CARLA SOUSA |
O amor não vem por acaso. Apesar de muitos acreditarem que o amor é fruto do acaso, que nasce por simpatia ou paixão. Talvez por isso, muitas pessoas, não sabem o que é amar.
A sociedade em que vivemos não ensina a amar. Quem pratica verdadeiramente o amor é pouco considerado e pouco imitado na nossa sociedade.
A palavra amor acabou por se esvaziar de sentido e significado e as pessoas usam-na por tudo e por nada.
Nas relações de casal quase sempre se diz “amo-te”, sem saber o que realmente significa. Confunde-se muitas vezes amor com paixão, com atração física, ou com satisfação das necessidades reciprocas.
Amar é uma escolha. É importante que a pessoa escolha e esteja disponível também para amar. Muitas vezes amamos e não estamos disponíveis ou vice-versa. Isto pode acontecer também do lado da pessoa que amamos. É importante existir um encontro. Ambos devem escolher amar e estar disponíveis.
O amor é o lugar onde não se encontra soluções fáceis para o nosso sofrimento.
Entrar profundamente no nosso eu, pode ser doloroso, porque iremos encontrar dores antigas, angústias, fragilidades, rejeições e desilusões. As escolhas ligadas às relações afetivas podem ser as mais difíceis. Levam-nos ao passado, à infância, adolescência, à época em que nos encontrávamos sós e eramos frágeis, indefesos e em que precisávamos de cuidado e afeto, de ser escutados, acolhidos, aconchegados e escolhidos. Em suma, uma época em que precisávamos de amor.
Quando somos adultos tomamos decisões com base nisto e tentamos fugir a sete pés dos riscos, do sofrimento, das perdas e da solidão. Mas ao fazer isto, muitas vezes enganámo-nos.
Quantas vezes prolongou uma relação, que intimamente sentia que já tinha acabado só para não sentir, viver a perda? Quantas vezes nos auto enganámos?
O amor é um espaço, um lugar, em que se vive, não em que se sobrevive. Sobreviver é viver sobre alguém, sobre alguma coisa. Viver, pelo contrário, significa viver na primeira pessoa, como protagonista. Não podemos ter medo de enfrentar o medo nem de enfrentar as necessidades que sentimos. Somos livres quando vivemos e entendemos os nossos medos. Viver significa tentar arriscar, saber perder e saber ganhar.
É importante arriscar para amar, para encontrar o outro protagonista. O amor é para os fortes e para os vencedores.
Vencedores são aqueles que enfrentam os medos, as derrotas, sentimento de impotência e fracasso e o sofrimento. Vencer no amor é ter a capacidade de enfrentar em conjunto tudo isto…
As crises nas relações são necessárias e podem ser boas. A crise oferece a possibilidade de expressão dos protagonistas e pode ser afetuosamente vivida até ao fim.
O amor não é a isenção ou fuga aos conflitos ou negação das diferenças mas sim, o reconhecimento dos pontos comuns.
O amor começa pelo conhecimento recíproco, assenta na comunicação com respeito e aceitação das diferenças individuais de cada um, passa pelo reconhecimento das capacidades de cada um e culmina na descoberta mais íntima do outro. Tudo isto pode permitir uma partilha de tarefas e sonhos orientados para um projeto comum.
O amor autêntico não pertence ao campo das intenções mas sim ao campo das ações. De boas intenções está o inferno cheio, já diz o povo.
O amor é uma escolha, uma forma criativa de viver com qualidade.
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