terça-feira, 19 de julho de 2016

INCLUSÃO

SÓNIA CARVÃO
Neste mundo confuso, o homem está situado no centro de si mesmo, não aprende a observar e, se não sabe observar não saberá transferir para a criança o que é para observar. Comecemos por dizer que filosofar como actividade na educação básica e seguintes, é reconhecer que se trata de um pensamento dialógico imprescindível para o desenvolvimento da geração futura e só o poder inclusivo será capaz de tomar as rédeas, que tem como três esferas, de quais nos fala Martin Buber, em “Eu-Tu”:  as três esferas da vida em que todos são contemplados (árvores, humanos, não-humanos) e somos nós humanos, os únicos, a dar forma sensível e “inteligível”. No entanto, uma delas – a inteligível - poderá ser   tocada pelo espírito.  Isso só se consegue pela inclusão no diálogo, sendo a inclusão outra ferramenta. Ou seja, um feijoeiro só cresce se for semeado. Na terra foi incluído um feijão, sendo esse cuidado. Aquele que o semeia é responsável pelo que semeia. Este é o sentido, o espírito que se orienta em primeira instância pela relação “Eu –Isso “ ( M.B.) ,  e  realiza -se a caminho da relação  “Eu –Tu (M.B.) e a vida é tudo isto. A vida é também o ler um conto em silêncio, depois em voz alta e ver que o pássaro – o Grande- diz que a vida dos humanos não é nada sem natureza e que não entende as incapacidades dos humanos quando lidam com o mundo que os rodeia. A inclusão “ é ver , é dar mais valor “. Inclusão é compreender que “ a vida é uma unicidade (…) mas o homem esquece que a vida humana sem os rios, os mares , as árvores, as flores(…)” é o “Outro”  ( M.B.) importante para ele porque “um é o reflexo do outro eaquele que não respeita  o pássaro , a árvore, os rios, não se ama  a si próprio, nem ao outro igual e, muito menos sabe ver a beleza simples das coisas.  O que nos leva a dizer que aquele que não é tocado pelo espírito jamais entrará na terceira esfera e  desviar-se-á da totalidade. A saber, dar e receber não é reciprocidade e inclusão não é empatia como Martin Buber nos diz em “Between man and man”, mas sim “ver o que está à frente dos nossos olhos” e nem tanto a lógica das coisas. Nem tanto isso porque “ver claro é um valor maior do que a exactidão e o Homem anda sempre à procura da exactidão”. O olhar o outro nos olhos e ver a sua alma seja humano ou não – humano. O núcleo é a incumbência da efectuação e do reconhecimento do caracter único numa linha dialógica. O sentido é escapar ao individualismo sendo esse sentido, plasmado pela  alteridade. Ou seja, o reconhecer o outro nele mesmo, na sua autenticidade, como já referimos, a saber, a “inclusão”. A inclusão é a essência da relação dialógica, seja com o Humano, com o não – humano ou com a natureza. Aqui, paramos novamente para analisar e decidir se a ferramenta é o sentido ou é a inclusão que plasma para uma educação de carácter. Definitivamente pensamos serem várias as ferramentas. Mas, a inclusão, é onde se inscreve todo o desenlace que leva ao sentido. Logo, pensamos que seja a inclusão, a ferramenta que leva ao sentido da vida, que leva ao encontro genuíno, i.e., ao diálogo dialógico. Deste modo, a educação de carácter faz-se neste caminho ocupando-se do outro na sua totalidade. Mas como chegar à inclusão, para além de ousar de plasticidade e autenticidade?

Excerto retirado da “(Metodologia da obra ‘ A Ferramenta Que Faz os Contos’ )” de  Sónia Marques Carvão . (as citações estão devidamente referenciadas na Metodologia que está à venda na Bertrand ‘online’ e na Livraria Desassossego da Chiado Editora. A Metodologia expõe algumas das suas sessões da actividade Filosofia Com Crianças sobre o livro de Contos “ A Ferramenta Que Faz os Contos” .

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