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HÉLDER BARROS |
Esta fotografia dos anos 80/90, com destaque para o Pai dos meus amigos Alfredo e Zé da Costa, que herdaram a simpatia, o espírito e o bom humor do seu progenitor. O Senhor Costa um verdadeiro Senhor na verdadeira aceção da palavra, foi mais um exemplo soberbo, dos frequentadores de grande qualidade humana e cultural deste pequeno café, nas suas reduzidas dimensões físicas, mas de grande quilate na qualidade dos diálogos espontâneos que ali despontavam, entre seres humanos da ordem do maravilhoso. Claro que esta imagem me traz boas recordações. O Meu pai, O Sr. Natal, o Sr. Olegário Rosa, o Sr. Monteiro, o Professor Gonçalves e Professora Salomé, o Sr. Guilherme do Campo da Feira, o Sr. Leitão, o Riqueza, o Dino, o pessoal do Moura Basto e da Vidraria São Pedro, a malta da Torre, o Sr. Costa, o Sr. Cândido e o Sr. Otávio... entre muitos, que seria fastidioso estar a citar... e os sócios, senhores Luís e Moura, que sabiam regrar, apimentar e açucarar, conforme as situações assim o exigiam, um ambiente masculino num registo tenso, mormente, no que às divisões dos afetos clubisticos dizia respeito.
Aquele pequeno Café, “O Nosso Sonho”, uma quimera que dois sócios concretizaram, era quase que a Sede da Torre, dado que todo o pessoal afeto, se encontrava lá, numa altura em que não havia ainda a FADA (Federação das Associações Desportivas de Amarante), mas existiam grandes despiques de futebol de 5, no campo polidesportivo da florestal, onde hoje são as piscinas; quem da minha geração, não recorda com saudade, os animados encontros de futebol de 5 que ali se disputaram... na época estival, em que o futebol nacional e regional paravam, para se concretizar todo ali em noites mágicas de excelente futebol e animado convívio... às vezes também havia sessões de pancadaria, entre clubes rivais, mas acabava sempre tudo bem!
O Café dos sócios, Sr. Luís e do Sr. Moura, ponto de alegres tertúlias, animados e disputados jogos de bilhar, jamais sairá das minhas lembranças. O Machado de Fregim, disputava com jogos psicológicos de picardias constantes em forma de diálogo num registo de gozo, e com a sua excelente técnica de bilhar, cada partida com grande suspense... foi um Café importante da Amarante da altura, interclassista e intergeracional, e de muitos encontros e afetos, da malta da margem direita do Tâmega! Aprendi ali a jogar bilhar, primeiro vendo os craques em partidas disputadíssimas, depois começando a jogar com o meu falecido Pai, que também era craque do bilhar.
A própria estrutura física do café propiciava o convívio: localizava-se na esquina onde é hoje o Novo Banco, local onde paravam as camionetas do Alberto Pinto, que eu apanhava quando vinha da escola para Fregim, a sua sala pequena, impossibilitava que as conversas não fossem gerais, todos se cumprimentavam e se falavam, não se vivia a indiferença dos dias atuais... a sua porta aberta na esquina, quase que impelia à entrada das pessoas no café, se chovia era o abrigo, se fazia sol continuava a sê-lo... portanto, era um café onde entravam e conviviam todas as classes sociais, que inevitavelmente cruzavam conversas, com todo o tipo de pessoas.
Hoje, já não conheço cafés assim, as pessoas já não conversam para que todos ouçam, andamos todos muito metidos connosco, ensimesmados com as nossas vidas stressantes, quase paranóicas. Estes cafés desempenhavam, informalmente, o papel de centros culturais, de sedes de associações de índole diverso e eram centros de convívio privilegiados, onde se faziam amizades, negócios, onde se jogava, se tomava café, se bebia, se liam os jornais do dia, mas em que sempre imperava a boa disposição e a amizade; sim, conheci ali amigos, ainda hoje não quebramos esses laços de amizade bem fundos, do tempo do “Nosso Sonho”!
E fui um privilegiado ouvinte do Sr. Natal, um homem magro e pequeno, mas com uma inteligência rara e gigantesca, que desempenhou cargos de enorme importância, na então Vila de Amarante. Apesar da sua dimensão de Homem de grande cultura, misturava-se nas mesas do café e lá dava belas lições de vida e de história, que qualquer ouvinte “bebia” na justa medida, do que queria e do que podia acompanhar. E como era humilde o Sr. Natal, nunca levantava a voz e se punha em pontas dos pés; a sua serenidade transmitia verdade e significado, expressos nas suas sábias palavras.
Os irmãos Monteiro, retornados, eram igualmente fantásticos oradores, que nos remetiam para as paisagens Africanas, nas suas fabulosas recordações daquele enorme e rico continente, gente que trazia a mente muito mais aberta que o comum dos mortais em Amarante. O Sr. Olegário Rosas um prosador entusiástico a par do Brasileiro, Sr. Pinto Coelho, que conversavam sempre com um toque de humor rematando as suas preleções com estridentes gargalhadas. Enfim, um café pequeno, talvez à dimensão do sonho de quem o criou, mas que extravasou muito as reais expetativas iniciais dos empreendedores e dos clientes que começaram a frequentar aquele pequeno café da Vila de Amarante, em santa Luzia, na esquina que nos leva em direção a Vila Meã e, durante aqueles tempos, para o Porto. Tempos em que se podia estacionar o carro tranquilamente à porta de um café, deixa-lo aberto, tomar um café ou uma bebida, falar com os donos, empregados e clientes, num alegre e sadio convívio... Vila de Amarante anos 80!»
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