ARTUR COIMBRA |
Setembro é tempo de regressos. À rotina. Ao trabalho. À escola. A mais um ano de labuta, à espera que novo Agosto chegue.
É claro que os emigrantes já regressaram às terras de destino, às franças e araganças onde conseguem obter o pão que o país lhe nega, historicamente, continuadores de uma epopeia que remonta à era dos Descobrimentos e que se intensificou a partir do século XIX.
Povoaram Agosto de alegria, movimento, rebuliço, agitação, nas ruas, na feira, nos mercados, nos cafés, nos restaurantes. Deram outro colorido às festas e romarias, um pouco por todo o país. Andaram por casamentos e baptizados, muitas vezes ajustados exactamente para as épocas em que por cá veraneiam. São os heróis da portugalidade que se expressa na Diáspora, mostrando coragem e desprendimento que milhões dos que por aqui ficaram, temerosamente, não demonstram.
Em Setembro, já retomaram o ritmo habitual do trabalho longe do torrão natal.
Um dos regressos que marca Setembro é, obviamente, ao trabalho de cada um, após um período mais ou menos feliz de preguiçar por aí, nas praias, nos rios ou no campo, descobrindo ou matando saudades, o dolce far niente que passa demasiado depressa. Aliás, as férias deviam ser multadas por excesso de velocidade!...
Setembro devolve-nos à realidade de mais um ano de trabalho pela frente, nas fábricas, nos escritórios, nos comércios, nos serviços, nas escolas. Obviamente, para quem tem trabalho e não engrossa, desafortunadamente, o exército dos desempregados. Inelutável destino e desafio permanente de dias e meses a ganhar “o pão que o diabo amassou”, como soe dizer-se!...
Setembro é também o regresso às aulas. Todos os anos, sistematicamente, com queixas, apreensões, incertezas, para alunos, pais e professores. Para aqueles, porque vão conhecer novos professores, novos currículos, novos colegas, outras matérias, o que gera alguma natural ansiedade. Para os docentes, a agonia dos contratados, a incerteza de saber onde vão parar, se vão ter horários completos ou parciais, as filas do desemprego para aqueles que não conseguem lugar no sistema, e são muitos milhares. E obviamente o estresse de uma actividade no mínimo heróica, pois ser professor nos dias que correm só com imensa dose de bravura, de audácia, de ousadia e de coragem, dado o ambiente de guerrilha que transitou para as salas de aula. Alunos mal comportados, mal-educados, faltas de respeito para com professores e funcionários, ausência de poder dos docentes para disciplinar as turmas, uma escola demasiado burocrática, ao que se ouve, tudo contribui para um ambiente esgotante de quem tem por missão primordial ensinar e instruir (porque a educação deve vir de casa, o que nem sempre acontece, infelizmente…).
Bom, já que cá estamos, que tenhamos todos um bom Setembro!
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