domingo, 3 de setembro de 2017

BITAITE PÓS-MODERNO

MOREIRA DA SILVA
Este ano não vamos ter a “silly season” (época de escassez de notícias), porque não vai ser possível o abrandamento da atividade política, em virtude de estar próxima a data das eleições autárquicas e não consentir que os políticos gozem as suas férias nem permitir que possam ir a banhos, a não ser para fazerem umas pequenas incursões pelas nossas praias, para fazerem campanha. Os políticos já se encontram na estrada a propagandearem as suas propostas, pois o ato eleitoral é no próximo dia 1 de outubro, que é já ali ao virar da esquina.

Como gostamos muito de importar expressões anglicanas, para que o conteúdo do texto fique mais requintado, a expressão “silly season” é muito utilizada no jornalismo e no mundo da política doméstica. Todos anseiam esse período para retemperar energias para a época seguinte, só que nem todos vão usufruir desse privilégio, como é o caso dos líderes partidários e outros políticos, assim como os muitos candidatos às câmaras municipais, assembleias municipais e assembleias de freguesia.

Outra expressão anglicana muito (mal) utilizada no jornalismo é a expressão “soundbytes” ou “sound bytes”, principalmente quando se quer mencionar um comentário ou opinião rápida e corrosiva feita por um político. Sem necessidade nenhuma, pois poderá ser utilizada uma palavra portuguesa que é o “bitaite” (uma frase muito curta e repetida, que deverá sintetizar o pensamento do político atual).

Sempre se utilizou o bitaite na política, só que agora está muito na moda, como a expressão “Não podemos geringonçar”. É o bitaite pós-moderno que também é muito utilizado no marketing político, como se tem verificado nos cartazes de campanha eleitoral que se têm visto a ornamentar horrorosamente as ruas e as estradas do nosso país. Muitos desses bitaites têm dado que falar e até se transformaram em bitaites castiços, como são os exemplos seguintes que podem ser degustados com algum prazer:

- “Chiça, Porra que é demais! 40 anos o mesmo?! É urgente mudar! o-Novo-Montemor”;

- “Sonhar é preciso”;

- “E porque não…”;

- “Pela Branca, tudo claro como a água”;

- “Eu sou a Cris mas podes chamar-me Salomé”.

Este último tipo de bitaite está a ser usado até à exaustão por diversas candidaturas autárquicas encabeçadas por mulheres e têm-se transformado em autênticos pelourinhos deprimentes. É a mensagem política que continua a descer a um nível nunca antes pensado. 

Os atores políticos que adoram a visibilidade mediática, o espetáculo mediático e também as cambalhotas políticas são os melhores utilizadores dos bitaites, pois consideram que são ferramentas simples e eficazes de manipulação e ajudam os jornalistas a construírem as “caixas” para as notícias do seu jornal.

Os órgãos de comunicação social têm demonstrado uma insaciável necessidade de vendas e querem multiplicar a sua audiência, por isso também têm usado e abusado do bitaite. É a ética do indesejável.

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