terça-feira, 2 de agosto de 2016

A MULTIPLICAÇÃO DE HORTÍCOLAS

Parte 1 – A multiplicação sexuada

JOÃO PAULO PACHECO
A Sementeira – A sementeira consiste em colocar as sementes num meio favorável à sua germinação e posterior crescimento da jovem planta ou plântula.

As sementes

Muitas vezes chama-se semente ao órgão ou parte da planta que se utiliza para a sua disseminação. As sementes, em sentido lato, podem ser grãos (caso mais frequente), frutos (cariópsides das gramíneas e aquénios das compostas), um conjunto de frutos (glomérulos dos espinafres e beterrabas) ou diversos órgãos como bolbos, tubérculos, estolhos, etc; neste caso falamos de sementes aquosas (70 a 80 % de água) em oposição às verdadeiras sementes (5 a 20% de água).

Usaremos o termo semente no seu sentido mais restrito, ou seja, sementes secas, que nos permitem efectuar a reprodução sexuada.

Características da reprodução sexuada

A multiplicação sexuada assegura a conservação dos caracteres genéricos definidores da espécie; no entanto, não garante a conservação das características da variedade.

A semente provém da transformação do óvulo através da fecundação e é composta essencialmente por:

· Tegumentos, nos quais o papel fundamental é o de protecção. Podem ser responsáveis pela inibição da germinação, permitindo assim à semente conservar-se durante muito tempo em condições favoráveis;

· Embrião, resultado do crescimento do ovo ou zigoto.

· Reservas: a maior parte das sementes possuem reservas muito importantes. A natureza destas reservas é variável sendo sempre à base de glícidos, lípidos e prótidos, em quantidades e proporções muito variáveis. Em função disso encontraremos sementes ricas em prótidos (leguminosas), em glícidos (gramíneas) e em lípidos (girassol, soja, colza e outras).

A letargia (ou dormência da semente)

Quando a semente abandona o fruto é um ser vivo mas num estado de vida suspenso a que se chama letargia ou dormência. A respiração é mínima e os intercâmbios nutritivos são praticamente nulos. Não há síntese nem crescimento, estando a actividade reduzida ao mínimo. Esta redução temporal da actividade é denominada de latência e pode durar mais ou menos tempo. Para voltar à actividade esta latência terá que ser quebrada, para o que se deverão verificar as condições mínimas:

- Condições externas favoráveis;

- Fim da letargia, maturação fisiológica alcançada;

As condições de germinação variam de espécie para espécie, mas normalmente existem exigências em temperatura, humidade e luminosidade que terão que ser do conhecimento do produtor. Quando se pretende fazer um viveiro para futuro transplante teremos que tentar criar as condições ideais para que a germinação seja homogénea e tão rápida quanto possível. Os tempos de preparação das plantas também variam de acordo com as diferentes espécies.

Convém que a preparação das plântulas seja o mais breve possível para evitar que surjam problemas fitossanitários que poderiam comprometer o nosso alfobre.

Para cada espécie existe assim um mínimo, um óptimo e um máximo germinativo, que o horticultor deverá conhecer por forma a realizar um trabalho eficaz e sem perdas.

Na contextura actual, a grande maioria dos horticultores recorre aos viveiristas no sentido de adquirir as plântulas prontas para o transplante, nomeadamente nas culturas de meloa, tomate, pepino, beringela; outras culturas começam agora também a ser procuradas prontas a transplantar como sendo o feijão-verde, o alho-francês, a cebola e toda uma grande variedade de couves. Isto deve-se ao facto de que, adquirindo as plantas prontas se economiza muito trabalho e se evitam riscos de perdas; por outro lado, a criação das condições óptimas para a produção de plântulas acarreta custos que poderão não ser compensadores, sobretudo se atentarmos na dimensão média das nossas explorações hortícolas (minifúndio).

Há no entanto ainda uma grande quantidade de espécies hortícolas cujas plantas são preparadas pelo produtor final, sobretudo aquelas em que se realiza a semente directa, variedade regionais e sementes de baixo custo.

Conservação

A conservação das sementes deverá ser feita num ambiente de baixa temperatura e humidade, variando com as diferentes espécies, podendo ser necessários cuidados especiais para que não ocorram infecções.

Características das sementes

A capacidade germinativa é uma variável a ter em conta, já que poderá ir de alguns dias a várias dezenas de anos.

A faculdade germinativa refere-se à percentagem de sementes que num determinado lote irão dar origem a uma planta. No caso de sementes comerciais este é um dado que deverá constar no rótulo da embalagem, sendo que varia normalmente entre os 70 e os 100% (ou quase).

A pureza específica, refere-se também em percentagem, e tem a ver com o grau de impurezas, peso por peso, existentes em determinada embalagem.

O valor de cultivo consiste na multiplicação da pureza pela faculdade germinativa. Se tivermos, por exemplo, uma pureza de 90% e uma faculdade germinativa de 80%, então teremos um valor de cultivo de 72%:

0.90 x 0.80 = 0.72, ou seja 72%
Produção de sementes de cebola de variedade regional (Estela, Póvoa de Varzim)

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