sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O PECADO DO ENVELHECIMENTO

 “Quanto mais envelhecemos, mais precisamos de ter coisas para fazer. Mais vale morrer do que nos arrastarmos na ociosidade uma velhice insípida: trabalhar é viver.” Voltaire

LUÍS PINHEIRO
Envelhecer… Tendo a pensar que em termos gerais, a maioria de nós, têm um medo bastante real do processo de envelhecimento. Mas porquê? Porque teremos medo de algo que é natural? A resposta pode ser mais complicada do que parece. Vivemos numa sociedade que apresenta um conjunto de padrões de imagem muito criteriosos, em que tudo gira à volta do ser belo, onde a juvenilidade transpira beleza. Como podemos envelhecer saudavelmente sabendo que a beleza tende a deixar o nosso corpo?

Estruturalmente, a nossa sociedade ainda não conseguiu aproveitar o grande potencial das pessoas mais velhas, ainda as trata como se fossem algo a mais, como se a sua longevidade fosse um fardo que todos nós, os jovens, tenhamos de carregar. Como podemos envelhecer saudavelmente sabendo que podemos vir a ser um fardo?

Aos nossos idosos é-lhes retirado tudo, a sua ocupação, a sua voz interventiva, a sua participação na família, parece que, ao passar dos anos, tendem a ficar incapazes de gerir a sua vida, a sua família e o seu futuro. A violência institucional para com os idosos é gravíssima e é premente uma resposta social. Como podemos envelhecer saudavelmente sem voz?

Depois de entrar na reforma (um direito irrevogável de um trabalhador) aos idosos começa a ser retirado, aos poucos, o resto da sua participação, porque a sociedade impõe um código de conduta aos idosos, daquilo que eles podem e não podem fazer.

A institucionalização, em alguns casos, começa a ser a única solução que a família vê, contudo as instituições ainda falham na aceitação do idoso, enquanto individuo, com as suas regras castradoras. Nas estruturas Residenciais para Idosos, os utentes perdem a sua autonomia e muitas outras características, os afetos e a sexualidade entre eles é quase proibida, porque mais uma vez a sociedade acha que a sexualidade e o afeto é algo associado aos jovens, mas não, é uma característica transversal à nossa vida. Contudo é importante salientar que já começam a aparecer instituições que contrariam esta corrente.

Não nos podemos esquecer do papel importantíssimo que os idosos têm, eles são as enciclopédias vivas da nossa sociedade. Na antiga Roma, os cidadãos mais idosos eram considerados anciões e tinham uma posição social bastante privilegiada. Noutras civilizações antigas o mesmo acontecia, onde esta camada da sociedade era aproveitada e respeitada. O que aconteceu entretanto?

Com esta realidade, é normal termos medo de envelhecer, porque já sabemos o que nos espera, infelizmente, o envelhecimento já ascendeu do medo, é um pecado que todos nós sabemos que vamos cometer mas não queremos. É necessária uma mudança de paradigma, uma mudança de políticas, medidas que estejam realmente ao serviço das pessoas.

É necessário uma atualização das instituições que trabalham com os idosos, não é só importante que eles sejam alimentados e higienizados, é igualmente importante que eles contribuírem para o meio que estão inseridos, que sejam estimulados cognitivamente para diminuir o avanço das doenças… e mais importante de tudo temos que respeitar a sua individualidade. Os indivíduos são mais diferenciados quando idosos do que o eram em crianças. As crianças tendem a ser bastante parecidas entre elas, ainda estão a desenvolver a sua personalidade, não tem historia, têm poucas aprendizagens, o idoso por seu lado tem uma experiencia de vida muito vasta, muitas aprendizagens, muita vida, por isso nunca tratem os idosos como se eles fossem uma massa cinzenta e uniforme.

Já evoluímos tanto em tão pouco tempo, mas o caminho é longo e cheio de desafios. É necessário mudar.

Eu tenho medo, mas não é de envelhecer, é de viver numa sociedade que me retire o valor, a voz política, social e profissional. Não vejo maneira mais insípida de se viver do que sobreviver sem um propósito. Não condenem à morte os nossos idosos quando eles ainda estão vivos.

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