VANESSA MIMOSO |
O Luto pode ser encarado como um processo posterior à morte de um ente querido; um processo de adaptação à perda, envolvendo um conjunto de tarefas ou fases para que tal aconteça.
Perante a perda de um ente querido, há um conjunto de sentimentos que são comuns num processo de luto: choque (mais frequente no caso de morte inesperada; que pode durar horas ou dias, onde existem sentimentos de desespero, irritabilidade, amargura); tristeza (muitas vezes manifestada pelo choro); raiva (pode advir da sensação de frustração por não existir nada que se pudesse fazer para prevenir a morte e por vezes é direcionada erradamente para outras pessoas, culpabilizando-as pela morte do ente querido); culpa e auto-censura (por achar que devia ter feito mais); ansiedade; solidão (particularmente na perda de um cônjuge); fadiga; torpor(algumas pessoas relatam uma ausência de sentimentos após a perda;bloqueiam as sensações como uma espécie de defesa) e por vezes há um sentimento de alívio (quando a pessoa querida sofria de uma doença prolongada ou dolorosa, porém, o sentimento de culpa acompanha esta sensação).
A pessoa enlutada sente um vazio no estômago, um aperto no peito, uma sensação de falta de ar, falta de energia assim como uma sensação de despersonalização (nada parece real). Após a perda, normalmente, aparecem alterações no sono assim como no apetite; um isolamento social; choro; o comportamento de procurar e chamar pelo ente querido; visitar sítios e/ou guardar objetos que lembrem a pessoa perdida.
Cada pessoa vivencia o luto de forma diferente, existem determinados fatores que podem alterar a forma como as pessoas o vivenciam: natureza da relação de vinculação com o falecido, o próprio contexto e circunstâncias da perda, história pessoal, personalidade, o meio em que a pessoa está inserida entre outras variáveis sociais.
O luto leva tempo e a duração do processo de sofrimento é muito variável, não progride de forma linear. As mudanças de estação, períodos de férias e datas de aniversário podem contribuir para relembrar a perda, sendo novamente necessário trabalhar este processo.
Existem dois tipos de luto: o normal e o patológico. O luto considerado normal está associado ao facto de a pessoa enlutada conseguir ultrapassar o processo de luto através da realização de diversas tarefas ao longo de um continuum, isto é, primeiramente o sujeito passa por sentimentos de choque, descrença e negação; a fase seguinte é marcada por um desconforto somático e emocional bem como pelo isolamento. Por fim, numa última fase há um período de reconstituição. Quando estas fases não são vividas e ultrapassadas num determinado período de tempo, muitas das vezes, poder-se-á estar perante um luto não adaptativo, em que a intensidade e duração destas ações são mais marcantes.
Para se compreender melhor a origem da dor e todo o processo de sofrimento que advém da perda de alguém, é fundamental entender porque é que se estabelecem fortes laços entre as pessoas. A Teoria da Vinculação explica-nos isso muito bem; os laços afetivos que são criados pela familiaridade e proximidade com as figuras parentais no início de vida surgem devido à necessidade que se tem de se sentir seguro e protegido. Este sistema de vinculação mantém-se ao longo da vida e quanto mais forte for o vínculo/laço estabelecido entre duas pessoas, maior será o impacto e sofrimento quando há uma ameaça ou rutura real desse mesmo laço.
O papel do psicólogo é fundamental pois ajuda a pessoa enlutada a lidar ou encarar a perda de forma ajustada e adaptativa. Ajudar o enlutado a aceitar a realidade da perda, fazendo-o entender que a morte efetivamente ocorreu; tentar promover a sua capacidade de lidar com os seus sentimentos bem como encontrar estratégias de coping para conseguir viver de forma mais ajustada e saudável. Pretende-se que adquira um novo equilíbrio que lhe permita não propriamente ultrapassar a perda mas, aprender a viver com ela.
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