JORGE NUNO |
Portugal sempre a surpreender! Uma notícia da TVI24, do dia 6 deste mês, dava conta que Portugal surge no ranking “Expat Insider”, da Internations, como o quinto melhor país do mundo para as pessoas que saem do seu país e decidem ir viver e trabalhar para outro. Num conjunto de 65 países mundiais, é mesmo considerado o melhor de todos a nível europeu! Teve uma subida surpreendente, pois em 2016 encontrava-se em 28.º lugar, entre os mesmos 65 países. Igualmente surpreendente é o facto de, ao nível de qualidade de vida, também estar no topo do ranking e igualmente “em primeiro na forma como os expatriados se sentem bem recebidos”. Decididamente, os portugueses são um povo generoso e que irradia simpatia.
Foi evidente essa generosidade com a desgraça alheia, quando ocorreram os descontrolados incêndios deste verão no centro do país. No final de julho falava-se no apuramento de cerca de 13, 14 ou… 15 milhões de euros, quando também se dizia terem sido recolhidos 24 milhões de euros. Isto, depois de se registar de imediato uma enorme onda de solidariedade e terem sido abertas cerca de duas dezenas de contas solidárias. Em 5 de setembro, os jornais “i” e “negócios” noticiavam que os autarcas dos três concelhos mais afetados questionavam para onde terá ido esse dinheiro, deixando no ar a suspeição que terá havido desvio de verbas. Também lhes parece evidente a falta de controlo por parte de entidades oficiais [do Estado], já que não há um número definitivo e oficial. Foi mesmo defendido que o Ministério Público deveria investigar “as contas abertas para recolha de fundos para as vítimas e o destino que lhes estava a ser dado”, devendo envolver-se o Banco de Portugal, para se saber quais as entidades envolvidas, os montantes movimentados e respetivo destino do dinheiro. Alegam também que as contas abertas no estrangeiro são ainda mais difíceis de controlar, receando desvios, pelo que deve haver investigação e dadas as devidas respostas às questões levantadas. Imediatamente, o presidente da República veio a público referir que quer ver este assunto esclarecido.
Os números que circulam são os seguintes:
– a União de Misericórdias terá recolhido cerca de 1,2 milhões de euros, depois noticiado, numa peça da TVI, como sendo 1,8 milhões, com conta solidária na Caixa de Crédito Agrícola, de que terá prestado uma ajuda de 12 mil euros;
– a Cáritas de Coimbra conseguiu cerca de 900 mil euros, noticiado depois como tendo angariado também 1,8 milhões de euros, através da conta solidária no Novo Banco, e terá gasto 100 mil euros em ajuda, encontrando-se 1,3 milhões de euros cativos na Cáritas de Coimbra devido a compromissos com o REVIVA – um fundo de solidariedade para coordenar a entrega de verbas, criado pelo governo de Portugal –;
– o REVIVA terá recebido 2 milhões de euros de contas solidárias no BCP, Santander Totta, Montepio Geral e BPI, faltando regularizar 3 milhões de euros, num total de 5 milhões de euros;
– a Fundação Calouste Gulbenkian é depositária de 3,6 milhões de euros, com conta solidária na CGD, que articula a intervenção com o fundo REVITA;
– a Associação Portuguesa de Seguros angariou 2,5 milhões de euros e terá efetuado compensações de 1,5 milhões de euros.
Quanto à intervenção do Fundo REVITA, não terá sido possível quantificar a ajuda prestada até ao momento e foi anunciado que os gastos estarão sujeitos a auditorias externas.
A disparidade dos números apontados fala por si. Entretanto, no terreno, há queixas quanto à falta de celeridade e não chegada dos apoios esperados e anunciados, mesmo que por ali prestem auxílio, na reconstrução, uma imensidão de voluntários e muitos arquitetos e outros profissionais da construção civil.
Enquanto se aguarda:
– por desenvolvimentos no que toca a apuramento de responsabilidades (falhas do SIRESP, MAI, GNR, Proteção Civil, Bombeiros, eventual desvio de verbas…);
– pelos efeitos práticos dos tribunais na condenação dos mais de cem incendiários, reincidentes ou não, detidos pela PJ e, provavelmente, sujeitos apenas a prisão domiciliária, com pulseira electrónica, em tempos de época de maior risco de incêndios florestais;
– pela reconstrução das casa ardidas e redesenho do território florestal;
– pelo refazer do tecido empresarial e pela retoma da economia e empregabilidade na região…
é possível centrar a atenção noutro tipo de estoicidade e capacidade de sofrimento e de entrega dos portugueses, e por que não enaltecer os feitos gloriosos e, mais uma vez, surpreendentes, de atletas portugueses em diversas provas recentes?
– Inês Henriques, aos 37 anos, sagrou-se campeã do mundo, em Londres, e bateu recorde nos 50 km marcha, com o tempo de 4h 05m 56 s;
– Fernando Pimenta, um minhoto de Ponte de Lima, no espaço de dois dias, sagrou-se vice-campeão do mundo em canoagem K1 1000 metros e campeão do mundo em K1 5000 metros, provas que decorreram na República Checa;
– A seleção de Portugal de hóquei em patins sub-17 sagrou-se campeã europeia, em Itália, ganhando o 14.º título em 37 edições da prova e, a de sub-20, sagrou-se tricampeã do mundo, na China, liderando o ranking de vitórias em campeonatos do mundo, na categoria;
– Ricardo Pinto sagrou-se campeão do mundo em patinagem artística, na categoria de dança solo; Pedro Walgode, conseguiu a medalha de bronze na mesma categoria e a irmã, Ana Walgode, sagrou-se vice-campeã feminina, “tornando-se a primeira mulher a conseguir uma medalha num campeonato do mundo em dança solo sénior”. Este campeonato mundial decorreu na China;
– Vanessa Fernandes, medalha de prata na prova de triatlo nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, venceu a primeira edição do Ironman 70.3 Portugal, em Cascais, com o tempo de 4h 33 m 12 s. Trata-se de uma modalidade extremamente exigente, composta por natação (1900 m), ciclismo (90 km) e corrida (21,1 km). Nesta prova houve um recorde de 2200 triatletas de 66 nacionalidades, havendo 72% de estrangeiros. O próprio presidente da Federação de Triatlo revelou mostrar-se surpreendido com estes números, e a campeã portuguesa – que fez uma “longa travessia no deserto” –, emocionada à chegada, deixou transparecer ter ganho uma alma nova, entendendo o feito como “um recomeço de uma nova carreira”.
Disse Sally L. Smith, no seu livro “Vencer na Adversidade”: O pensamento positivo revigora as forças. Faz-nos concentrar no melhor que temos dentro de nós e ficar abertos a possibilidades infinitas”.
Em Ponte de Lima, na habitual animação nortenha, juntaram-se 897 tocadores de concertina, a tocar ao mesmo tempo a mesma música popular; bateram um novo recorde mundial do Guiness, que pertencia a Vila Verde (Braga). Em Castelo Branco, depois de uma corrida solidária muito participada, surge agora a Meia Maratona (21 km) designada “Corrida da Felicidade”.
Independentemente de outros terem comportamentos desviantes… há que ter presente o refrão da canção coimbrã, na voz de Luiz Goes: “É preciso acreditar! É preciso Acreditar!”. E podemos acreditar que Portugal e os portugueses continuarão a surpreender, cada vez mais, pela positiva.
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