quinta-feira, 28 de setembro de 2017

20 ANOS E 20 QUILOS DEPOIS

ANABELA BORGES
Deparei-me, uma vez, com esta expressão – 20 ANOS E 20 QUILOS DEPOIS – e confesso que fiquei, por alguns instantes, a matutar no assunto. Não deixa de ser uma expressão curiosa e, do pouco ou muito que conheço, verdadeira. E creio que as coisas que assumimos como verdades tocam-nos sempre mais fundo na alma.

Pensei em mim. Pensei nos vinte anos passados desde que tive esse inquestionável prazer de habitar a casa dos vinte anos – essa casa de abismos e de espantos, década doirada de juventude e alvoroço. Pensei, de imediato, nas transformações do corpo, na questão fisiológica, hormonal e dos metabolismos. O corpo é esse abismo que decliva nas fendas incontornáveis do tempo. Ninguém lhe foge, a esse bicho esfomeado de vida que é o tempo. E, bom, pensei: os 20 anos depois já cá cantam; os 20 quilos depois, não exactamente... mas é qualquer coisa que anda próxima disso.

E tudo isso – toda essa reflexão – trouxe-me velhas e novas questões, que a cada passo analiso.

Não há dúvidas de que (e creio que desde sempre) vivemos na ditadura da imagem.

Porque é que nos custa tanto envelhecer? Porque teimamos em manter o sonho da eterna juventude? Até que ponto idealizamos trucidar e moldar o corpo em busca da perfeição? beleza. perfeição. corpos esculturais. ser capa de revista.

A tal ponto inundam os nossos dias de imagens a ditar ideais de beleza, que qualquer um de nós, tantas das vezes inconscientemente, tem pretensões de se parecer com um famoso, um actor ou actriz, um modelo ou um cantor, daqueles que constantemente aparecem na TV, nas revistas e na internet. A beleza é ditada pelas tendências da moda, dos artistas, das estrelas de Hollywood. Qualquer um de nós, mesmo inconscientemente, tem preocupações com a aparência (é quase impossível não as termos). É claro que há pessoas que se sentem bem com o que são fisicamente, pessoas que (pelo menos assim dizem) não estão preocupadas com a imagem, a aparência, que dizem não se importar com as rugas, os quilos a mais, os cabelos brancos. Mas creio que, de uma ou de outra forma, todos procuram um modo “confortável” de estar perante os outros, seja assumindo-se como são (porque isso é também, por si só, uma preocupação – a de estar de determinada forma decidida e assumida perante os outros), seja esforçando-se por ter uma aparência dita “na moda”. Sim, porque no que toca a expressões como “aparência cuidada”, a coisa já muda de figura, podendo levar a diferentes leituras. Afinal, o que é uma aparência cuidada? Creio que qualquer pessoa que se preocupe em manter um determinado corte de cabelo, em aparecer de rosto escanhoado, em decidir vestir esta e não aquela roupa... traz em si uma preocupação com a aparência. E é tudo, então, bastante relativo, neste aspecto como em tantos outros da vida.

A verdade é que quando verificamos uma mudança mais forte no visual de alguém, estranhamos, e isso acontece porque estamos a ver aquilo como uma “imagem” e deixamos de ver a pessoa por detrás da imagem. Fazemos logo uma espécie de julgamento à imagem. Senão vejamos: porque tinha o cabelo loiro, castanho, preto... e não ruivo; tinha a pele mais morena, mais envelhecida... e não tão pálida, tão lisa; era mais gorda, mais flácida... e não tão magra e com tudo no sítio. O problema é que temos uma imensa necessidade de fazer comparações, de ter referências. E ao comparar estamos a dizer: “vês? ela também não está nova / fez uma plástica para esconder a idade / está gorda / tem barriga / tem celulite.

Actualmente, não há lei para a “imitatio”. Diria mesmo que reproduzir está na moda, e isso reflecte grande falta de criatividade... e revela muitas mais coisas, que deverão ser alvo de análise numa outra oportuna ocasião.

A imagem comunica brutalmente e quase dispensa palavras. (“Palavras”: outra matéria em vias de extinção. Mas isso já será mote para outra discussão).

20 ANOS E 20 QUILOS DEPOIS, sou uma pessoa, fisicamente, diferente. Não que essas diferenças me incomodem, já que aprecio bastante o ser físico que sou. Mas sou, essencialmente, uma pessoa diferente no meu ser – não na essência do que sempre fui – mas no que me foi acrescentado no SABER (não digo conhecimento, pois isso será outra questão). Essas são as verdadeiras mudanças que o tempo opera em nós. Esperemos que seja para melhor.

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