ANABELA BORGES |
SER PROFESSOR, tal como ser outras profissões, requer determinados requisitos. Não é para qualquer um.
O professor faz caminhos de permanente itinerância, em vários sentidos: caminhos de aprendizagem, caminhos de cidadania, caminhos de liberdade; caminhos de escola-em-escola, de turma-em-turma, ano-a-ano, aluno-a-aluno.
Há quem, por brincadeira, compare essa fatal itinerância à vida do povo cigano, como fez o humorista Ricardo Araújo Pereira (RAP), numa crónica publicada em 2008, dizendo: “Esta gente opta por passar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro e a ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater. […] Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povo cigano”.
Também os escritores Valter Hugo Mãe e José Luís Peixoto se dedicaram a deixar umas palavras de apreço aos professores, em alturas em que as suas vidas vibram num valente sobressalto, com uma carreira em eterno congelamento e concursos que promovem as mais aberrantes injustiças. Valter Hugo Mãe diz que “é preciso salvar a escola pública. é preciso salvar os professores para que nos salvem os filhos e nos ajudem a continuar o sonho de um país melhor, mais integrador, mais igual, justo” (2013); por sua vez, José Luís Peixoto (2011) afirma que “Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. […] O trabalho dos professores é a generosidade”, concluindo que “Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado.”
Creio que generosidade é, de facto, um importantíssimo requisito para se ser professor. E creio mais ainda que a palavra MISSÃO é a que melhor define a profissão. Só assim se entende o trabalho diário do professor, nómada com memória de elefante e paciência de santo.
PACIÊNCIA é talvez o requisito de que o professor faz mais uso no seu dia-a-dia. Quem não tiver paciência, esqueça ser professor.
Nos braços do professor (que são mais dos que os do polvo) transporta-se uma imensidade de mundos, e fragmentos de vidas, múltiplas vidas, muitas vezes todas intrincadas umas nas outras, ficando a do professor para trás, muito para trás, até, muitas vezes, simplesmente se esquecer que (ele) tem também uma vida. Muitas vezes, o professor fica doente por carregar tantas vidas.
Não, SER PROFESSOR não é para qualquer um.
Porque, afinal, como também escreveu RAP, “Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas que escolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão ser colocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano de um aluno ou de qualquer um dos seus familiares”.
Bolas para quem ainda acha que é fácil ser professor!
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