ARTUR COIMBRA |
No passado dia 5 de Dezembro comemorou-se mais uma vez o Dia Internacional do Voluntariado, uma iniciativa tomada em 1985 pela Assembleia-geral das Nações Unidas com o objectivo de apoiar grupos dedicados a acções voluntárias em diversos projectos sociais, económicos e humanitários por esse mundo além. A efeméride serviu para promover diversas actividades, um pouco por todo o país.
O acontecimento foi ainda ponto de partida para que se falasse do voluntariado e da sua expressão numérica em Portugal. Ficou a saber-se, por exemplo, que no nosso país entrega-se a tarefas de voluntariado cerca de um milhão e meio de pessoas em tarefas que, se fossem remuneradas, corresponderiam a 675 milhões de euros. É muita gente e seria muito dinheiro.
A grande lição a reter é a de que, afinal, o povo português é um povo solidário, um povo que disponibiliza algum ou muito do seu tempo livre em visitas aos doentes dos hospitais, na ajuda a idosos em lares de terceira idade, na angariação de alimentos para as famílias mais necessitadas, em visitas a gente só e carenciada, não apenas de recursos mas sobretudo de afecto.
Este é uma das faces do voluntariado, que vive de outros rostos, outras linhas, porventura mais visíveis no nosso quotidiano. Por exemplo, os bombeiros, que são a expressão mais sublime do espírito do voluntariado. Eles oferecem o seu tempo livre, e muitas vezes até o de trabalho, para as nobilitantes e dramáticas tarefas de salvar a vida e os haveres dos cidadãos, independentemente das suas disponibilidades económicas, estratos sociais, colorações politicas ou competências académicas, colocando, frequentemente, em risco as suas próprias existências e, decorrentemente, as dos seus. Quando a sirene toca, em desespero, anunciando um incêndio ou para acorrer a um desastre de automóvel, não há comodismos, não há fome, não há sono, não há mulheres, não há filhos, não há televisão, não há futebol, não há conversas que não possam ficar para mais tarde, ou para o dia seguinte. Em primeiro lugar, estão os outros: que os voluntários nem conhecem, nunca viram, nem sabem quem são. Ou antes, sabem, e essa a razão da sua missão indeclinável: são seres humanos, cujas vidas urge defender ou resgatar e cujos bens se impõe salvaguardar, até aos limites das suas forças físicas e psíquicas. São fantásticos de altruísmo, os briosos “soldados da paz” deste país.
E quem diz bombeiros, diz os activistas da Cruz Vermelha, que transportam doentes para hospitais ou para consultas, acorrem a acidentes ou a doenças, socorrem os mais necessitados, distribuem alimentos e calor humano, com o maior desinteresse, a maior generosidade, a mais destacada afabilidade.
E os dadores benévolos de sangue que, em gestos benemerentes, contribuem, com o que mais sagrado jorra nas suas veias, para salvar vidas em perigo, em tantas situações.
Todos estes voluntários (e tantos outros…) são justamente merecedores dos Óscares da abnegação, do desprendimento, da filantropia, do humanitarismo, valores tanto mais admiráveis quanto são desenvolvidos numa época marcadamente materialista, em que o ter sobreleva o ser, em que a alma se vende no mercado das conveniências.
Mas também o são os milhares de voluntários que, de norte a sul do país, vão dando o melhor de si no contexto das associações e colectividades de cultura, desporto e recreio, sem receber o que quer que seja, em puro exercício de doação aos interesses e princípios estatutários que desenvolvem. O associativismo é também um importante meio de desempenho da cidadania activa, regendo-se por princípios de liberdade, democracia e solidariedade.
Como quer que seja, os voluntários são pessoas empenhadas na melhoria do mundo, interessadas no bem-estar do próximo, seja quem for e esteja onde estiver, mensageiros da tolerância e da igualdade de oportunidades, deuses da mensagem de que é possível aperfeiçoar o mundo e os homens, a partir do seu interior e da capacidade de devoção aos outros.
Os voluntários só podem ser pessoas felizes que irradiam esse estado de espírito pelo quotidiano, por actos, palavras e missões.
Um povo que é voluntário é também um povo solidário. E a solidariedade não se expressa apenas pelo Natal, mas envolve-se em causas gratificantes, de que são paradigmas as associações de apoio às crianças em risco, ou afectadas por doenças contagiosas, as agremiações de socorro aos idosos mais carentes, como as conferências vicentinas, o Banco Alimentar contra a Fome ou situações pontuais de catástrofes, em Portugal ou no mundo.
Um povo assim é um povo bom, maravilhoso, a que nos orgulhamos de pertencer. Um povo que merece reconhecimento e não a vida injusta e castigada de impostos, de desemprego e de todas as agruras que enxameiam o dia a dia.
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