RAQUEL EVANGELINA |
Todos os dias, desde que me lembro de ser gente, somos confrontados com notícias de bombardeamentos na Síria, de ataques no Iraque, de genocídios em países árabes e africanos. Em todos eles morrem milhares de pessoas por guerras que não são delas. Vitimam-se homens, mulheres e crianças que infelizmente não tiveram a sorte de nascer num país pacífico. Lamentamos, temos pena, em alguns casos até nos sensibilizamos e vertemos umas lágrimas ao ver as imagens mas, contra mim falo, estamos geograficamente tão afastados que acabamos por esquecer. Depois em 2001 vimos as Torres Gémeas serem atacadas. Ficámos estupefactos porque nunca imaginávamos que fosse possível acontecer no nosso mundo, supostamente, civilizado. Mesmo assim pensámos que era uma vez sem exemplo e passado uns tempos a vida voltou ao lugar. 3 anos depois aconteceu outro em Madrid, no ano seguinte em Londres. Começamos a temer pela nossa segurança. Ultimamente tem sido uma sequência de ataques. Seja na França, país que tem sofrido bastante na pele o terrorismo, na Alemanha, na Bélgica, na Suécia, na Dinamarca ou em Espanha, sem esquecer, claro, a Turquia. Ainda no mês passado aconteceu em Barcelona. Vemos uma Europa cada vez mais fragilizada à mercê do terrorismo. Sim porque a Europa já nos é bastante próxima e supostamente isto só acontece nos países em eterno conflito. Não aqui tão perto. E depois pensamos que podíamos ser nós. Podia ter sido eu a ser atropelada nas Ramblas ou na ponte de Londres, a explosão no metro de Bruxelas podia ter acontecido quando andei lá, ainda nem um mês tinha passado do atentado de Berlim e eu estive no mesmo local. E acreditem que ver um chão cheio de velas com nomes e fotos de vítimas não é propriamente a imagem mais fácil de digerir. Ficámos com o coração tão apertado. E se um dos nossos estava no Bataclan a disfrutar de um concerto? E se a nossa sobrinha, ou a filha da nossa amiga, estava a ver a Ariana Grande em Manchester? E se o meu amigo, que foi de férias para Barcelona, estava a passear nas Ramblas, que por acaso é uma rua bastante turística? E se os meus primos se lembraram de festejar o 14 de Julho nas ruas de Nice? E se para a semana vou a Lisboa e metem uma bomba na Rua Augusta ou vem um carro desenfreado e atropela um monte de gente nos Aliados? E se? Sim, porque infelizmente cada vez mais vamos olhar por cima do ombro. Cada vez mais vamos andar com medo. Sim, medo. Nós bem dizemos que não teremos medo, que isso não se pode mostrar que é o que “eles” querem… E inchamos o peito enquanto proclamamos que somos todos Charlie, somos Paris, somos Bruxelas, somos Barcelona, somos tudo e mais alguma coisa que infelizmente se veja nesta situação mas temos medo sim. Por mim falo, continuarei a viajar porque sempre o fiz. Continuarei a esquecer até o terrorismo quando lá estiver porque estarei absorvida pelas paisagens e a cultura que me rodeia. Mas haverá uma altura em que me virá à cabeça que a qualquer momento pode acontecer algo e que eu estarei lá. Que os meus pais, que nem ligam a viagens, é que estavam certos quando diziam que não há cantinho como o nosso. Sei que vou olhar de lado quando vir alguém árabe mesmo sendo uma pessoa contra o preconceito e sabendo que maus há em todas as religiões, raças e países. E nem sequer vou entrar em debates de que a culpa é das políticas migratórias e de deixar entrar toda a gente. Nunca fui justiceira das redes sociais e não falo do que não sei. Apenas sei que não é uma questão de impor ou não barreiras. É uma questão de cegueira. Cegueira religiosa, cegueira política, cegueira de poder. O John Lennon na “Imagine” cantava para imaginarmos toda a gente a viver em paz e que era um sonhador mas não era o único. Eu também o sou e sempre terei essa pequena e, provavelmente falsa, esperança que é possível viver em paz. Mas os tempos não estão fáceis para os sonhadores. Onde está o amor? É a pergunta que fica…
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