segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

EM MODO ESPÍRITO NATALÍCIO

LUÍS ARAÚJO
E pronto, cá estamos, na época mais feliz do ano, imbuídos de espírito natalício. E não há nada que potencie mais o clima de paz, amor e entreajuda entre os homens (e algumas mulheres) do que passar um sábado num shopping.

Depois de demorar 2 horas numa fila interminável, à espera de lugar para estacionar lá tive a sorte (ou o azar) de conseguir um lugar que me permitiu o acesso ao malfadado shopping, onde uma multidão furiosa se digladiava, em cada um dos estabelecimentos, à procura do derradeiro bocado de felicidade devidamente embrulhado com colorido laçarote - na forma de saldos/promoções/reduções, deixando para trás um rasto de destruição que faz Aleppo parecer uma estância balnear nas Caraíbas.

Uma pessoa catapultada para este cenário pode-se interrogar onde esta aquele ambiente natalício invariavelmente retratado em tudo o que seja postal delico doce onde surge sempre uma lareira e um velhinho simpático a sorrir, mas facilmente se percebe que esse velhinho simpático é, sem duvida, o dono de uma destas lojas e que está junto à lareira a sorrir depois de ver o relatório de contas da ultima semana.

Ora, para alguém que tem a sorte de pertencer a uma família que, por virtude de uma fúria reprodutora há 3 gerações atrás, tem hoje um tamanho desmesurado, entre tios, primos, sobrinhos, avós, netos e que mais possa surgir, esta é uma época essencialmente de grande rombo orçamental, pois a quantia gasta em prendas é suficiente para pagar a divida externa de um país do terceiro mundo, para alem de ter que começar a comprar as prendas logo no final de Agosto.

Logo depois de ter conseguido sobreviver a mais uma sessão de shopping, para comemorar o facto de ainda estar vivo, fui beber um whisky com um amigo que se revoltava, com bastante probidade àcerca deste clima, que reputava eminentemente de falso e oportunista, dissertando sobre o facto de as pessoas só se lembrarem umas das outras nesta altura, uma linha de pensamento muito nobre e elevada, não se desse o caso de este meu amigo passar o ano inteiro sem fazer um telefonema, mandar uma sms, ou sequer fazer um like no facebook.

Há pessoas que se interrogam sobre este espírito natalício e a sua artificialidade, normalmente parece que são as mesmas que se estão borrifando para toda a gente todos os restantes dias do ano.

Sem comentários:

Enviar um comentário