerra, quando o Natal é, oficialmente, comemorado. A memória dos Homens deve deixar de ser curta; a memória dos Homens não deve ser unicamente testada, assim como a sua humanidade (ou suposta humanidade), quando o socialmente instituído é festejado.
O Espírito do Natal jamais se deve restringir ao dia 25 de Dezembro. O Espírito do Natal deve estar presente em todas as mentes, todos os dias. As luzes que, incandescentemente iluminam as ruas, não conseguem eliminar a miséria humana, pelo menos aos olhos daqueles que vêem sempre mais longe, para além das aparências, das convenções, dos preconceitos, ou do chamado política e socialmente correcto.
Então,
SEJAMOS NATAL
Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,
Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera!
- Natal é: Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor, Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens;
- Natal é: a celebração do autenticamente Humano
Em toda a sua essência autêntica
De Bondade e de Verdade;
- Natal é: o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade;
- Natal é: a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União
Dos Povos e das Nações;
- Natal é: a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas;
- Natal é: a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e da União fraternas;
- Natal é: o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana;
- Natal é: a bênção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.
Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre!
gosto da abordagem tao real e verdadeira que transparece deste texto, parabéns à escritora
ResponderEliminarCOMO MILITO NO ATEÍSMO NÃO ME INCOMODA QUE OUTROS FESTEGEM OS SEUS DEUSES... JÁ OS ROMANOS FAZIAM AS FESTAS AO BECO E QUEJANDOS,,,,,,
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