CATARINA RITO |
Proteger os animais, fomentar a exploração de mão de obra barata, incentivar a moda rápida e descartável, realidades que continuam a existir em nome da moda e da tendência
Fofo, macio, mais longo ou mais curto, monocromático ou multicolor, o pelo falso domina a moda acessível (Zara, H&M, Bershka, C&A, Mango) e de luxo (Amani, Prada, Dries Van Noten). O uso de pelo verdadeiro é, nos dias de hoje, um tema proibido, ou quase proibido, pelo aumento de campanhas pro direitos dos animais, fazendo deste assunto uma luta global. A industria do pelo verdadeiro tem assistido ao aumento industria do pelo falso (produzido artificialmente), não havendo certezas se um sector é melhor que o outro. Se por um lado, é importante minimizar o sofrimento dos animais, o abate indiscriminado de espécies em vias de extinção, por outro lado é fulcral minimizar a produção artificial devido ao impacto nocivo no meio ambiente, sem esquecer a exploração de mão de obra barata e o trabalho infantil, em países como a India, China ou Indonesia.
Decorria o ano de 1994 quando cinco supermodelos, entre as quais, Christy Turlington, Naomi Campbell e Cindy Crawford, aparecerem nuas sentadas no chão com o ‘slogan’: “We’d rather go naked than wear fur” (traducão livre: “Preferimos andar nuas do que vestir pelo”), para uma conhecida campanha da associação dos direitos dos animais PETA. O sucesso foi imediato. Mas o mais interessante é que estas supermodelos acabaram por surgir em publico vestidas com exuberantes casacos de pelo verdadeiro, assim como celebridades do cinema conhecidas por fomentar uma alimentação saudável, o caso de Gwyneth Paltrow. Sempre que figuras publicas internacionais surgem com determinadas peças de roupa, as vendas das mesmas crescem e prova disso mesmo está um estudo realizado nos finais dos anos 1990, pela British Fur Trade Association (BFTA) que constatava que a venda de pelo verdadeiro tinha aumentado cerca de 58%. Desde 2003 que não existem fabricas de pelo verdadeiro nos Reino Unido.
A moda dita que o pelo, falso ou verdadeiro, está na moda. E porque será que a postura face ao uso de pele verdadeira assumiu contornos radicais? Segundo o director executivo da BFTA, Mike Moser, a questão passa pela forma de pensar e agir das novas geraçōes que “desejam perceber todos os pontos de vista e depois ter a liberdade de agir. A discussão sobre o uso ou não de pele verdadeira tem de passar pelo real impacto que o fabrico de peles falsas tem no meio ambiente, uma vez que este setor recorre a matérias primas poluentes”. A luta levada a cabo, há várias décadas, pela PETA sobre este tema é pertinente, havendo uma propositada omissão sobre o outro lado de uma mesma moeda. Sabia que as peles falsas são feitas à base de materiais não bio-degradáveis, de origem sintética como o nylon e o poliester , provenientes do petróleo? “No meio está a virtude, como em qualquer assunto. A utilização de peles de animais, desde que controlada, continuará certamente. A humanidade continuará a comer carne e para tal é preciso continuar a fazer criação de gado e deste não é apenas a carne que se aproveita. Outra coisa, são as espécies selvagens, raras e protegidas que devem ter cada vez mais controlo e aperto, havendo necessidade de sanções mais pesadas para os prevaricadores. Quanto à produção artificial de peles, é certo que o seu incremento pode ter consequências ambientais, até porque são produzidas com base no petróleo e outros químicos, mas, aqui, estou convencido que o avanço tecnológico irá permitir que a sua produção tenha um impacto cada vez menor e até tendencialmente nulo” explica Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP).
Os seguidores de tendências compram peças de pele falsa, usam-na durante uma ou duas estaçōes e deitam fora, não tendo a noção que este material demora cerca de mil anos a decompor-se, como qualquer produto feito à base de petróleo (ex.: sacos de plastico). Assim como o seu processo de lavagem deteriora o meio ambiente, pela libertação de cerca de 1900 mil pequenas partículas plásticas que são enviadas pelos esgotos para os rios, lagos e mar, segundo um artigo cientifico publicado, em 2011, no Jornal Environmental Science&Technology. Parte desta luta sobre o correto e o incorreto é feito pelos lobbies de ambas as partes, sabendo que os dois lados acabam por ter razão no conjunto. E prova disso mesmo é haver vozes no mundo da moda, como a designer e ‘stylist' inglesa, Minna Attala, vegetariana assumida, que tem consciência que este “é um tema complexo. Sou contra o uso de pele natural, mas sabendo o que sei sobre este assunto, não tenho uma voz contra. Até porque se de facto quisermos ser honestos sobre este continuo debate, deveríamos deixar de usar pele falsa e pele verdadeira e também deixar de consumir ‘fast fashion’ em geral”.
Em países como a Nova Zelândia, o governo local incentiva à compra de pele natural de espécies como o ‘possum’ (não nativo desta zona do globo), para obter um equilíbrio ecológico, uma vez que estes destroem o meio ambiente de outros animais nativos. O regulador internacional de pele natural, BFTA, adverte que quem pretende comprar vestuário ou acessórios feitos à base de pele natural, deve procurar a etiqueta de “Origem Assegurada”, criada em 2007, que confirma a proveniência da pele de países que respeitam os regulamentos internacionais sobre o uso de animais na industria da moda.
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