quinta-feira, 1 de setembro de 2016

COMPREENDER MELHOR A DOR

MARIA AMORIM 
A dor continua, apesar de ter sido reconhecida e considerada como 5º sinal vital, a ser algo desvalorizada por demasiados cuidadores, e, mesmo que esse fosse só um, continuaria a ser demais, pois não é de todo aceitável que se deixe alguém sofrer quando existem tantos meios de alívio da dor. Este fenómeno acontece também porque existe um certo desconforto aliado a desconhecimento no reconhecimento e alívio da dor, e esta tanto pode ser sobrevalorizada por quem a sente e desvalorizada por quem a avalia, como pode acontecer a situação inversa, isto porque a dor tem em si uma componente pessoal não mensurável muito superior a qualquer outro dos sinais vitais, e, sobretudo porque A DOR DO OUTRO NÃO É A MINHA DOR.

A avaliação da dor torna-se mais fácil e correta quanto maior o conhecimento sobre esse fenómeno do nosso corpo, que não é mais do que um sinal de alarme que nos alerta quando algo não esta bem, podendo esse algo ser breve e passageiro, facilmente contornável, mesmo que a dor seja forte no momento, como pode ser algo grave e que necessita de intervenção urgente. Se uma dor não passa com um vulgar analgésico a que temos acesso livre, então deve-se procurar ajuda médica, para pesquisar o que está por trás dessa dor.

A dor, segundo a Associação Internacional do Estudo da Dor (IASP) consiste “numa reação sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidular, real ou potencial, ou descrita em termos de um dano real”. Existe nesta definição uma componente sensitiva, em que a dor pode ser localizada e a sua intensidade descrita, e uma componente afetiva, em que a dor é insuportável, angustiante ou deprimente.

A dor corresponde a mecanismos fisiológicos, sendo os recetores da dor chamados nociceptores (recetor sensorial da dor) que estão presentes em todo o organismo, e através das fibras nervosas, que atingem a medula ao nível do corno posterior, levam a informação até ao cérebro, percorrendo a medula em toda a sua dimensão. Os nociceptores são classificados em três subtipos: recetores mecânicos de alto limiar que detetam pressão, recetores mecanotermais de baixo limiar que detetam pressão e calor e recetores polimodais que detetam pressão, calor e fatores químicos. A dor nociceptiva acontece quando o sistema nervoso é informado duma perturbação num determinado setor corporal, note-se que a dor também pode resultar de uma anomalia do sistema nervoso, sendo exemplo destas dores a chamada “dor fantasma” presente nos amputados que continuam a sentir dor no membro que lhes foi retirado.

Perante um mecanismo traumático são libertadas substâncias químicas que são “algogénicas”, ou seja provocam sensação de dor, estas substâncias intervêm sobretudo ao nível da pele e das articulações aquando das reações inflamatórias.

Os estímulos dolorosos correspondem a diversas perturbações que causam a sensação de dor e podem ser queimaduras, picadas, esmagamentos ou isquemias, podem ainda ser cutâneas, musculares, viscerais ou articulares. Podemos classificar a dor como uma dor rápida, com características de dor viva, tipo picada, bem localizada e instantânea, quanto à sua evolução será de duração breve e sem tonalidade afetiva ou como uma dor lenta, esta com características de dor surda, tipo de queimadura de instalação lenta, quanto à sua evolução será de duração prolongada, com reação afetiva e vegetativa.

A DOR AGUDA como sintoma é uma dor útil pois é um sinal de alarme, protege de complicações, por detrás desta dor está um fator que a despoleta surgindo como reação e é a manifestação temporária de uma disfunção orgânica, produz ansiedade mas a sua causa pode ser tratada.

A DOR CRÓNICA, que faz parte de doença, é inútil, destrói e é uma doença a parte inteira, entrando alguns fatores em causa, pois é habitual e continua, prolonga-se no tempo, arrasta consigo a depressão pois atinge o corpo e tem em si uma dimensão psicológica e sociológica enorme.

AVALIAR A DOR é uma necessidade, mas uma séria dificuldade para quem avalia, pois a dor é vivenciada de forma diferente por cada pessoa, pois é própria de que a vive e pode ser influenciada pela experiência e conhecimentos anteriores do mesmo fenómeno doloroso, do conhecimento da causa, do significado atribuído à dor, do estado geral da pessoa, do seu estado mental e emocional, da sua personalidade e educação e ainda do seu ambiente.

Existem diversas escalas de avaliação da dor ao dispor dos profissionais, que as devem utilizar com um certo rigor, mas tendo sempre em conta as manifestações de dor de cada pessoa, pois o corpo transmite sinais inequívocos de dor a que é preciso estar atento:

A face transmite facilmente a dor, através de esgares, tensão, lágrimas que traduzem ansiedade, a palidez e o suor são sinais de dor, por vezes a face traduz inequivocamente a exaustão que a dor provoca.

A atitude física da pessoa que se dobra sobre si própria, adotando uma posição antiálgica ou a posição fetal traduz facilmente a dor que sente.

Os movimentos de massagem constante do ponto doloroso ou levar a mão ao local onde dói (gesto muito típico da dor pré-cordial)

O contacto físico, quando lhe tocam queixa-se, fica tensa e crispada

Em pessoas dependentes, ou com dificuldade de comunicar a dor pode ser traduzida por gritos, agitação, confusão mental ou delírios.

Quando a dor é aguda, a pessoa tende a apresentar uma face com esgares, e exprime ansiedade, em contrapartida quando a dor é crónica a face exprime exaustão. Por vezes é dor é tão intolerável, que podemos chamar-lhe dor total, e ai, a pessoa deixa de se interessar pelo que se passa à volta dela, não comunica e já não reage.

A PESSOA IDOSA nem sempre se sabe queixar, queixa-se muitas vezes de dores que não são facilmente identificáveis, não consegue localizar a dor, dizendo que lhe dói tudo, e as suas dores são difusas, as doenças crónicas de que padece são acompanhadas de dores agudas ou crónicas, e a sua perceção da dor altera-se devido a mudanças ao nível tecidular que levam a atrasos das transmissões nervosas. Por vezes, a pessoa idosa não se queixa, mas as suas reações revelam as suas dores, de que ela pode não falar ou até negar.

Perante uma queixa de dor, a pessoa que se queixa não deve ser julgada, mas sim a queixa deve ser tomada em consideração e ser alvo de uma avaliação isenta e séria, pois mesmo que a pessoa seja conhecida, as circunstâncias da dor nunca serão as mesmas, e a sua perceção da dor pode ter sofrido alguma alteração. O mais importante afinal, é que PERANTE ALGUÉM QUE SOFRE, TUDO DEVE SER FEITO PARA ALIVIAR O SOFRIMENTO.

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