SÓNIA CARVÃO |
Neste
mundo confuso, o homem está situado no centro de si mesmo, não aprende a
observar e, se não sabe observar não saberá transferir para a criança o que é
para observar. Comecemos por dizer que filosofar como actividade na educação
básica e seguintes, é reconhecer que se trata de um pensamento dialógico
imprescindível para o desenvolvimento da geração futura e só o poder inclusivo
será capaz de tomar as rédeas, que tem como três esferas, de quais nos fala Martin
Buber, em “Eu-Tu”: as três esferas da
vida em que todos são contemplados (árvores, humanos, não-humanos) e somos nós
humanos, os únicos, a dar forma sensível e “inteligível”. No entanto, uma delas
– a inteligível - poderá ser tocada
pelo espírito. Isso só se consegue pela
inclusão no diálogo, sendo a inclusão outra ferramenta. Ou seja, um feijoeiro
só cresce se for semeado. Na terra foi incluído um feijão, sendo esse cuidado.
Aquele que o semeia é responsável pelo que semeia. Este é o sentido, o espírito
que se orienta em primeira instância pela relação “Eu –Isso “ ( M.B.) , e
realiza -se a caminho da relação “Eu
–Tu (M.B.) e a vida é tudo isto”. A vida é também o ler um conto em
silêncio, depois em voz alta e ver que o pássaro – o Grande- diz que a vida dos
humanos não é nada sem natureza e que não entende as incapacidades dos humanos
quando lidam com o mundo que os rodeia. A inclusão “ é ver , é dar mais valor “.
Inclusão é compreender que “ a vida é uma unicidade (…) mas o homem esquece que
a vida humana sem os rios, os mares , as árvores, as flores(…)” é o “Outro” ( M.B.) importante para ele porque “um é o
reflexo do outro” e “ aquele
que não respeita o pássaro , a árvore,
os rios, não se ama a si próprio, nem ao
outro igual e, muito menos sabe ver a beleza simples das coisas.” O
que nos leva a dizer que aquele que não é tocado pelo espírito jamais entrará
na terceira esfera e desviar-se-á da
totalidade. A saber, dar e receber não é reciprocidade e inclusão não é empatia
como Martin Buber nos diz em “Between man and man”, mas sim “ver o que está à
frente dos nossos olhos” e nem tanto
a lógica das coisas. Nem tanto isso
porque “ver claro é um valor maior do que a exactidão e o Homem anda sempre à
procura da exactidão”. O olhar o
outro nos olhos e ver a sua alma seja humano ou não – humano. O núcleo é a
incumbência da efectuação e do reconhecimento do caracter único numa linha
dialógica. O sentido é escapar ao individualismo sendo esse sentido, plasmado pela alteridade. Ou seja, o reconhecer o outro nele
mesmo, na sua autenticidade, como já referimos, a saber, a “inclusão”. A
inclusão é a essência da relação dialógica, seja com o Humano, com o não –
humano ou com a natureza. Aqui, paramos novamente para analisar e decidir se a
ferramenta é o sentido ou é a inclusão que plasma para uma educação de carácter.
Definitivamente pensamos serem várias as ferramentas. Mas, a inclusão, é onde
se inscreve todo o desenlace que leva ao sentido. Logo, pensamos que seja a
inclusão, a ferramenta que leva ao sentido da vida, que leva ao encontro
genuíno, i.e., ao diálogo dialógico. Deste modo, a educação de carácter faz-se
neste caminho ocupando-se do outro na sua totalidade. Mas como chegar à inclusão,
para além de ousar de plasticidade e autenticidade?
Excerto
retirado da “(Metodologia da obra ‘ A Ferramenta Que Faz os Contos’ )” de Sónia Marques Carvão . (as citações estão
devidamente referenciadas na Metodologia que está à venda na Bertrand ‘online’
e na Livraria Desassossego da Chiado Editora. A Metodologia expõe algumas das
suas sessões da actividade Filosofia Com Crianças sobre o livro de Contos “ A
Ferramenta Que Faz os Contos” .
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