ANABELA BORGES |
Como o próprio nome indica, um MEMORIAL
é uma chamada de atenção para a memória de alguma coisa. Geralmente, é criado
um memorial sobre a memória de uma pessoa que tenha morrido em circunstâncias
heróicas ou imprevisíveis, mas também se criam memoriais alusivos a eventos de
grande dimensão, que tenham representado um impacto positivo ou negativo na
sociedade.
Eu sempre gostei da palavra “memorial”:
é uma palavra que acorda, não adormece; é uma palavra que lembra, não esquece.
A palavra memorial abraça, amortece. Mas pode ser também uma palavra que
arrefece, a fazer lembrar as agruras, o terror, a maldade, a imprevisibilidade,
a fragilidade, a frugalidade.
A palavra “memorial” transporta a ideia
cristalina de memória:
que traz à memória;
lembrança;
homenagem;
intemporal;
espécie de luz que nunca se apaga.
As formas usuais de memoriais incluem
objectos de referência, ou objectos de arte, como esculturas, estátuas ou
fontes, e há memoriais que são monumentos, praças ou parques inteiros. Entre os
mais comuns memoriais estão as lápides ou as placas de homenagem, assim como os
memoriais de guerra, glorificando os que morreram em combate, como é caso do famoso “soldado desconhecido”
espalhado um pouco por todo o mundo.
Hoje em dia, começa a ser comum, na
realidade paralela que caminha connosco o esplendor e o sensabor dos dias,
encontrar memoriais online, quer em
alusões por meio de imagens, fotografias e símbolos, quer na forma de textos,
permitindo à família e aos amigos, ou às pessoas anónimas, interagir e
partilhar as memórias referentes àquele ser ou acontecimento.
Plantar uma árvore em memória de alguém,
como a singela oliveira do Saramago, é também um memorial. E, em certos lugares
do mundo, quando morre um estudante, os seus memoriais podem ser revertidos na
forma de uma bolsa de estudos, a ser concedida a alunos com bom desempenho nos
anos seguintes. Há, por isso, memoriais de vários géneros e feitios espalhados
pelo mundo.
DR |
É claro que todo este andamento em torno
da palavra memorial achegou-se-me à ideia por casa do fatídico 11 de Setembro,
que é hoje, o hoje de há 16 anos.
O National
September 11 Memorial & Museum, também conhecido como “9/11 Memorial Museum”, é um memorial
megalómano construído em homenagem às vítimas do maior atentado terrorista de
que há memória. O colapso do World Trade Center deixou um eco de indignação, um
rumor do tamanho do mundo, um grito impossível de conter. Uma cicatriz gigante.
E vazio. Ponto zero – groud zero. Construído
com fragmentos do que sobrou, este memorial relembra o que (lá está, em jeito
de contradição com o tema desta modesta reflexão, mas por razões obvias) não gostaria
de estar aqui a evocar: as últimas mensagens de voz das vítimas, fotografias variadas,
o som das sirenes dos bombeiros; sapatos cobertos de pó dos que se escoaram
naquele abismo. Há-de ser arrepiante, pelo que representa mas também pelo que
foi criado em cima dessa(s) horrenda(s) memórias, um memorial gigantesco, como
(quase) tudo o que os norte-americanos fazem.
DR |
Memoriais – apelos à memória – para não
esquecer: a representação de um sistema supostamente ordenado que, por algum
motivo, perdeu o contacto com a razão natural e humana.
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