MOREIRA DA SILVA |
O tema da prostituição não é pacífico nem consensual, talvez porque esteja impregnado de tabus e, por isso mesmo, ou talvez não, também está envolvido em polémica, pelo menos quando se aborda o assunto publicamente. Talvez seja mais consensual e mais pacífico, se for feita uma abordagem pelo lado da degradação do ser humano, principalmente a prostituição de rua, a prostituição nas bermas das estradas nacionais ou secundárias, que se vê por todos os cantos e esquinas do nosso país. Infelizmente é uma degradação tal que parte o coração de quem tem, dentro de si, alguma humanidade.
Quero acreditar piamente que são muitas as prostitutas que se sentem secas por dentro, pois quando eram mais novas, provavelmente sonhavam em ter um lar, ter uma família, ter um filho para dar o que (talvez) nunca tiveram: amor. Devem ser pessoas a quem tudo foi destruído e possuem um coração desfeito em pedaços de sofrimento e têm a alma sombria, muitas vezes desde a tenra idade. Como um ferrete têm a marca da infelicidade, bem gravado em todos os cantos do corpo carcomido pela vida.
A dignificação do ser humano, que é a prostituta (de rua, de estrada) deveria ser a parte mais importante de uma chaga social, que sem medo, sem tabus, deveria ser enfrentado com a coragem dos valentes, aliás como já fez o Papa Francisco, que em meados deste ano surpreendeu tudo e todos, quando se sentou a conversar com um grupo de vinte antigas prostitutas, todas com idade a rondar os trinta anos, que vivem sob proteção, depois de terem sido salvas dos homens que as obrigavam a prostituir-se e que sofreram abusos físicos graves. Francisco tem qualificado o tráfico humano que está por detrás da prostituição, como um «crime contra a humanidade». Eu acrescento: um crime hediondo contra a humanidade!
A prostituição é uma atividade de alto risco. Ao longo dos tempos têm sido muitas as prostitutas que foram assassinadas pelos «seus clientes». Em meados deste mês de Natal, o Tribunal de Guimarães iniciou o julgamento de um homem acusado de matar, por asfixia, uma prostituta. O arguido apertou o pescoço à vítima e tapou-lhe a cara com uma almofada, para impedir que ela gritasse. Uma situação que durou alguns minutos, até a mulher morrer.
O tema da prostituição tem estado fora da agenda política, mas deveria ser um assunto abertamente discutido pela sociedade civil. Os decisores políticos, em vez de considerarem um assunto não prioritário e assobiarem para o lado, como se o problema não existisse, o que deveriam fazer era enfrentarem o problema, com o máximo de humanidade.
O que está em causa são Pessoas e a sua dignidade. Tão só isso!
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