MOREIRA DA SILVA |
Como gostamos muito de importar expressões anglicanas, para que o conteúdo do texto fique mais requintado, a expressão “silly season” é muito utilizada no jornalismo e no mundo da política doméstica. Todos anseiam esse período para retemperar energias para a época seguinte, só que nem todos vão usufruir desse privilégio, como é o caso dos líderes partidários e outros políticos, assim como os muitos candidatos às câmaras municipais, assembleias municipais e assembleias de freguesia.
Outra expressão anglicana muito (mal) utilizada no jornalismo é a expressão “soundbytes” ou “sound bytes”, principalmente quando se quer mencionar um comentário ou opinião rápida e corrosiva feita por um político. Sem necessidade nenhuma, pois poderá ser utilizada uma palavra portuguesa que é o “bitaite” (uma frase muito curta e repetida, que deverá sintetizar o pensamento do político atual).
Sempre se utilizou o bitaite na política, só que agora está muito na moda, como a expressão “Não podemos geringonçar”. É o bitaite pós-moderno que também é muito utilizado no marketing político, como se tem verificado nos cartazes de campanha eleitoral que se têm visto a ornamentar horrorosamente as ruas e as estradas do nosso país. Muitos desses bitaites têm dado que falar e até se transformaram em bitaites castiços, como são os exemplos seguintes que podem ser degustados com algum prazer:
- “Chiça, Porra que é demais! 40 anos o mesmo?! É urgente mudar! o-Novo-Montemor”;
- “Sonhar é preciso”;
- “E porque não…”;
- “Pela Branca, tudo claro como a água”;
- “Eu sou a Cris mas podes chamar-me Salomé”.
Este último tipo de bitaite está a ser usado até à exaustão por diversas candidaturas autárquicas encabeçadas por mulheres e têm-se transformado em autênticos pelourinhos deprimentes. É a mensagem política que continua a descer a um nível nunca antes pensado.
Os atores políticos que adoram a visibilidade mediática, o espetáculo mediático e também as cambalhotas políticas são os melhores utilizadores dos bitaites, pois consideram que são ferramentas simples e eficazes de manipulação e ajudam os jornalistas a construírem as “caixas” para as notícias do seu jornal.
Os órgãos de comunicação social têm demonstrado uma insaciável necessidade de vendas e querem multiplicar a sua audiência, por isso também têm usado e abusado do bitaite. É a ética do indesejável.
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