domingo, 21 de agosto de 2016

AS CRIANÇAS, SUAS PERIPÉCIAS E A EDUCAÇÃO QUE LHES DAMOS

LÚCIA GONÇALVES
Quando se trata de crianças muito se pode dizer, ora sendo mãe de dois rapazes, vivi momentos deliciosos ou não (depende da perspectiva), durante os seus primeiros anos.

Quando o meu pirralho mais velho tinha cerca de dois anos, apanhou-me ocupada a colocar a roupa na máquina e…bem quando cheguei à sala parecia ter caído um valente nevão! O meu anjinho papudo tinha entrado na cozinha sem que eu me apercebesse, levado a farinha que eu tinha colocado em cima da banca porque a ia usar e tinha-a espalhado por todos os locais onde a sua pequena estatura o permitiu.

Ao deparar-me com aquele manto branco, estarrecida, mas com enorme vontade de me rir porque de facto, limpar aquela sala iria dar-me tanto trabalho que não sabia se ria se chorava, comecei por aspirar um dos sofás, e muito calma, mandei-o sentar-se, quieto e sem ver televisão! 

Quando o meu marido entrou em casa, aproximei-me a tempo de ver o seu olhar de espanto ao ver o filho, que descontraído estava deitado no sofá com o queixo apoiado nas pequenas mãozitas e antes que o pai tivesse tempo de o questionar sobre o que quer que fosse, apressou-se a esclarecer: “estou de castigo”. Durante o jantar lá lhe explicamos, da forma que se pode explicar a uma criança tão pequena, que a traquinice me tinha dado imenso trabalho além de ter desperdiçado alimento. E o que é facto é que esta foi uma vez sem exemplo.

Meses mais tarde, estava mais ou menos a meio da gravidez do meu segundo filho, logo o mais velho tinha completado três anos fazia pouco tempo e era uma criança que se exprimia com muita facilidade e clareza.

Numa tarde e após ter ido busca-lo à Creche, apanhei o autocarro de volta a casa. Sentei-me e ele ficou de pé em cima das minhas pernas abraçado ao meu pescoço. De repente, virou-se para a senhora que estava sentada no banco atrás do nosso e perguntou de supetão:

- Tens um bebé na barriga?

- Não meu querido. – Respondeu a senhora com um sorriso

- Então estás gorda! – Retorquiu ele rapidamente.

- Tens razão, preciso fazer dieta e ir para o ginásio. O que achas? - Dizia enquanto continuava a sorrir.

Ele, do alto dos seus três anitos, momentaneamente sem saber o que lhe responder, encostou a cabeça à minha e cochichou no meu ouvido “Mamã o que é o ginásio?”. Dei-lhe uma breve explicação, e apressei-me a pedir desculpa à senhora pela indiscrição do meu adorado filho, ao que ela respondeu que ele estava apenas a ser sincero. Afinal, se tinha uma barriga volumosa como a minha, mas não era um pedacinho de gente que provocava tal volume, então estava mesmo com excesso de peso.

Mãe sofre… mas também se diverte!

Semanas depois, e já a minha barriga tinha aumentado um pouco mais, precisei sair do autocarro uma paragem antes, tendo o meu rapazinho decidido que estava cansado e queria que lhe pegasse ao colo. Agarrado às minhas pernas chorava desconsoladamente, o que levou a que várias cabeças se virassem na nossa direção, em cujo rosto se podia ler: “porque não cala aquela criança”?

Cansada de o ouvir e de ver os olhares estranhos de quem por nós passava, peguei-lhe ao colo avisando-o apenas que, já que não era crescido para ir a pé, também não o seria para ver Tom & Jerry nem Bugs Bunny (os seus desenhos animados preferidos) e, como tal, durante uma semana não os veria. “Está bem”, respondeu prontamente. Entretanto chegamos à entrada do nosso prédio e ele, muito satisfeito, começou a abanar as pernitas e a dizer “põe-me no chão, eu vou sozinho”, não cedi e só o pousei para abrir a porta.

Mal entramos em casa, agarrou-se de novo às minhas pernas a implorar e a pedir desculpa, que não voltava a pedir-me colo na rua porque o mano estava na minha barriga e eu estava cansada. Custou-me mas mantive-me firme na decisão de cumprir com a minha palavra. Foi a choramingar para o quarto mas lá aceitou as consequências da sua “preguiça” para andar um pouquinho a pé. E passou uma semana sem ver filmes…

Mais tarde já com os dois a saberem exprimir-se e entender muito bem, houve uma ou outra tentativa de birra, principalmente quando queriam mais um carrito (neste caso dois, um para cada um) e nós considerávamos que não lhos deveríamos dar naquele dia. Na maioria das vezes nem era por nenhuma razão específica, apenas não os queríamos habituar a ter tudo na hora, até porque na vida tudo tem o seu tempo e queríamos que crescessem com essa noção.

Tentativas de choro, de não arredarem pé do local… enfim um filme, todavia confrontados com: “as birras não vos levam a lado nenhum, bem pelo contrário…”, paravam de insistir. Quando na semana seguinte voltávamos ao supermercado, muitas vezes sem que eles o pedissem, dávamos-lhe o que eles tanto queriam na semana anterior. E assim fizeram uma coleção enorme de carrinhos de metal… E estes episódios, ainda que esporádicos, não ultrapassaram os seus cinco anos.

Claro que ainda foram necessários mais uns “nãos”, mas estes já não relacionados com brinquedos. Afinal, faz parte de todo o processo de crescimento testarem os limites e compete aos pais impor-lhos e não cederem.

Enfim, quando se trata de educar, tudo se quer na medida exata. Firmeza e justiça nas decisões, é primordial pois faz toda a diferença!

Hoje com 15 e 18 anos são miúdos responsáveis, elogiados por colegas e professores. Os “nãos” que tanto lhes desagradou (e a nós também), refletem-se hoje no comportamento irrepreensível nos diversos meios em que a vida deles se desenvolve. Valeu a pena!

2 comentários:

  1. Muito bem Lúcia. Se todos os Pais soubessem dizer não aos Filhos, a Sociedade estaria muito mais sã. Beijinho

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