RAQUEL EVANGELINA |
Este texto é para ti. Sejas tu quem fores. Podes ser aquele(a) que se sentou na cadeira do consultório e a quem o médico informou com um ar pesaroso que a situação é mais grave que o que se pensava. Podes ser aquele(a) que batalhou tanto por um determinado lugar e por muitos esforços que faça parece que nunca te é dada a oportunidade. Podes ser aquele(a) que está de luto porque acabou de perder alguém que lhe era muito. Podes até ser aquele(a) que por muito bom que seja vê a pessoa com quem está escapar-lhe pelos dedos e não percebes o porquê. Acho que toda a gente passa ao longo da vida por estas situações, se não passar por todas, passa em duas de três pelo menos.
Um dia descobres que estás doente. Pensas porque é que te aconteceu a ti, porque é que tens que ser tu a passar por essa provação. Pensas na morte, mesmo que não queiras lá no fundinho a ideia de que pode ser o fim do jogo para ti aparece. Deprimes e isolas-te. Não porque culpes as pessoas que te rodeiam mas porque não queres que elas vejam que não és tão forte quanto queres mostrar. Que choras e que tens medo. E de qualquer forma elas não te vão dar a cura então para quê incomodá-las com batalhas que não são delas? As pessoas que realmente se importam contigo passam a vida a fazer perguntas. E tu não estás com disposição de nada, muito menos de interrogatórios.
No trabalho esforças-te por ser o melhor que podes. Pões a vida profissional acima da pessoal, dás a cara pela instituição que representas e és uma pessoa ambiciosa. Mas mesmo assim nada acontece. Vês outros ficar com as tuas vitórias, tirar proveito dos teus esforços e começas a desmotivar. E é nesse teu momento de fraqueza que começas a ser criticado(a). Como é que alguém sempre tão prestável, tão disponível, de repente deixa de o ser e baixa o seu rendimento laboral? E se ninguém reparou até agora na tua prestação acredita que reparam logo assim que ela baixa. E continuas sem motivação e completamente infeliz porque foste ultrapassado(a) por alguém com mais ambição e sem medo de “passar por cima” dos colegas. Ir para o trabalho passa a ser uma obrigação e não algo que te seja prazeroso. Ficas frustrado(a) e se não podes gritar ou reclamar com os teus superiores por teres o emprego em jogo farás com os que estão em casa e não têm culpa nenhuma.
O teu pai morreu. Quem diz o teu pai, diz a tua mãe, o teu filho, o teu avô, quem quer que seja que te é próximo e muito importante. Choras porque há perdas que não há volta a dar e a morte é decididamente uma delas. Fazes o teu luto mas por vezes é difícil deixar ir. A última vez que falaste com essa pessoa discutiram. Gostavas de lhe dizer que a discussão foi uma estupidez e ela morreu sem que lhe dissesses o que realmente querias, que gostavas muito dela. Isolas-te, achas que nunca vais ultrapassar essa pessoa não estar mais lá. Recordas os momentos com mágoa. Não porque foram maus mas porque foram bons e não voltam.
E falando em perdas o que te aconteceu enquanto elemento de um casal? Porque é que a tua relação te dá mais motivos para chorar do que razões para te orgulhares de ter essa pessoa ao teu lado? Um dia chega e berra contigo todas as frustrações externas a ti mas tu perdoas porque está numa fase má e não quer dizer que não te ame. Um dia começa a criticar que estás mais isto ou aquilo e pensas que realmente a culpa é tua, que te desleixaste e que és indigno(a) da pessoa que tens e inferior a ela. Bate-te uma vez. E sim isto também acontece com vítimas homens, apesar de em menor número. Ficas magoado(a) mas perdoas, conheces quem tens, apenas perdeu a cabeça e não torna a fazer o mesmo. Se calhar até fizeste por merecer. E vais tentando manter através de cacos o relacionamento, vais sustentando-o com base no teu amor unilateral porque Deus te livre de viver sem aquela pessoa. Porque no fundo ela te ama e tudo o que viveram já foi tão bonito. E se algo está mau a culpa decididamente é tua, nunca do outro(a).
A questão é que por vezes achamos que é o fim do mundo. Não vamos sair da doença, não conseguimos arranjar outro emprego, nunca conseguiremos ter novamente as pessoas que já foram e não conseguimos viver sem o nosso grande amor. Todos nós passamos por esses fins de mundo. Eu já passei e a minha visão é mesmo a de que sim por vezes é o fim do mundo mas passado um tempo está tudo bem. Não é o fim do mundo como o conhecemos, é apenas o fim de alguns mundos nossos mas depois fica tudo bem. Portanto não te deixes abalar pela doença. Há tantos que a vencem. Tu és mais forte. Não tenhas medo de juntar quem te rodeia e dizer que tens alturas que choras. Todos o fazemos e por vezes por coisas mínimas. Eu sei que vou soar um pouco lunática agora tendo em conta a economia do país mas se não estás bem no emprego sai. Haverão outras oportunidades profissionais e se és dedicado(a) elas aparecerão. Relativamente a quem perdeste honra-lhes a memória. Pensa que onde quer que estejam não estarão de certeza interessados na discussão e sim em tudo o que viveram de bom contigo. E quanto ao amor acredita que há vida depois daquela pessoa. Se não consegues aguentar mais vai embora. Não porque já não a ames mas porque te amas, se não o fazes deves fazer, mais a ti.
Esta minha crónica não te vai trazer saúde. Não te vai dar um emprego novo. Não te traz nem quem já partiu nem o teu amor de volta. Mas espero que te traga esperança. E a ideia de que depois do fim do mundo tudo fica bem. A ti. A mim. A todos.
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