terça-feira, 6 de dezembro de 2016

AMIGOS DE LONGA DATA

ELISABETE SALRETA
Nada como tempo e um dia de sol para nos levar a apreciar a vida e o que nos rodeia.

Por vezes, a verdadeira beleza encontra-se no mais simples quadro.

É costume passar por um jardim onde brincam crianças e pessoas de mais idade se entregam a um jogo de cartas, ou simplesmente a tomar banhos de sol, nestes dias de inverno.

Vêm passar o pouco tempo que lhes resta. Muitos deles estão acompanhados dos netos e outros de coisa nenhuma. Muitos estão acompanhados de uma solidão que se lhes entranhou nos ossos, nesta era em que os pais são órfãos de filhos.

Existe um senhor sem idade que não tem tempo para se sentar no jardim, mas percorre-o de lés a lés. Mãos atrás das costas, num passo vagaroso que parece pedir ao tempo que pare. Semi curvado com o rosto virado para o chão parece carregar o mundo com ele. Conhece cada pedra do passeio, como a cada ruga do seu rosto. O mais bonito, o que mais chama a atenção, é o seu companheiro de viagem. Pelas barbas e semblante, será difícil de perceber qual será o mais velho destes dois companheiros. O engraçado é que um espera pelo outro a cada passo vagaroso. Chegam ao final da rua e voltam, numa conversa muda.

Todos os dias, desde que o tempo o permita, fazem a sua caminhada até ao final da rua.

Não consigo imaginar um sem o outro. Fazem lembrar um velho casal a passear de mão dadas. A cumplicidade entre ambos é por demais evidente.

Realmente é lindo de se ver e este animal tem a sorte de ter um tutor que acompanhou o seu desenvolvimento e hoje, com idades similares e capacidades igualmente limitadas, acompanham a maturidade um do outro. Pena, é quando vemos alguém de uma certa idade que adopta um animal jovem e depois não tem como o acompanhar. Não consegue adaptar-se às suas necessidades. O animal fica frustrado porque não consegue brincar, o dono acaba por o dar ou prender porque não consegue lidar com tamanha energia. Vivem os dois miseravelmente infelizes. Lamentavelmente, ninguém adopta um animal sénior ou adulto, facilmente. Lamentavelmente, o egoísmo e falta de conhecimento levam as pessoas a pensar que um animal adulto não se vai adaptar à casa e família. Nada de mais errado.

Depois…. Depois é o que se vê em tantos casos de descaso e de abandono, em que vidas desperdiçadas e infelizes, frustradas, simplesmente sobrevivem.

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