GABRIEL VILAS BOAS |
Guterres e Durão Barroso – ambos chefiaram o governo português, ambos saíram do cargo antes do tempo por vontade própria, ambos ocuparam lugares de destaque a nível internacional, mas a comparação deve ficar para aí, porque tudo o resto os distingue, sobretudo a nível ético. Durão procurou subir nada vida, Guterres procurou cumprir a vida.
Há uns dias, soube-se que Durão Barroso ia ocupar um cargo de relevo na Goldman Sachs, o banco mais odioso do mundo, onde os lucros atingem número pornográficos face às dificuldades económicas que muitos povos sentem; ontem soube-se que António Guterres venceu a primeira etapa da corrida ao cargo Secretário-Geral da ONU. Ainda haverá mais três, até Outubro, altura em que os países que formam o Conselho de Segurança decidirão quem liderará a ONU, nos próximos anos.
Os primeiros resultados, ainda que preliminares, são muito animadores: 12 dos 15 votantes, decidiramencorajar António Guterres a prosseguir a sua candidatura e nenhum se pronunciou contra ele.
As candidaturas melhor posicionadas são aquelas que revelam um conhecimento profundo dos projetos das Nações Unidas, como é o caso de António Guterres que nos últimos dez anos foi o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Guterres parte para esta corrida, ao mais alto cargo da ONU, com elevadas expectativas, fruto do excelente trabalho que realizou no ACNUR, mas também com uma enorme óbice: a vontade de muitos países em eleger uma mulher como Secretária-Geral da ONU.
Apesar desta contrariedade, o antigo primeiro-ministro português não se encolheu e mostrou, no primeiro debate entre candidatos, que era o mais bem preparado, o que veio a ser confirmado por esta votação preliminar. Por outro lado, Guterres firma a sua candidatura em propostas consistentes e válidas e não apenas no curriculum.
O homem que abandonou o poder em Portugal no início deste século propõe duas grandes medidas: a reformulação do Conselho de Segurança e a paridade entre homens e mulheres, nos cargos das Nações Unidas. Com a segunda proposta, Guterres pretende sensibilizar todos aqueles que acham que agora chegou a vez de uma mulher presidir aos destinos da ONU; com a primeira proposta Guterres dá mostra de querer mudar a configuração do poder na ONU de molde a dotá-la de uma intervenção mais eficaz nos grandes problemas que afligem os povos.
E, indubitavelmente, a grande questão da atualidade é o problema dos imigrantes que entraram na europa e que ninguém quer receber. Como antigo ACNUR, Guterres é a pessoa mais qualificada para liderar a resolução deste problema.
Como escreveu recentemente o “The Guardian”, António Guterres tem o perfil mais adequado para o cargo, até porque é um orador eloquente e apaixonado, que sente verdadeiramente os problemas dos mais vulneráveis, das mulheres e das crianças. Guterres é um pacificador nato.
Os portugueses podem achar o antigo secretário-geral do PS algo mole para governar Portugal, mas todos lhe reconhecem atributos humanos e técnicos de grande categoria. Sabem que o seu interesse pelas pessoas não é circunstancial nem fingido e que o cargo de Secretário-Geral da ONU lhe assenta na perfeição, pois têm a certeza que ele lutará para acabar com todas as grandes ameaçam que cercam a paz mundial: o racismo, a xenofobia, a islamofobia, o antissemitismo, o egoísmo, o materialismo.
Ainda é cedo para cantar vitória, mas Guterres é um dos poucos políticos de que Portugal se pode orgulhar pela sua ação além-fronteiras; um homem que honrará os valores humanistas que fazem parte da matriz nacional.
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